A noite em Nova Petrópolis passava devagar. O vento frio que vinha das montanhas tocava a janela do quarto, batendo de leve, como se quisesse entrar, mas soubesse que ali dentro havia algo frágil demais para ser tocado. Júlia estava sentada na cama, os joelhos encostados no peito, a toalha ainda envolvida no corpo como se fosse uma armadura improvisada contra o mundo.
Ela tinha passado tanto tempo tentando ser forte que agora, quando finalmente estava sozinha, tudo desabava.
O celular estava ao lado dela, a tela apagada, como se fosse uma porta para um mundo que ela não queria abrir. Lá dentro existia uma vida inteira construída com Marcos. Conversas, fotos, risadas, planos, viagens, aniversários, datas lembradas. Um casamento que não tinha sido feito de restos — tinha sido feito de cuidado. Ele tinha sido bom para ela. Ele tinha sido amor. Ele tinha sido casa.
Mas havia um amor que veio antes.
Um amor que foi fogo antes de ser dor.
E quando fogo reencontra oxigênio, ele reacende.
Ela