3. Fogo e provocação

Cancún parecia um sonho caro demais para ser real. Areia branca, mar azul turquesa, garçons correndo para atender nossos caprichos… e nós, as meninas da mansão, desfilando como rainhas em território estrangeiro. Eu sempre gostei de luxo, mas confesso: depois de alguns dias, tudo começa a parecer repetitivo. Champanhe perde o sabor, festas se misturam, e até a vista mais bonita cansa quando você está cercada de gente falsa.

Eu fazia o que sabia melhor: aproveitava. Ria alto, fazia pose nas fotos, colecionava olhares famintos. Havia sempre um novo empresário disposto a pagar drinks, uma celebridade decadente tentando provar que ainda tinha charme, ou um político que acreditava que comprar meu tempo era o mesmo que comprar minha alma. Pobres coitados.

Na piscina, Isabela se exibiu num biquíni mínimo, Clara monopolizou um sheik milionário, e eu? Eu estava deitada numa espreguiçadeira, óculos escuros no rosto e uma margarita na mão. Uma cena digna de capa de revista.

— Você devia tentar sorrir mais, Ágatha. — Clara se aproximou, ajeitando o chapéu gigante.

— E você devia tentar falar menos. — Respondi sem nem tirar os óculos.

Ela riu, mas não insistiu. E eu voltei a me perder nos meus pensamentos. Era estranho: eu estava cercada de tudo o que sempre quis — dinheiro, festas, liberdade — mas havia uma pontada incômoda em mim. Uma sensação de que alguma peça ainda faltava.

Ignorei. Coloquei a culpa no sol, no álcool, ou na saudade da minha própria cama.

Os dias passaram nesse ritmo: festas à noite, piscina durante o dia, risadas ensaiadas, corpos suados, músicas altas. Uma rotina barulhenta, brilhante… e, no fundo, vazia.

E então, justamente quando eu começava a acreditar que essa viagem não teria nada de novo, ele apareceu.

Dante.

Não do jeito que eu esperava, claro. Enquanto eu atravessava o salão principal rumo ao bar, lá estava ele, encostado no balcão, com um copo na mão e aquele maldito ar de quem não precisava de esforço para chamar atenção.

Não olhou imediatamente para mim. Fingiu estar imerso em alguma conversa com o barman. Mas eu sei quando sou observada, e a forma como o canto da boca dele se curvou foi prova suficiente.

Aproximei-me, tentando manter a indiferença.

— Achei que você fosse alérgico a diversão — disse, pedindo uma tequila.

Ele riu, baixo.

— E achei que você fosse alérgica a sutileza.

Arqueei a sobrancelha, bebendo meu shot de uma vez só.

— Não gosto de perder tempo.

— E eu não gosto de desperdiçar atenção. — Ele virou o copo lentamente, como se cada movimento fosse calculado para me irritar. — E você, Ágatha, gasta demais.

Revirei os olhos, pronta para retrucar, mas ele já se afastava. Antes, porém, passou por mim devagar, tão próximo que o ombro dele roçou no meu braço.

— Mas confesso… — sussurrou, só para mim. — É divertido ver você tentando disfarçar.

Fiquei ali, imóvel por alguns segundos, sentindo o calor da pele dele onde tinha me tocado.

Disfarçar o quê? Desejo? Raiva? Talvez os dois.

E naquele instante, percebi que Dante não precisava de grandes gestos para me tirar do eixo. Um olhar, uma palavra, um toque de leve — e pronto, eu já estava queimando por dentro.

Maldito fosse.

Naquela noite, decidi me afastar do bar depois do encontro irritante com Dante. O som da festa pulsava, e eu procurei o terraço, onde o vento quente da noite mexicana aliviava a intensidade do ambiente. Foi lá que encontrei Santi.

Claro que ele estaria ali: o dono do mundo, encostado na varanda, camisa parcialmente aberta, um charuto na mão e o olhar predador fixo no horizonte. Santiago Morales não precisava de apresentações. Onde ele chegava, o ar mudava.

— Fugindo das suas amigas de plástico? — perguntou sem me olhar.

Sorri de canto, aproximando-me.

— Fugindo dos homens que acham que são irresistíveis.

Ele soltou uma risada baixa, grave, daquelas que vibravam no peito.

— Você fala como se não gostasse da atenção.

— Eu gosto da parte útil dela. — Cruzei os braços, encarando-o. — O resto é barulho.

Ele finalmente se virou para mim, os olhos escuros faiscando.

— E eu? Sou barulho ou sou útil?

Revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir. Essa era a dança eterna entre nós dois: ele testando meus limites, eu respondendo com veneno doce.

— Você é o dono da gaiola, Santi. O mínimo que pode fazer é tratar bem os pássaros.

Ele riu outra vez, inclinando-se perigosamente perto.

— Gaiola? — sussurrou. — Você nunca pareceu presa, Ágatha. Pelo contrário… Parece mais confortável do que nunca.

Senti a eletricidade na provocação dele, mas não recuei.

— Não se engane. Eu não sou uma das suas bonecas. Sou uma peça rara. Se você me perder, vai se arrepender.

Por um instante, o silêncio caiu entre nós. Santi tragou o charuto lentamente, sem desviar o olhar. Era como encarar um lobo faminto — perigoso, mas fascinante.

— Talvez seja por isso que gosto de você. — murmurou. — Você não finge. Até quando mente, é verdadeira.

Ri, inclinando a cabeça.

— Cuidado, Santi. Se continuar elogiando, vou achar que está apaixonado.

Ele sorriu de forma torta, aquele típico sorriso de badboy que misturava charme e ameaça.

— Amor não paga minhas contas, querida. Mas você… você me diverte. E isso vale mais do que ouro.

Nosso jogo sempre terminava assim: ele reafirmando seu poder, e eu lembrando que não era apenas mais uma no seu harém de luxo. Era uma relação tempestuosa, mas, de certa forma, sincera. Eu sabia que ele nunca seria só um amigo — nem apenas um patrão. E ele sabia que, no fundo, eu poderia queimá-lo com a mesma facilidade com que ele poderia me apagar do mapa.

Um equilíbrio perigoso. E delicioso.

Quando voltei ao salão, já com a mente leve após a troca afiada com Santi, foi que vi Dante de novo, dessa vez com uma morena estonteante pendurada em seu braço. Ele riu de algo que ela sussurrou, mas não resistiu a erguer os olhos na minha direção, segurando meu olhar como quem lançava um desafio.

No fundo, algo me dizia que a verdadeira tempestade não vinha de Santi. Vinha dele.

Meus olhos encontraram os dele, e por um instante, o mundo pareceu reduzir-se apenas àquele olhar. Dante não se esquivou. Ao contrário, sustentou o contato, como se quisesse cravar a presença dele em mim. Mas eu não estava disposta a lhe dar esse poder.

Endireitei os ombros e sorri de leve, como se fosse apenas mais uma noite, mais um rosto bonito perdido entre taças de champanhe e música alta. Olhei para a morena em seu braço e, em vez de me irritar, ergui minha taça em um brinde silencioso. Um brinde de escárnio.

Ele arqueou a sobrancelha, esperando qualquer reação: ciúme, raiva, uma faísca que denunciasse meu interesse. Não dei esse prazer. Dei as costas com elegância, deixando que a saia do meu vestido dançasse contra minhas pernas enquanto caminhava até o centro do salão.

No fundo, sabia que a cena tinha funcionado.

Senti o peso do olhar dele queimando minhas costas.

Era curioso: Dante tinha o tipo de presença que intimidaria qualquer uma. Mas eu não era qualquer uma. E se ele queria brincar de me provocar, teria que aguentar as consequências de ver sua jogada falhar.

Peguei outra taça de champanhe da bandeja de um garçom e ri de algo banal que uma das meninas comentou ao meu lado, como se Dante já tivesse se tornado irrelevante. Mas, dentro de mim, a faísca estava lá. O gosto metálico da provocação, misturado à excitação perigosa de alguém que finalmente me fazia querer jogar.

Pela primeira vez em muito tempo, percebi que eu também podia perder a partida.

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