4. Fogo lento

O avião particular de Santi tinha o cheiro do poder. Couro importado nos assentos, champanhe gelada repousando em baldes de prata, garçons de luvas brancas circulando como sombras silenciosas. E, no meio de todo aquele luxo, eu, com minhas pernas cruzadas e um vestido curto demais para qualquer convenção de “boa moça”. Convenção que, de qualquer forma, eu nunca segui.

— Vai gostar de Ibiza, nena — disse Santi, com aquele sorriso torto de badboy que fazia metade das modelos da mansão suspirar. — O mar parece pintado à mão. E as noites... ah, as noites você vai me agradecer por ter insistido.

Revirei os olhos, bebendo da taça sem pressa. — Agradecer? Você já me deve um presente caro só por me arrastar nessa viagem no meio da semana.

Santi riu, inclinando-se para perto. Ele tinha esse jeito de não respeitar distâncias, sempre tocando de leve, sempre testando limites. Seu hálito de uísque roçou meu pescoço. — Eu nunca devo, querida. Eu sou o crédito.

— Modesto como sempre. — Sorri de canto, sabendo que ele gostava quando eu o desafiava. Ele parecia se alimentar da minha acidez.

Mas, antes que pudesse responder, ouvi passos firmes atrás de mim. Não precisei virar para saber quem era. O ar do avião mudou. A temperatura pareceu cair dois graus.

Dante.

Ele passou pelo corredor estreito e ocupou o assento exatamente ao meu lado, como se o lugar já fosse dele. A pele dele cheirava a especiarias, discreta e máscula, contrastando com o exagero adocicado dos perfumes que geralmente me cercavam.

Olhei para Santi, indignada. — Isso é sério? — apontei discretamente para Dante. — O avião inteiro e ele precisa sentar justamente aqui?

Santi sorriu como quem arma uma armadilha. — Claro, nena. Quem melhor pra te fazer companhia?

— Companhia não, tormento. — Murmurei, mas alto o suficiente para Dante ouvir.

Ele virou lentamente o rosto na minha direção, arqueando a sobrancelha como se saboreasse a provocação. — Não se preocupe. Eu também não estou exatamente feliz de dividir o ar com você.

— O ar? — Ri debochada. — Não sabia que respirava tanto ego. Deve estar sufocando.

O sorriso dele foi lento, irritantemente sexy. — E você não sabia que pode ser ainda mais insuportável de perto. Parabéns, Heil, sempre se superando.

Senti a tensão elétrica se estendendo entre nós, como se uma centelha estivesse pronta para explodir. Cruzei as pernas, deixando a fenda do vestido revelar um pouco mais de pele. Se ele queria me irritar, eu também podia brincar.

— Então não olhe. — Retruquei, pegando a revista de bordo.

Mas eu sentia. O olhar dele queimava em mim, mesmo quando fingi ler as páginas sem atenção.

A viagem foi longa. Champanhe, música baixa, conversas paralelas. Santi, do outro lado, parecia se divertir apenas assistindo ao pequeno campo de batalha silencioso entre mim e Dante.

Em certo momento, o garçom se inclinou para servir mais champanhe. Dante se movimentou ao mesmo tempo e, como numa coreografia maldita, sua mão roçou na minha coxa.

Um choque. Ardente, instantâneo.

Fingi que não senti nada, mantendo o rosto impassível. — Cuidado, vai acabar se queimando.

Ele não recuou de imediato. O toque foi breve, mas proposital. — Quem disse que não gosto de fogo?

Revirei os olhos, mas meu corpo me traiu. O coração acelerou, e odiei a mim mesma por isso.

Ibiza nos recebeu com céu azul e mar cristalino. O hotel era uma obra de arte, varandas enormes com vista para o horizonte, piscinas de borda infinita. O tipo de cenário que parecia ter sido criado para seduzir.

No jantar da primeira noite, Santi decidiu que seria divertido nos colocar lado a lado à mesa. Eu, num vestido vermelho que gritava perigo; Dante, num terno negro impecável, gravata afrouxada como se não precisasse se esforçar para ser o centro das atenções.

— Você não come nada? — perguntei, vendo-o brincar com o garfo.

— Estou mais interessado no vinho. — A voz dele soou grave, lenta.

— Claro, precisa de álcool pra aguentar a minha presença, imagino.

Ele sorriu de lado. — Surpreendente como pensa que tudo gira em torno de você.

— E surpreendente como você sempre aparece onde eu estou. — Provoquei, levantando a taça. — Talvez seja você quem gira em torno de mim.

Ele ergueu a dele, os olhos cravados nos meus. — Não se iluda, Heil. Eu só gosto de observar incêndios.

Mais tarde, já no terraço, Santi desapareceu com alguma modelo loira e nos deixou sozinhos. O vento trouxe o cheiro do mar, e as luzes da cidade refletiam na água como estrelas derramadas.

— Então é isso? — perguntei, encostando-me à grade. — Seu grande passatempo é me irritar?

— Não. — Ele se aproximou devagar, como um predador. — Meu passatempo é ver como você tenta fingir que não liga.

Engoli em seco, mas mantive a pose. — Eu não ligo.

— Claro que não. — O sorriso dele era venenoso. — É por isso que sua respiração mudou quando eu toquei em você no avião.

Meu sangue ferveu. — Você tem uma imaginação fértil.

— E você tem uma boca afiada. — Dante deu mais um passo, tão perto que o calor do corpo dele parecia atravessar o tecido do meu vestido. — Mas eu sei reconhecer mentira quando ouço.

Dei uma risada baixa, sarcástica, mesmo com o coração disparado. — E eu sei reconhecer homem arrogante quando vejo.

Ele se inclinou, próximo demais, como se fosse me beijar. Por um segundo, a vontade de ceder me atravessou inteira. Mas não. Eu não seria o brinquedo dele.

Afastei-me com elegância, virando as costas. — Boa noite, Dante.

Antes de entrar, ouvi a risada abafada dele. Uma risada de quem sabia que o jogo tinha apenas começado.

E eu... odiava admitir, mas já estava ansiosa pela próxima rodada.

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