Mundo de ficçãoIniciar sessãoÁgatha nunca foi do tipo que abaixa a cabeça. Bonita, ousada e com a língua mais afiada do que deveria, ela sabe como provocar — e gosta de jogar com os limites. Dante, por outro lado, é tudo aquilo que ela detesta: frio, controlador, calculista… mas também o único capaz de acender nela uma chama que beira a loucura. Entre eles, cada olhar é um desafio, cada silêncio, uma guerra, e cada toque, um incêndio prestes a consumir os dois. Ele a chama de vulgar. Ela o chama de arrogante. Ele tenta ignorá-la. Ela o provoca até perder o fôlego. Mas quando o jogo de orgulho, desejo e palavras cortantes se torna perigoso demais, Ágatha e Dante precisam decidir: ou se destroem em meio às chamas, ou aceitam que a única guerra que não podem vencer é a que travam contra os próprios sentimentos.
Ler maisVoltei para casa como quem atravessa um corredor muito longo, segurando os próprios pedaços para não desmoronar antes de chegar na porta. Não lembro da metade do caminho. Não lembro de Matteo dizendo nada — se disse. Não lembro de agradecer, nem de me despedir. Lembro só da imagem. Dante. Aquela mulher. A proximidade indecente. A mão dele na cintura dela como se fosse natural. O sorriso dela como se já tivesse sido repetido antes. E eu… eu ali, do lado de fora, como uma idiota que ainda acreditava que ele era diferente. Entrei no apartamento sem acender as luzes. O escuro parecia mais honesto do que qualquer coisa que estivesse dentro de mim. Larguei a bolsa no chão. Apoiei as mãos na bancada. Respirei fundo. E doeu. Doía num lugar que eu fingia não existir. — Ridículo… — sussurrei para ninguém. — Você é ridícula. Bebi água direto da torneira — como se isso pudesse apagar o gosto amargo daquela cena. Mas não apagou. Nenhuma parte apagava. Eu não sabia quanto tempo
Eu não sei exatamente em que momento percebi que Matteo não estava dirigindo na direção da mansão.Acho que foi quando ele entrou numa avenida que eu sabia que não levava a lugar nenhum que Dante chamaria de “encontro”.— Matteo… isso não é o caminho para a mansão. — Minha voz saiu baixa, mas firme.Ele não respondeu.Apenas manteve as mãos no volante, rígidas, quase brancas na curva dos dedos.— Você disse que eu precisava ver alguma coisa.— Precisa — ele confirmou, ainda encarando a estrada. — Antes das nove.Um arrepio atravessou minhas costas.— Ver o quê?Ele demorou mais do que o necessário para responder.— A verdade.Quase ri.Uma risada seca, amarga.— Desde quando você é o guardião da verdade, Matteo?Ele respirou fundo — aquele tipo de respiração que tenta esconder tensão, mas falha miseravelmente.Não insisti.Porque, lá no fundo, alguma coisa me dizia que ele não responderia.E pior: que talvez eu nem quisesse ouvir a resposta.O carro atravessou ruas que eu não reconhec
Passei o resto da tarde fingindo que aquela folha não existia. Abri o notebook. Fechei. Anotei ideias para o projeto editorial. Rabisquei tudo. Tentei ouvir música. Troquei por silêncio. Tentei silêncio. Corri para a música. Nada funcionava. Cada vez que eu tentava mergulhar em algo que fosse meu, uma parte de mim puxava de volta para o mesmo ponto: 21h. Eu odiava isso. A sensação de estar reagindo a alguém. De ajustar meu ritmo ao passo de outra pessoa. De não ser totalmente minha. E, ainda assim, era impossível ignorar. O convite — ordem? — do Dante latejava mais forte do que qualquer lógica. Às sete da noite, eu decidi que não iria. Tomei banho. Vesti um moletom. Prendi o cabelo numa trança displicente. Me olhei no espelho. “Pronto. Isso parece a roupa de alguém que não vai.” Desci para comprar algo para comer. A rua estava tranquila; a cidade parecia respirar numa cadência mais lenta. Não sei se era o contraste com a minha cabeça acelerada ou pura coincidência.
A sacola ainda estava na mesa quando acordei. Eu não tinha tocado nela depois de abrir, depois de ver o lenço, depois de ler o bilhete curtíssimo que parecia ter mais camadas do que a própria noite da gala. “Esqueceu.” Assinado com aquela inicial maldita que já bastava para me desestabilizar mais do que qualquer declaração inteira de outra pessoa. Me arrastei até a cozinha, ainda com a sensação de que tinha dormido dentro de um turbilhão. O vinho não tinha ajudado, obviamente. Mas culpar o álcool seria fácil demais — e confortável demais. O pior é admitir que a culpa era minha. Que a minha cabeça não desligava dele. Que, mesmo depois de ver as fotos na rua, mesmo depois de me enfiar no trabalho para esquecê-lo, eu ainda tinha passado a noite inteira tentando decifrar um gesto tão simples: devolver um lenço. Peguei a sacola outra vez. O lenço estava dobrado do mesmo jeito. Como se eu tivesse acabado de abrir. Como se nada tivesse acontecido. Suspirei, empurrei tudo para o lado e
Acordei com a sensação incômoda de que alguém tinha deixado a noite anterior em aberto dentro de mim — ou melhor, duas noites atrás, desde a festa de gala. Como se algo estivesse suspenso no ar, pendurado, aguardando decisão.Mas eu já tinha escolhido: vida normal. Rotina. Trabalho. Foco. Dante? Caixa lacrada. Precisava aproveitar para focar em algo novo. Não estava disposta a voltar para a mansão e ficar sob a vigilância de Dante, então resolvi que passaria uns dia em meu apartamento e retornaria à mansão rabbit em alguns dias, quando começassem os novos ensaios para a próxima edição. Lembrei da quase proposta que recebi na reunião de ontem. Se eu tiver talento, posso aproveitar para sair definitivamente da rabbit. Tomei um banho absurdamente quente, única coisa capaz de soltar os nós na minha cabeça, e fui até o closet. O vestido da gala ainda repousava na poltrona, acompanhado de uma lembrança teimosa que eu recusava a revisitar. Suspirei, desviando o olhar, e me vesti com algo só
Acordei sem saber que horas eram. O vestido ainda jogado no chão. A maquiagem borrada. O gosto amargo da noite anterior ainda grudado no céu da boca. Mas não chorei. O que quer que tivesse dentro de mim, já tinha secado. Agora restava só um vazio irritado. Um vazio que queimava como uma ferida recém-fechada. Tomei banho devagar, deixando a água quente arder na pele — como se pudesse apagar a lembrança de como Dante passou por mim como se eu fosse invisível. Como se eu nunca tivesse sido nada. E, de alguma forma, isso me rearrumou por dentro. Quando terminei, tinha outra postura. Outro foco. Outra decisão. Peguei o celular e as notificações de fofoca pulavam como pragas. “Nova affair de Dante no evento.” “Modelo sai sozinha enquanto CEO ignora tensão.” “Coelho troca de toca: quem é a loira misteriosa?” Bloqueei tudo. Um por um. Até que vi o nome dele. Dante. Duas ligações perdidas. Uma mensagem. “Precisamos conversar.” Apaguei a notificação sem abrir. Me vesti
Último capítulo