O avião pousou em Buenos Aires pouco depois das dez da manhã. O céu, pesado e cinza, parecia anunciar o tom dos dias que viriam.
Guilherme desceu os degraus da aeronave com passos firmes, mas o olhar cansado denunciava noites mal dormidas e pensamentos que não cessavam desde que recebera a notícia.
O vento cortante do outono argentino trouxe de volta lembranças antigas — o primeiro escritório, os sonhos erguidos ali, os almoços rápidos em Palermo, a sensação de estar exatamente onde devia estar.
Agora, tudo isso era fumaça. Literalmente.
O carro o esperava na pista. Ele entrou sem dizer uma palavra.
— Direto para o local do incêndio, senhor? — perguntou o motorista.
Guilherme apenas assentiu.
O caminho até Palermo foi silencioso.
As ruas, molhadas pela garoa da madrugada, refletiam as luzes dos semáforos como pequenas feridas abertas.
Enquanto o carro deslizava, ele olhava pela janela e via flashes do que construíra — a cidade que o acolhera, o trabalho que o definiu, o nome que tanto