133. O que ele não diz, diz mais
A sacola ainda estava na mesa quando acordei.
Eu não tinha tocado nela depois de abrir, depois de ver o lenço, depois de ler o bilhete curtíssimo que parecia ter mais camadas do que a própria noite da gala.
“Esqueceu.”
Assinado com aquela inicial maldita que já bastava para me desestabilizar mais do que qualquer declaração inteira de outra pessoa.
Me arrastei até a cozinha, ainda com a sensação de que tinha dormido dentro de um turbilhão. O vinho não tinha ajudado, obviamente. Mas culpar o álcool seria fácil demais — e confortável demais. O pior é admitir que a culpa era minha. Que a minha cabeça não desligava dele. Que, mesmo depois de ver as fotos na rua, mesmo depois de me enfiar no trabalho para esquecê-lo, eu ainda tinha passado a noite inteira tentando decifrar um gesto tão simples: devolver um lenço.
Peguei a sacola outra vez. O lenço estava dobrado do mesmo jeito. Como se eu tivesse acabado de abrir. Como se nada tivesse acontecido.
Suspirei, empurrei tudo para o lado e