James volta para Nova York depois de uma temporada no exterior expandindo os negócios. Ao retornar, ele descobre que o seu irmão está noivo. Mas o que James não esperava, é se apaixonar à primeira vista pela mulher, que ele descobre ser a noiva do seu irmão, Liam.
Leer másJames não dormiu. Passou horas de um lado para o outro na cama, o lençol embolado nos pés, os olhos fixos no teto escuro, a respiração pesada. Recorrera ao uísque como último recurso, como sempre fazia quando queria silenciar a mente. Mas não havia bebida suficiente no mundo para calar o que se passava dentro dele. Bebeu para esquecer. Bebeu para não pensar. Bebeu para dormir. Dormiu tarde. Mal. E quando acordou, a cabeça latejava como se cada pensamento pulsasse em dor. Sentou-se na beira da cama, com as mãos no rosto, o gosto amargo da ressaca colado à língua. O quarto estava abafado, o silêncio pesado. Sentia o corpo entregue, cansado, como se tivesse sido espremido por dentro. Olhou o celular — 7:40 am. Não iria trabalhar. Pegou o aparelho e ligou para Liam. A ligação demorou mais do que o necessário para ser atendida. — Fala, sumido. Acordou com a voz de quem saiu de um bar direto pra cama — brincou Liam, rindo. James não respondeu de imediato. Passou a mão pelo
O dia começou como qualquer outro, mas James sabia, lá no fundo, que não era. Havia uma decisão pairando sobre ele — silenciosa, pesada, inadiável. Chegou à empresa cedo, com a mente ancorada nos relatórios da manhã. Ignorou mensagens, ignorou a pulsação no peito ao imaginar Sophie em algum corredor próximo. Ignorou até o nome de Grace piscando na tela do celular com um simples “bom dia”. Precisava de um tempo para si, para pensar, para tentar entender aonde estavam indo todas aquelas escolhas que vinha fazendo no automático. Na sala de reuniões, mergulhou nos números, gráficos, análises. Ouviu os sócios, interagiu com Liam, respondeu com firmeza e clareza. Manteve os olhos nos dados e o coração fora dali. O almoço com o executivo foi morno, mas necessário. Conversas protocolares, acordos fechados. Voltou para o escritório ainda com o gosto amargo do café e a cabeça latejando com ideias que não tinha pedido para pensar. Sophie passou por ele no corredor duas vezes. A primeira,
James girava a taça de vinho em silêncio, observando os reflexos das luzes douradas do restaurante dançarem no líquido rubi. À sua frente, Grace falava empolgada sobre a nova coleção de joias, os contatos que havia feito com uma distribuidora francesa, os planos de expansão para a Europa. Havia um brilho contagiante em seus olhos, uma força natural que o deixava afoito— e, ao mesmo tempo, o fazia se encolher por dentro. Ela era presente. Totalmente ali, com ele. Tinha planos, projetos, uma vida que se abria como um mapa bem desenhado. James, por outro lado, se sentia como um rabisco mal feito no canto de uma página em branco. — Você está muito quieto — ela comentou de repente, com um sorriso terno. — Está cansado a esse ponto, ou só entediado com minhas histórias de mercado europeu? Ele ergueu os olhos para ela, forçando um sorriso. — Não diga isso. Você sabe que eu adoro te ouvir. Só… não estou no meu melhor dia. Semana exaustiva. Grace pousou os talheres, inclinando-se l
A semana começou com um céu cinzento sobre Manhattan, como se até o clima pressentisse o que estava por vir. A sede da empresa parecia mais agitada do que de costume — havia um projeto novo em andamento, algo ambicioso que envolvia uma grande parceria internacional, e Sophie, como nova analista de mercado, teria papel crucial nas apresentações e relatórios. James tentou, pela segunda vez naquela semana, escapar de uma reunião em que ela estaria presente. Mas dessa vez, não conseguiu. Liam insistiu que ele mesmo conduziria parte da apresentação, e precisava que James estivesse ao seu lado. Sem mais argumentos plausíveis, James cedeu. Na sala de reuniões, com o vidro fumê e a longa mesa de madeira escura, Sophie já estava posicionada com o notebook aberto e alguns papéis organizados à sua frente. Quando James entrou, os olhos dela o buscaram de imediato. Ele desviou o olhar rapidamente, cumprimentando a todos com um aceno contido. — Bom dia — ela disse, com um leve sorriso, prof
James apelidou sua nova rotina de “operação sobrevivência”. Um nome quase cômico, mas que escondia o desespero de um homem à beira do colapso emocional. A semana começou com uma intensidade previsível. Sophie passou a fazer parte oficialmente da equipe como analista de mercado, e sua presença logo foi sentida — discreta, mas firme. Chegava pontualmente, era educada, eficiente e, acima de tudo, profissional. Profissional demais, talvez, o que tornava tudo ainda mais insuportável para James. Na segunda-feira, uma reunião estratégica com a equipe de inteligência de mercado foi marcada. James seria um dos "comandantes" da apresentação, mas ao ver o nome de Sophie na lista dos participantes, repassou a função a Liam alegando um compromisso com investidores. Liam não questionou muito — estava acostumado com as mudanças repentinas do irmão — mas lançou um olhar curioso. Na terça, quarta e quinta, a tática se repetiu. Compromissos cancelados, transferências de funções, silêncios bem e
Manhattan se erguia ao redor de James como um organismo pulsante, implacável, que não dava trégua a ninguém. O ritmo dos dias se impunha, sufocando as memórias indesejadas com agendas lotadas e salas de reunião abafadas. Ele estava de volta. E, como sempre fazia quando a vida ameaçava desmoronar por dentro, mergulhava de cabeça no trabalho. A reunião daquela manhã tinha sido intensa, mas produtiva. O projeto de expansão do grupo empresarial avançava, e o setor de investimentos exigia decisões rápidas e estratégicas. James era bom nisso. Pensar com frieza, decidir com precisão. Era o que esperavam dele. Era o que ele se obrigava a ser. Em poucos dias depois, Grace chegava a Manhattan. Não para um fim de semana. Não para uma breve visita. Mas para retomar um capítulo da vida que ela achava ter encerrado há três anos. A casa da família, em West Village, permanecera intocada desde que ela partira para Boston. As cortinas pesadas ainda guardavam o cheiro discreto de lavanda e madei
James havia passado a noite em claro, deitado na escuridão silenciosa de seu quarto, olhando para o teto como se ali houvesse alguma resposta. Mas não havia. Só o silêncio, que se tornava mais pesado com cada pensamento que insistia em voltar para Sophie. Ele tentou racionalizar. Tentou se convencer de que estava no caminho certo, de que sua vida precisava seguir, de que Grace era uma mulher maravilhosa, digna de todas as suas atenções. Mas o coração teimava em desobedecer. Na manhã seguinte, a confirmação de que a paz não viria tão cedo chegou com um telefonema casual de Liam. O irmão falava com entusiasmo incomum, vibrando como um adolescente apaixonado. — Sophie e eu vamos viajar hoje — anunciou com uma empolgação ruidosa. — Vamos para aquela ilha que você me indicou uma vez, lembra? Quero dar a ela uma prévia do que será a vida ao meu lado. Antes do casamento. Depois, com ela começando a trabalhar conosco, talvez não tenhamos muito tempo para nós. James engoliu seco. — T
James nunca foi de fazer planos impulsivos. Era metódico, racional, um estrategista nato. Mas naquela noite em Boston, quando Grace o olhou com aquele sorriso que trazia lembranças e promessas esquecidas, algo dentro dele afrouxou. Foi como abrir uma janela depois de muito tempo trancado em um cômodo abafado. Deixou o passado entrar. E ele entrou com força. Passaram a noite juntos — não com a urgência ou euforia de outros tempos, mas com a delicadeza de duas pessoas que já se conheceram por inteiro, que não precisam se explicar. Era uma sensação confortável. Quase fácil demais. E talvez fosse justamente isso que James precisava. Quando retornou a Manhattan, ele trouxe Grace com ele. Não como um símbolo de posse ou de alarde. Trouxe porque, no fundo, queria acreditar que podia reencontrar o caminho onde um dia já se sentiu inteiro. Grace, por sua vez, voltou sem hesitar. Tinha construído um império com as próprias mãos nos últimos três anos — uma linha de cosméticos sustentáveis
A proposta de viagem caiu sobre a mesa como um alívio disfarçado. Era para Liam assumir a frente daquela negociação — uma fusão delicada com um grupo hoteleiro de Boston — mas James enxergou naquilo uma rota de fuga. Uma pausa necessária. O distanciamento que ele precisava antes que as rachaduras dentro de si se tornassem irreparáveis. Ele havia lido o e-mail duas vezes antes de se levantar, atravessar o corredor e bater na porta do irmão. Liam estava ao telefone, mas fez sinal para ele entrar. A sala era ampla, decorada com sobriedade, e havia nela um certo ar de desordem elegante — pastas abertas, xícaras esquecidas, uma gravata jogada sobre a poltrona. O oposto do escritório de James, sempre limpo, minimalista, contido. Quando terminou a ligação, Liam tirou os óculos e o olhou com curiosidade. — Algum problema? James negou com a cabeça, mas respirou fundo. Estava preparado para parecer apenas objetivo. — A viagem pra Boston. Eu pensei em ir no seu lugar. Liam arqueo