Júlia saiu do restaurante em silêncio.A noite havia caído há horas, mas a cidade parecia ainda desperta, viva demais para a turbulência dela. As luzes dos postes refletiam no capô vermelho do seu carro — um Mercedes conversível que ela havia comprado no ano passado, não por vaidade, mas por simbolizar algo que ela demorou muito a conquistar:Independência. Conquista. Recomeço.Mas agora, ao se sentar no banco de couro, as mãos no volante, ela sentia que estava à beira de perder tudo aquilo novamente.Ligou o carro.Mas não acelerou.Respirou fundo, e só então colocou em movimento, vagando pelas ruas como quem dirige para fugir de si mesma.As avenidas passavam diante de seus olhos como cenas borradas — vitrines iluminadas, gente rindo nos bares, semáforos mudando de cor, ruas conhecidas demais.O coração dela, porém, não estava ali.Estava em 2007.Estava em uma praça.Estava naquela versão dela que nunca tinha aprendido a se defender.A Júlia de hoje era forte.Mas a Júlia que ele d
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