Capítulo 7 – Quando a Porta Se Abre

A rua estava quase deserta quando Júlia estacionou o carro em frente ao prédio.

O relógio no painel marcava 23h47.

A cidade parecia adormecida — mas o coração dela não.

Subiu as escadas devagar, cada passo pesado, como se o corpo soubesse que algo estava prestes a acontecer. Quando colocou a chave na fechadura, respirou fundo, tentando organizar pensamentos que simplesmente não queriam se deixar organizar.

A porta se abriu.

Marcos estava sentado no sofá da sala, sem televisão ligada, sem música, sem nada.

Só ele.

Ele a esperava.

Ele sempre esperava.

O olhar dele a encontrou no mesmo instante em que ela entrou.

Não havia raiva.

Não havia cobrança.

Havia apenas tristeza serena — aquela que dói mais do que qualquer grito.

— Júlia — ele disse, baixinho.

Ela fechou a porta atrás de si, encostando-se nela por um segundo, sentindo toda a força do mundo pesando em suas costas.

— Eu precisava dirigir um pouco — ela murmurou.

— Eu sei — Marcos respondeu. — Eu imaginei.

Ele levantou-se devagar.

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