O tempo tem um som próprio.
Não o som dos segundos em um relógio, nem o dos dias passando no calendário — mas um som interno, quase imperceptível, que vibra dentro de quem espera.
Era esse som que Júlia ouvia naquela manhã nublada de domingo, uma semana depois de ter deixado a casa onde viveu por seis anos.
A cidade ainda dormia.
Amanda tinha saído cedo para resolver coisas do jornal, e o apartamento estava mergulhado em um tipo de silêncio que não era vazio — era cheio demais.
Cheio de lembranças, de dúvidas, de tudo que Júlia ainda não sabia como colocar em palavras.
Ela estava sentada na cama, as pernas cobertas por um cobertor leve, o cabelo preso de qualquer jeito, e os olhos fixos no nada.
Na mesa de cabeceira, o celular virado para baixo.
Fazia dias que ela não abria as mensagens.
Nem de Marcos.
Nem de Guilherme.
O tempo passava, e ela deixava.
Como se precisasse que ele a atravessasse inteiro antes de poder se mover de novo.
O quarto estava escuro. A cortina deixava entrar ape