A janela do quarto do hotel dava para a serra iluminada apenas pela lua. O vento daquela noite fria de Nova Petrópolis fazia as árvores balançarem de leve, como se sussurrassem histórias antigas. Guilherme estava sentado na poltrona, o copo de whisky na mão, deixando o gelo derreter sem pressa. Ele não estava ali para beber. Estava ali para lembrar.
Era a primeira vez, em doze anos, que ele pisava naquela cidade.
O mesmo lugar onde um dia amou e um dia fugiu.
A ironia era cruel — os destinos sempre sabem onde acertar mais fundo.
Ele respirou fundo, sentindo o cheiro da madeira antiga do hotel, misturado com um perfume distante de lavanda — cheiro de quartos que guardam histórias demais para contar. A mala continuava jogada perto da cama, aberta pela metade, como se ele mesmo ainda não houvesse decidido se estava chegando ou fugindo de novo.
Mas ele sabia por que tinha voltado.
E isso doía mais do que qualquer lembrança.
Ele viu Júlia.
E o mundo que ele construiu por cima da culpa simp