Ágatha nunca foi do tipo que abaixa a cabeça. Bonita, ousada e com a língua mais afiada do que deveria, ela sabe como provocar — e gosta de jogar com os limites. Dante, por outro lado, é tudo aquilo que ela detesta: frio, controlador, calculista… mas também o único capaz de acender nela uma chama que beira a loucura. Entre eles, cada olhar é um desafio, cada silêncio, uma guerra, e cada toque, um incêndio prestes a consumir os dois. Ele a chama de vulgar. Ela o chama de arrogante. Ele tenta ignorá-la. Ela o provoca até perder o fôlego. Mas quando o jogo de orgulho, desejo e palavras cortantes se torna perigoso demais, Ágatha e Dante precisam decidir: ou se destroem em meio às chamas, ou aceitam que a única guerra que não podem vencer é a que travam contra os próprios sentimentos.
Leer másO dia nasceu cinzento, abafado, como se o céu inteiro carregasse o mesmo peso que me atravessava o peito. Terminei de ajustar a gravata diante do espelho, mas não reconheci o reflexo. Talvez fosse o cansaço da busca interminável pela minha irmã, talvez fosse outra coisa. Talvez fosse aquela maldita mulher. Ágatha. Por mais que eu tentasse varrê-la da mente, a lembrança de sua boca afiada e da ousadia dos seus olhos voltava sempre. Odiava isso. Odiava mais ainda a facilidade com que ela me tirava do eixo. Respirei fundo, puxando a jaqueta. — Concentre-se, Dante. Ela não é nada além de distração — murmurei para mim mesmo, como se pudesse enganar a própria consciência. Mas a mansão me aguardava. E a mansão nunca perdoava fraquezas. Varri o salão principal com o olhar logo que entrei. Um reflexo automático, quase militar: cat
A manhã começou estranha. O sol parecia mais fraco através das cortinas da mansão, e acordei com um aperto no peito. Talvez fosse apenas consequência de tantas noites mal dormidas e guerras silenciosas com Dante, mas havia algo diferente no ar, como se o mundo inteiro prendesse a respiração antes de me golpear. Meu celular vibrou sobre a mesa de cabeceira. Número desconhecido. Hesitei alguns segundos, depois atendi, ainda com a voz rouca. — Alô? Do outro lado, uma voz feminina, aflita: — Finalmente! A senhora é Ágatha, filha do senhor Antônio? Meu coração tropeçou. — Sim… sou eu. O que aconteceu? A mulher inspirou fundo antes de soltar a sentença que rasgou meu chão. — Seu pai está internado. Tentamos ligar ontem, mas não conseguimos contato. Ele entrou em coma alcoólico na madrugada. Está na UTI do Hospital Santa Clara. A palavra “coma” caiu como uma pedra no meu
Acordei com o silêncio. Um silêncio estranho, pesado, diferente da rotina barulhenta da mansão da Rabbit. Normalmente, eu esbarrava em Lara no corredor — tropeçando nos próprios pés, carregando uma xícara de café mal equilibrada ou pedindo desculpas por ocupar espaço. Mas naquela manhã, nada. Nem sombra dela. Vesti o robe de seda e caminhei até a copa. O aroma do café recém-passado misturava-se com o perfume do carpete e o leve cheiro de tinta das paredes recém-pintadas do corredor. Peguei uma maçã da fruteira e fiquei de pé, mastigando devagar, tentando montar o quebra-cabeça. Talvez Lara tivesse acordado cedo para estudar poses? Ou então… — Procurando sua protegida? — A voz melosa e venenosa de Vivian, uma das modelos mais antigas e dissimuladas da casa, me arrancou do devaneio. Ela estava encostada na bancada, mexendo no celular, o batom vermelho intacto como se tivesse acabado de sair do set. Arqueei uma sobrancelha. — E por acaso você a viu? Vivian sorriu, venenosa, cruzando
Lara me esperava na saída da reunião, ainda com os olhos brilhando de excitação. Caminhava apressada, tropeçando no salto, como se não conseguisse conter a euforia. — Você ouviu? — perguntou, quase sem fôlego. — Eu… eu vou estar na capa. Sorri devagar, medindo cada gesto. — Ouvi. — Fiz uma pausa, deixando que meu olhar a percorresse de cima a baixo. — E também ouvi o silêncio de todo mundo na sala. O sorriso dela vacilou, e eu aproveitei a brecha. Toquei levemente seu braço, num gesto calculado de proximidade. — Isso significa que, a partir de agora, vão tentar te destruir. Todas. — Inclinei-me para que apenas ela ouvisse. — Mas você não vai cair. Não enquanto estiver comigo. Ela respirou fundo, como quem recebia um pacto secreto. Nos dias seguintes, Lara grudou em mim como uma sombra. Café? Estava comigo. Intervalo? Ao meu lado. Ensaios extras? Só se eu supervisionasse. No início, me diverti com a devoção quase ingênua. Mas logo percebi algo mais: Lara era… confortável. Não era
O corredor do estúdio ainda cheirava a spray de cabelo e flashes queimados quando encontrei Lara sozinha, sentada em frente ao espelho do camarim. Os olhos grandes estavam borrados de rímel, e a postura curvada denunciava o peso de quem ainda não havia aprendido a vestir a armadura.Aproximei-me devagar, apoiando a mão na moldura da porta.— Vai me dizer que já está chorando? — provoquei, com um sorriso leve, nada cruel.Ela se virou rápido, limpando os olhos com a manga.— N-não é nada. Só… fiquei nervosa. — Forçou um sorriso. — Acho que não sirvo pra isso.Cruzei os braços, inclinando a cabeça.— Claro que serve. O problema é que você ainda acha que precisa agradar todo mundo. — Caminhei até ela, parando atrás da cadeira. — E na Rabbit… agradar é a forma mais rápida de sumir.Lara me olhou pelo espelho, hesitante.— Mas você me ajudou. Hoje, se não fosse você, eu teria… travado.Dei de ombros, como se fosse a coisa mais banal do mundo.— Eu só te dei uma direção. Mas quem segurou fo
O estúdio estava mais abafado naquela tarde, ou talvez fosse só a expectativa. As luzes refletiam contra os tecidos carmesim que cobriam parte do cenário. A Rabbit havia escolhido um ambiente intimista para o segundo dia de ensaio: veludo, tons quentes e a iluminação que parecia deslizar como fogo pela pele. Lara já estava pronta, usando uma lingerie preta delicada demais para o nervosismo estampado no rosto dela. O fotógrafo ajustava a câmera e gesticulava para a equipe de apoio quando percebi que os passos firmes atrás de mim já tinham chegado. Eu não precisava me virar para saber quem era. O cheiro de especiarias e madeira denunciava Dante antes mesmo de sua sombra se projetar no chão. Ignorei-o de propósito, ocupando-me em ajeitar a alça do robe de seda que vestia por cima da minha lingerie, como se a presença dele não me afetasse. — Vamos começar? — o fotógrafo animou-se, pedindo que Lara subisse na pequena plataforma coberta de teci
Último capítulo