O relógio marcava 8h12 quando Júlia chegou à redação. O ar da manhã ainda trazia um frio leve, desses que anunciam a chegada do inverno, e o café forte na caneca da recepcionista parecia um convite para começar o dia. As luzes brancas, o som dos teclados e o vaivém apressado de jornalistas davam ao ambiente um ritmo próprio, quase como um coração batendo fora do peito.
Júlia estava diferente. O cabelo, antes solto, agora vivia preso em um coque improvisado. O olhar, que costumava se perder nas lembranças, aprendia a se fixar em pautas, fontes e prazos. Fazia dois meses que ela havia saído de casa, e desde então, tudo o que restou foi o hábito de sobreviver.
A rotina havia se tornado sua trincheira.
A pauta da manhã: uma grande reportagem sobre irregularidades em obras públicas — matéria que, se conduzida com a precisão que ela tinha, poderia levá-la à promoção que tanto esperava.
Mas, mais do que isso, era algo que a mantinha respirando.
Trabalhar era esquecer.
Trabalhar era não senti