Após perder os pais, Constantine foi enviada para viver com os tios numa fazenda tranquila, onde cresceu entre colheitas, cabras e afeto. Mas tudo muda quando a propriedade é vendida a um CEO da cidade grande — e ele exige a desocupação imediata. Determinada a proteger a única casa que conhece, Constantine vai à cidade enfrentar o novo dono: Umberto Zanobi, um homem poderoso, inflexível e cercado por segredos. Entre choques de realidade, olhares que não se explicam e uma tensão crescente, Constantine se vê presa em uma teia de interesses, traições e escolhas difíceis. Ao seu redor, alianças se quebram, máscaras caem — e o passado que ela acreditava enterrado pode ser a chave para algo muito maior. Uma história sobre amor, raízes e coragem. Quando a beleza da simplicidade confronta o orgulho do poder, nenhuma verdade permanece oculta por muito tempo.
Ler maisConstantine vivia em uma fazenda no interior com os tios desde que seus pais haviam morrido. Na época, ainda criança, não tinha qualquer vínculo com eles. Mas após o trágico acidente que a deixou órfã, foi enviada à tutela do casal, e ali construiu uma nova vida.
No interior, cercada por uma rotina simples e sem grandes agitações, ela cresceu. Com o tempo, aprendeu a amar a terra, os animais, o silêncio da manhã, o cheiro do café recém passado misturado ao da terra molhada. Agora, aos 26 anos, dominava com leveza os afazeres da fazenda e carregava no peito uma tranquilidade que só a natureza sabia proporcionar. Até que, numa manhã comum, uma carta chegou. Era um envelope pardo, de papel firme e tom ameaçador. O tio leu em voz baixa, com a testa franzida e os olhos úmidos: o antigo dono da fazenda havia morrido, e a propriedade fora vendida a um rico empresário da cidade. A notícia caiu como uma tempestade fria sobre todos. E pior: o novo administrador, de maneira ríspida e impessoal, exigia que deixassem a fazenda imediatamente. O desespero tomou conta da casa. A tia Ludovica chorava em silêncio, o tio Tommaso caminhava em círculos pela varanda, murmurando possibilidades que não levavam a lugar algum. — Foi tudo tão de repente... Eu... eu não sei o que fazer — disse ele, com a voz embargada. Enquanto isso Constantine estava sentada numa cadeira com os cotovelos apoiados sobre a mesa, uma mão segurava uma caneca com café e a outra sustentava o queixo. Ela estava mergulhada num mar de pensamentos. Foi então que uma ideia veio como um farol, ergueu a cabeça ainda atônita, e como se algo dentro dela tivesse sido despertado, a esperança. — Eu irei à cidade amanhã — disse firme. — Vou conversar com esse administrador. Talvez ele nos dê um prazo, um mês, quem sabe… ou um tempo suficiente para encontrarmos um lugar para ficar. O tio a olhou, cansado. — Ele virá aqui amanhã, minha filha... — murmurou. — Quer fazer uma vistoria na área. Um silêncio denso caiu sobre eles. Ninguém sabia o que esperar. Ninguém sabia qual seria a reação do tal administrador ao perceber que a família ainda estava ali — resistindo. Na manhã seguinte, Constantine acordou com o primeiro canto do galo. Mesmo com o coração inquieto desde a chegada da carta, seus gestos eram os de sempre: ordenhou a vaca com mãos leves, soltou as cabras no pasto e alimentou os gansos que a seguiam num alvoroço familiar. O ar da manhã trazia o cheiro agradável da terra úmida e da relva fresca — aromas que ela aprendera a amar com o tempo. Na cozinha, tia Ludovica já estava de pé, firme como sempre. Usava o avental florido e cantarolava baixinho, como se tentasse afastar as nuvens pesadas do dia anterior. Sobre a mesa, organizava xícaras, frutas e uma torta de morango que havia assado na noite anterior, na esperança de trazer algum conforto à casa. — Constantine, o café está pronto, minha flor — chamou-a com ternura. Mas havia um vazio no ar. Tommaso, que nunca perdia o nascer do sol, não se levantou. Permanecia deitado, calado, com os olhos voltados para o teto. O silêncio dele doía mais que qualquer palavra. Constantine sentiu um aperto no peito. Sabia que o tio estava sofrendo, talvez até mais que todos. A fazenda era sua vida. E agora, parecia que ela estava escorrendo por entre os dedos, como areia fina demais para segurar. Mais tarde, como já era esperado, a fazenda ganhou um movimento incomum. Carros chegaram levantando poeira pela estrada de terra, e o som dos motores ecoou por entre as árvores, quebrando a rotina silenciosa do lugar. Constantine observava da varanda, com o coração apertado. O administrador, trajado com elegância urbana, conversou com Ludovica e Tommaso de forma educada — quase fria. Explicou que, por ordens superiores, não poderiam permanecer na propriedade por mais de um mês. Falou com palavras medidas, mas a decisão era definitiva. E embora ele não tenha elevado o tom, a dor foi a mesma. Ludovica apenas assentiu com um fio de voz. Tommaso, de cabeça baixa, apertava as mãos com força sobre o colo, como quem segura o mundo para não desabar. Mesmo com toda a cordialidade, a tristeza havia entrado pela porta da frente. Constantine tomou a decisão consigo mesma. No dia seguinte ela iria até a cidade. O dia passou devagar, a tarde correu devagar. Durante a noite, antes de adormecer ela pensava que não podia mais esperar. Se não agisse rapidamente, eles ficariam sem um lar em poucos dias. Ela precisava de um tempo maior — nem que fosse um mês. Para acomodar sua família em outro lugar. Assim, adormeceu. A manhã surgiu fria. Ela então pulou da cama e vestiu seu melhor casaco, prendeu os cabelos com um lenço discreto, correu até a casa de Pi como eles haviam combinado no dia anterior, e, com o coração apertado, eles partiram para a cidade. Estava na época das chuvas. A cidade a recebeu com um tom cinza que parecia pintar tudo ao redor: as ruas molhadas, os prédios altos de concreto escurecidos pela umidade, o céu coberto por uma névoa espessa. As nuvens baixavam lentamente, deslizando entre os edifícios como se também procurassem abrigo. O vento estava tão frio causava a sensação de cortar seu rosto com navalhas. As gotas grossas de chuva que começavam a cair pareciam agulhas de gelo contra a pele. Era pleno inverno. A charrete parou perto de uma rua movimentada da cidade. Constantine então, puxando o seu xale para proteger-se do frio que congelava. Só conseguia pensar naquele exato momento era em um copo de chocolate quente bem cremoso e em uma fatia de bolo super macio e saboroso. Desceu da charrete sem pressa, com o corpo encolhido sob o casaco, sem perceber que estava sendo observada pelos clientes sentados no café ao lado. Apesar de conservar uma arquitetura antiga e charmosa, a cidade já havia se rendido à modernidade há muito tempo — carros de luxo, vitrines tecnológicas, trajes sociais bem cortados. Foi impossível não atrair cochichos. — "Parece que voltamos à Idade Média..." — "Alguém está na década errada" — diziam entre risos abafados, escondidos por trás das xícaras fumegantes. Constantine não ouviu. Virou-se com serenidade para Pi, o pequeno cocheiro que a acompanhava, e entregou-lhe algumas moedas. — Leve os cavalos a um lugar seguro, por favor. E então respirou fundo. Não sabia o que a esperava dali em diante. Entrou no café, onde o calor parecia ter sido regulado exatamente para abraçar quem viesse da rua. O aroma de canela e café fresco se espalhava no ar, aquecendo não apenas o corpo, mas também alguma parte esquecida da alma. Sentou-se perto da janela, onde podia ver as gotas grossas de chuva escorrendo pelo vidro em filetes trêmulos. Ali, naquele canto calmo, permitiu-se respirar mais fundo. Enquanto observava a cidade embaçada pela névoa, começou a imaginar o que a esperava. Seria recebida com compreensão? Desprezo? Indiferença? O receio começou a se aproximar devagar, como uma sombra que tenta arrasta-la pelos pés. Mas Constantine não se entregou. Apertou as mãos sobre o colo, firmou o olhar e lembrou o porquê de estar ali: por aqueles que ama. Por um lar. Ela não era fraca. Só estava com frio — e com esperança. *** A chuva havia dado uma trégua, mas gotas finas e persistentes ainda caíam do céu nublado, deslizando como fios gelados pela pele do rosto de Constantine. Ali, parada diante do prédio imenso, ela ergueu os olhos para a fachada espelhada e contemplava o letreiro dourado que brilhavam imponente contra o cinza do concreto, e da névoa que cobria a cidade: Zanobi Corporation. Por um instante, sentiu que o mundo girava mais devagar. Não era apenas um nome. Era a marca de quem agora havia destruído a paz dela e dos seus tios. Era um universo ao qual ela não pertencia — ou, ao menos, era o que todos ali pareciam querer deixar claro. Do outro lado, na calçada ali próximo, Pi aguardava com a charrete. O chapéu abaixado protegia-lhe do frio, e os cavalos, inquietos, batiam os cascos contra o chão molhado. Constantine fechou os olhos por um segundo... Respirou. O coração batia firme, um pouco apressado, mas ela sabia porque estava ali. E por mais estranho que aquele ambiente fosse, não iria embora sem, pelo menos, tentar. Deu o primeiro passo. E no segundo degrau o medo quase a convenceu a desistir. Porém ela continuou subindo as escadas para o desconhecido. As portas de vidro da Zanobi Corporation se abriram com um sussurro metálico. E Constantine entrou devagar, e o contraste com o ambiente interior foi imediato. Ela percebeu que a classe social daquelas pessoas era muito acima do ambiente que pertencia. O saguão era silencioso, espaçoso e polido demais para parecer real. Os pés dela, ainda úmidos da calçada, deixavam marcas sutis no chão de mármore claro. Ela caminhou em direção a um grande balcão moderno que guardava a entrada da empresa.O coração de Constantine aqueceu no peito — como se aquele pedaço de terra, com sua simplicidade rústica, fosse o único lugar no mundo onde ela pudesse respirar sem medo. A estrada de terra molhada se estreitava à medida que se aproximavam. Foi então que ela o viu: perto da cerca, com as mãos calejadas apoiadas na madeira, o pai de Pi acenava com um sorriso aberto, o rosto marcado pelo tempo e pelo trabalho duro. Constantine respondeu com um aceno caloroso, os olhos marejados. Aquele sorriso, simples e verdadeiro, era tudo o que ela precisava naquele momento. — Vou descer aqui — disse Pi, já se erguendo na charrete. — Vou ajudar o pai com as ferramentas. Você cuida dos cavalos? Ela assentiu com um leve gesto e assumiu as rédeas com firmeza, conduzindo a charrete com calma até os fundos da casa, onde ficava o pequeno estábulo de madeira. O cheiro da terra molhada se misturava com outro aroma, mais doce e acolhedor. Pão assado. O perfume se espalhava no ar como um abraço quente.
Constantine segurava o copo de água entre as mãos. O gesto simples da secretária Nay fora como uma âncora, impedindo-a de se afogar naquele mar de frieza. Respirou fundo, tentando recompor-se. Estava prestes a agradecer e sair quando ouviu passos rápidos atrás de si — passos que pareciam carregar não pressa, mas sarcasmo. — Ora, ora... — disse uma voz masculina, levemente debochada. — O que a princesa provocou dessa vez? Era Vito. Ele se aproximou com um meio sorriso nos lábios, os olhos passando por ela como se a analisasse e já tivesse chegado à própria conclusão. Vestia elegância, mas exalava desdém. Constantine apenas o encarou, sem responder. Ele deu uma risadinha curta e balançou a cabeça, como se soubesse algo que ela não sabia. — Quem avisa, amigo é. Ela continuou em silêncio. Não porque não soubesse o que dizer — mas porque ele não merecia uma resposta. Vito arqueou a sobrancelha, desconcertado por não receber a reação que queria, deu de ombros e foi até o c
A recepcionista a observou de cima a baixo, disfarçando o incômodo com um sorriso profissional. Vestia um terno preto impecável, e tinha as unhas pintadas do mesmo tom nude do batom. — Bom dia. — disse, com voz treinada. — Em que posso ajudar? Constantine respirou fundo. — Eu... gostaria de falar com o senhor Umberto Zanobi. Ou com o administrador da propriedade da família, no interior. A recepcionista hesitou por um segundo. Havia algo diferente naquela mulher à sua frente. Um misto de delicadeza e firmeza. Mas sua expressão permaneceu neutra. — A senhorita tem horário marcado? — Não. Mas é importante. — respondeu Constantine, com os olhos fixos e calmos. A moça digitou algo no computador. O silêncio no saguão era cortado apenas pelo som das teclas e da leve música instrumental tocando ao fundo. — O senhor Zanobi está em reunião importante. E o administrador, senhor Vito, está indisponível no momento. Constantine engoliu seco. Mas não cedeu. — Eu posso esperar
Constantine vivia em uma fazenda no interior com os tios desde que seus pais haviam morrido. Na época, ainda criança, não tinha qualquer vínculo com eles. Mas após o trágico acidente que a deixou órfã, foi enviada à tutela do casal, e ali construiu uma nova vida. No interior, cercada por uma rotina simples e sem grandes agitações, ela cresceu. Com o tempo, aprendeu a amar a terra, os animais, o silêncio da manhã, o cheiro do café recém passado misturado ao da terra molhada. Agora, aos 26 anos, dominava com leveza os afazeres da fazenda e carregava no peito uma tranquilidade que só a natureza sabia proporcionar. Até que, numa manhã comum, uma carta chegou. Era um envelope pardo, de papel firme e tom ameaçador. O tio leu em voz baixa, com a testa franzida e os olhos úmidos: o antigo dono da fazenda havia morrido, e a propriedade fora vendida a um rico empresário da cidade. A notícia caiu como uma tempestade fria sobre todos. E pior: o novo administrador, de maneira ríspida e i
Último capítulo