Mundo de ficçãoIniciar sessãoPara a recepcionista Érika Johnson aquele era mais um fim de expediente como qualquer outro onde ela iria finalizar o relatório, despedir os últimos alunos de Jiujitsu e finalmente partir, mas o que poderia ser diferente naquela tarde tão comum? Os alunos começaram a chegar às 12:00 cumprimentando-a e seguindo para o tatame onde o sensei os aguardava. Érika sorria, mantendo-se sempre atrás do balcão; tudo muito normal... Até o último aluno entrar sem cumprimentar, sem quimono e atrasado. O tempo parou enquanto ele passava. Os olhares se cruzaram. Algo dentro dela reagiu a presença silenciosa e atraente daquele homem. O coração palpitou e algo se movimentou ansiosamente em seu interior. Depois de anos sem sentir nenhum sinal de atração por alguém, traumatizada pela separação do casamento infeliz, ela mal podia acreditar que estava acontecendo... Alex Bahamonde estava em um nível de estresse absurdo e depois de enfrentar o maldito trânsito de Phoenix, o mau humor aumentou. Não é que odiasse a cidade, mas definitivamente preferia o campo e, com toda certeza, sentia-se melhor na companhia de animais que seres humanos; contudo, havia combinado com o melhor amigo e não faltaria ao treino que prometeu participar. Logo teria de retornar a fazenda e retomar a agenda de viagens que seguiria à risca para fazer novas parcerias e continuar faturando. Estava no topo e queria permanecer. Após uma eternidade para encontrar vaga no estacionamento e mais outro século para subir os degraus da academia cujo elevador estava em manutenção, sua bateria social gritava 0%. Contrariado, chegou ao tatame com a carranca e cansaço que quase não o permitia a boa etiqueta e educação; exceto pela mulher do outro lado do balcão que pareceu não entender ou simplesmente não aceitar seu recado mudo, cumprimentando-o com um sorriso meigo e gentil demais para ser ignorado.
Ler maisO celular tocava o alarme as 05:30 e o barulho suave de chuva emitido pelo aparelho despertou-a para mais um dia. Preguiçosamente ela levantou e sentou na simples cama de casal que dividia com os filhos.
Sentia paz ao vê-los dormir tão profundamente e seguros. Com cuidado, desligou o alarme para não acordá-los e fechou os olhos para orar e agradecer; logo já estava providenciando o café da manhã dos filhos, afinal, em algumas horas teria de deixá-los na escola e pegar o ônibus para o trabalho de meio período na academia mais conhecida do centro de Phoenix. Aos 32, Érika Jhonson já era mãe de um casal de filhos, Mary e Mason; frutos de um casamento que durou 11 anos, mas que foi tão infeliz quanto, exceto pelas crianças. Há 2 anos, Érika lutava sozinha para dar o melhor que estivesse ao seu alcance para os filhos. Morava em Glandale, e todos os dias pegava o ônibus às 09:00 para chegar ao centro de Phoenix e, trabalhar até as 15:00 na academia Team Masters onde era recepcionista. — Mary, vamos ou você vai se atrasar e me atrasar para a escola, filha. — Érika apressou Mary enquanto ajustava o colarinho da farda de Mason. — Estou terminando, mamãe! — Mary saiu do quarto colocando a boina da escola e Érika também foi ajudá-la com isso. — Você vai acabar recebendo uma bronca e tendo que voltar para casa. — Érika suspirou cansada e nem era 08:00 da manhã ainda. — Mary, você precisa ser mais ágil para se preparar para a escola. Todos os dias temos que fazer uma maratona para chegar e o soldado Paixão já te avisou sobre isso. — Eu sei, mãe... — Mary baixou os olhos e Érika sentiu o coração partir. Sabia cobrava muito de uma criança de apenas 12 anos, mas não havia escolha. Mary era literalmente seu braço direito, e consequentemente se sobrecarregava também porque ajudava a mãe em tudo, inclusive nos cuidados com Mason que só tinha 7 anos e era autista nível de suporte 2. — Desculpa filha. Eu sei que é demais para você, mas não tem outro jeito. — ela suspirou e tocou o rosto da menina — E olha só, você está em uma escola militar, então precisa realmente se esforçar mais. — Eu até que gosto de lá! — Mary confessa enquanto saem e seguem para a saída onde o ônibus escolar parava para pegá-los e deixá-los em suas respectivas escolas. — Ônibus! Ônibus! — Mason comemora ao ver o transporte escolar. Érika planta um beijo no rosto do filho, vendo a monitora o levar para a van da escola para crianças com necessidades especiais enquanto assiste Mary entrar no ônibus escolar. — Obrigado, Cloe. — sorri para a monitora rechonchuda e de sorriso amoroso que recebe Mason com um abraço e um toque de mão elaborado. — Tenha um ótimo dia, Érika. Qualquer, nós te avisamos. — Cloe pisca e entra na van com Mason. Érika suspirou ao vê-los partir... Os filhos eram tudo o que ela tinha e literalmente seu mundo. Olhou para o céu e sorriu. Os últimos dois anos haviam sido difíceis, mas ela conseguiu chegar ali. Óbvio que para muita gente, não era grande coisa, mas para ele era uma escalada a qual se orgulhava de avançar um pouco mais. Voltou para dentro da casa simples, com poucos móveis, mas acolhedora o suficiente para ela e os dois filhos. Nada era fácil. Ela pagava aluguel, a escola do filho mais novo, as contas, a alimentação, medicação, terapias e tinha que fazer render o pouco, mas ainda assim, agradecia a Deus por dar conta. Não tinha o apoio da família, exceto pela mãe que morava em outra cidade. Também tinha a cunhada que residia a algumas quadras, mas esta não podia fazer muito, pois já tinha suas próprias batalhas com 3 filhos para criar e um marido alcoólatra que não parava em um serviço por muito tempo... Érika respirou fundo e voltou para o interior da casinha onde se olhou novamente no espelho para checar a aparência e ver se estava tudo em ordem ir trabalhar. Apesar de ter um corpo grande e curvilíneo, a camisa branca grande com a estampa do Naruto escondia tudo é a calça legging preta que compunha a farda da Team Masters era encoberta. A vantagem de trabalhar em uma academia especializada em artes marciais e Crossfit era justamente essa: ela poderia usar suas camisas de anime numa boa. Os cabelos castanho, encaracolados e curtos presos em um rabo-de-cavalo, um gloss discreto nos lábios pequenos e definidos, a mochila com as luvas de muay Thai, o material de Crossfit, a carteira e livro, e voilá: ela estava pronta. Caminhou para o ponto de ônibus o mais rápido que conseguiu – muito rápido. Nós olhos castanhos claros havia um cansaço emocional e físico, mas também uma promessa de que desistir não era opção. No coração havia muito espaço preenchido pela dor, mas com certeza havia os planos de um futuro onde ela poderia e seria mais pelos filhos. Lá no fundo, ainda tinha esperanças de que conseguiria ter coragem de publicar os livros que escrevia nas horas vagas ou nos raros dias de folga e nos cones de ouvido “Hide” do Creed tocava alto enquanto ela fazia o percurso até o trabalho. “Let’s leave, oh, let’s get away Get lost in time Where there’s no reason left to hide, yeah Let’s leave, oh, let’s get away Run in fields of time Where there’s no reason left to hide No reason to hide” Aos poucos ela estava vencendo os traumas, decidida a seguir em frente com os filhos, e totalmente fechada para qualquer relacionamento.Alex queria ter ficado mais tempo, e queria saber porque ela havia ficado chateada com a possibilidade de um beijo entre eles. Mais ainda, queria saber o que causou aquela dor absurda que ele pôde ver nos olhos dela por uma fração de segundos que poderiam afogar toda uma vida. Ele conseguiu ver algo ali, e não gostou da possibilidade de ele ter causado isso. Ele sabe que não foi aquele momento. Érika saiu da bolha de desejo que estava acontecendo entre eles assim que ouviu a voz de Ícaro. Foi como se ela tivesse acordado de algum universo paralelo e se deparasse com a realidade crua. Ele viu muito mais do que apenas um despertar e isso o incomodou. Queria mesmo bancar o babaca e esquecer, mas não dava para simplesmente apertar o botão e resetar a lembrança que quase a beijou. O momento foi tão favorável... O ambiente que se tornou naturalmente rústico, como se o sol daquela tarde, através da pequena janela do corredor quisesse que acontecesse. — Cara, se você não quer ver a Célia
— Então, professor Scott, o senhor pode começar amanhã às 07:00. — Érika voltou a atenção para o novo profissional de educação física que Fabiano havia contratado, mas como sempre, não teve paciência de esperá-lo chegar para conversar. — Pode me chamar de Carson... — ele disse e todos que estivessem prestando atenção no diálogo, menos Érika havia notado o olhar intenso do professor sobre ela. — Já somos colegas, certo? — Certo, Carson. — Érika estendeu a mão e ele segurou-a por mais tempo que o necessário, fazendo Alex desapoiar do batente e seguir até a recepção, mas sem nada exatamente para falar. Não poderia simplesmente chegar e mandar que o professor saísse de perto de Érika e parasse de olhá-la daquele jeito, porque ao que lhe constava, ela era livre e desimpedida. Foi então que ele lembrou da necessaire. — Com licença... — chegou apoiando os braços sobre o balcão, e apenas sua presença fez Carson soltar a mão de Érika que continuava fazendo o trabalho dela, no entanto, iss
Naquela manhã, ela tinha comparecido a mais uma consulta médica periódica com Mason, e como sempre, ele passou por avaliação neurológica e pediátrica, mas as notícias não foram tão animadoras... Apesar de Mason estar avançando, o quadro imunológico dele não estava bom. Érika havia levado os resultados dos exames mais recentes, e a conclusão médica foi esmagadora. Os testes sanguíneos apontaram hemofilia – um distúrbio de coagulação sanguínea, não necessariamente hereditária que causa retardo no estancamento. Dado às condições, um simples machucado causado por uma brincadeira de criança, um ralado no joelho ou qualquer esbarrão acidental, mesmo algo como coletar sangue para exames poderia ser complicado para Mason. Para Érika, tudo fez sentido. Mason costuma ter sangramentos nasais e auditivos aleatoriamente, e por um tempo, tanto ela quanto a equipe médica acreditava ser um fator causado pela sensibilidade auditiva ligada ao transtorno neurológico, uma vez que barulhos extremos, qu
Alex Cheguei tão animado para o treino que nem reclamei da porra do elevador que estava fodido de novo. Gosto da modalidade “No Gi” no Jiu-jitsu. É mais mano a mano, roupa leve e literalmente mais competitivo. Eu sou competitivo, com certeza. No entanto, 50% da minha animação desceu pelo ralo quando não vi o motivo da minha punheta matinal do outro lado do balcão. — Oiii!! — Lana nos recebe com uma animação que eu desconsidero e sigo meu caminho apenas acenando, enquanto Iago é mais educado e responde. Eu não. Não sou obrigado. — Alex, tem uma necessaire sua aqui. Eu continuo apenas acenando e vou para o tatame sem nem olhar. Deus me livre passar naquela encruzilhada. Essa criatura é cilada e daquelas mandadas. Tô puto. Queria que Érika me devolvesse a porra da necessaire que eu já nem lembrava que existia, mas foda-se. Eu só queria que fosse ela atrás do bendito balcão. ~ 13:00 Nem tudo foi ruim. O treino estava ótimo e Alex relaxou ao ponto de sorrir com mais l
Alex recostou-se no balcão da cozinha e continuou olhando para tela do celular por alguns segundos... Nenhuma outra mensagem chegou. Ficou ali, com um sorriso ladino, pensando o quanto mais ela queria saber. O frio voltou a se instalar em sua barriga, descendo para a região coberta pela toalha branca na qual estava enrolado, e naquele momento era tudo o que usava. — Você demorou. — a voz de Célia o trouxe de volta a realidade, já que ele estava sonhando com curvas, cachos, luvas, Crossfit, e uma escritora em condições que causou-lhe ânimo em uma parte que ele pensava estar saciada. — Uau... — ela sussurrou colocando as mãos no peitoral dele, deslizando-as em direção a protuberância aparente na toalha. — Você está assanhadinho, hoje. — sussurrou tocando-o descarada e sensualmente, masturbando-o com o desejo queimando nos olhos. Alex desencostou do balcão e tomou os lábios dela, fazendo-a caminhar para trás; antes de alcançar a escada para o quarto no segundo andar, arrancou a toa
Após a aula de Muay Thai, Érika estava destruída e satisfeita. Tinha saído da aula de Crossfit e entrado direto no tatame, e apesar de estar em horário de serviço, o próprio Fabiano havia lhe enviado mensagem para participar do máximo de treinos que pudesse, pois a graduação estava próxima e ela teria que competir no campeonato de Crossfit pela academia, bem como representar o tatame da Team Masters no octógono para graduação oficial. Ela estava animada; havia muito o que ser feito e quanto mais sua mente e corpo estivessem focados em sua própria reconstrução, não haveria espaço para lamentações e lágrimas. Claro que era um choro persistente e preso na garganta... Talvez em algum momento ela realmente devesse parar e liberar, mas não naquele momento. Ainda não. Ela não tinha tempo. Após despedir a turma extra de Muay Thai e o professor Kleber, ela reuniu forças e levantou-se para deixar a academia pronta para as aulas do restante da tarde e a noite, e foi durante a limpeza no ves
Último capítulo