Mundo ficciónIniciar sesiónAcordei com o sol invadindo o quarto pelas cortinas de seda, e com uma ressaca de pensamentos, não de champanhe. Dante ainda rondava minha mente, e isso me irritava profundamente. Eu odiava perder o controle, principalmente para um homem.
No café da manhã coletivo, todas nós desfilávamos como peças raras em exposição, enquanto os convidados se deliciavam com nosso charme e Santiago com seu poder. E lá estava ele. Dante. Encostado em uma das colunas de mármore, braços cruzados, olhar firme — sempre observando, nunca participando. Resolvi não ignorar. Meus saltos ecoaram pelo piso de pedra até parar diante dele. Inclinei a cabeça, dei meu melhor sorriso provocador e soltei: — Então é isso que você faz? Passa os dias me encarando como se fosse dono de algum segredo? Ele arqueou a sobrancelha, sem pressa alguma em responder. Depois, deixou escapar aquele meio sorriso irritante. — Não preciso ser dono de segredo nenhum. Você já os grita sem perceber. Travei a respiração por um instante. Ele não piscava, não desviava. Era como se tivesse me despido ali, no meio de todos, e isso me deu raiva. Eu era a que comandava os jogos, a que fazia os homens implorarem por um olhar meu. Mas Dante… Dante parecia se divertir com meu incômodo. — Você não me conhece — retruquei, deixando o veneno escorrer pela voz. — Não preciso. — Ele inclinou-se levemente para frente, tão próximo que pude sentir o calor da respiração dele. — Você mesma faz questão de se exibir. Arregalei os olhos, e por um segundo me vi vulnerável. Eu, Ágatha Heil, reduzida a uma peça transparente diante de um estranho. Mas logo recuperei meu tom de desafio. — Cuidado, Dante. Não é todo homem que sobrevive aos meus jogos. Ele riu. Um riso baixo, perigoso, que fez algo se acender dentro de mim. — Talvez seja porque não é todo homem que precisa jogar. E então ele se afastou, deixando-me ali, com a sensação de que tinha vencido uma batalha que eu nem sabia que estava travando. Naquela noite, enquanto as meninas se jogavam em seus luxos habituais, eu não conseguia pensar em outra coisa além dele. Não era paixão, não era desejo simples. Era raiva. Uma raiva deliciosa, que me fazia querer arrancar dele todos os segredos, obrigá-lo a ceder, a se curvar. Mas, no fundo, uma parte de mim sabia: o perigo mais excitante não era dominá-lo. Era descobrir o que aconteceria se, pela primeira vez, eu fosse a dominada. A noite caiu quente em Cancún. O resort brilhava sob a luz artificial, e a festa na área da piscina parecia saída de um sonho: corpos dançando, música alta, taças transbordando. As meninas exibiam vestidos colados ao corpo, gargalhavam alto e se jogavam nos braços dos homens que, embriagados pelo poder, acreditavam que podiam comprar qualquer coisa. Qualquer coisa… menos Dante. Ele estava lá, à margem da festa, observando como sempre. Um terno negro, sem gravata, a camisa parcialmente aberta, revelando o desenho de músculos discretos. Estava fora do lugar, mas ao mesmo tempo parecia dominar o cenário. Era impossível não reparar nele. E ele sabia disso. Me aproximei de propósito. Não suportava a ideia de ser ignorada. Sentei-me na beira da piscina, pernas cruzadas, deixando que a fenda do vestido revelasse mais pele do que deveria. Mergulhei os pés na água e suspirei alto, como se estivesse entediada. Ele se moveu. Não para perto, mas o suficiente para que eu notasse. Dante nunca vinha de frente — ele rodeava. — Está tentando me provocar? — a voz dele cortou a música, baixa, firme, só para mim. Virei o rosto devagar, encontrando aqueles olhos que pareciam ler minhas intenções. — Eu? Jamais. Eu só vivo… intensamente. Ele se inclinou, apoiando-se no braço da cadeira ao meu lado. O perfume dele era diferente, não doce como os outros, mas amadeirado, quente. Fechei os olhos por um segundo, sem querer, e maldito seja por ter percebido. — Você gosta de brincar com fogo — murmurou ele, próximo demais. Sorri, mordendo o lábio inferior. — Só se for para me queimar junto. O silêncio que seguiu foi denso. Ele me encarava como se pudesse atravessar minhas camadas mais íntimas, e eu sentia minha pele arrepiar sob o olhar. Era um jogo perigoso, e talvez fosse exatamente por isso que eu não conseguia recuar. Nossos rostos estavam a centímetros um do outro. Bastava um movimento, uma fração de coragem, e nossos lábios se encontrariam. O coração batia forte, minha respiração acelerava… Mas ele recuou. Simplesmente se levantou, ajeitou o paletó e me lançou aquele meio sorriso irritante. — Não vou ser mais um dos seus joguinhos, Ágatha. E partiu, deixando-me ali, incendiada, frustrada e faminta de algo que eu ainda não sabia nomear. Naquela noite, entre risos e taças de champanhe, percebi que havia perdido — não para ele, mas para mim mesma. Porque, pela primeira vez, eu queria mais do que poder. Eu queria Dante. E isso… era o começo do meu maior perigo.






