Três anos depois da partida de Guilherme, Júlia acreditava que tinha aprendido a respirar de novo.
Não era verdade, mas ela achava que era.
O tempo não cura — ele só organiza a dor para que ela caiba em lugares onde possamos escondê-la quando precisamos continuar vivendo.
E Júlia continuou.
Aprendeu a dormir sem esperar uma mensagem.
Aprendeu a olhar o celular sem sentir o coração socar o peito.
Aprendeu a rir de novo, mesmo que algumas risadas fossem apenas para o mundo, não para ela.
Mas dentro dela, um quarto permaneceu fechado.
Trancado.
Escuro.
Com uma única janela que dava para um verão do passado.
O verão em que ela acreditou para sempre.
Ela não abriu aquela porta.
Ela apenas passou a viver em torno dela.
A Viagem
A viagem a Buenos Aires não foi planejada.
Foi uma impulsão.
Um escape.
Uma amiga sugeriu:
— Vai. Muda de ar. Toma um vinho na Plaza Dorrego. Caminha pela Recoleta. Vê o mundo um pouco.
E Júlia foi.
Chegou na cidade em uma manhã dourada de final de primavera.
O vento