O coração de Constantine aqueceu no peito — como se aquele pedaço de terra, com sua simplicidade rústica, fosse o único lugar no mundo onde ela pudesse respirar sem medo.
A estrada de terra molhada se estreitava à medida que se aproximavam. Foi então que ela o viu: perto da cerca, com as mãos calejadas apoiadas na madeira, o pai de Pi acenava com um sorriso aberto, o rosto marcado pelo tempo e pelo trabalho duro. Constantine respondeu com um aceno caloroso, os olhos marejados. Aquele sorriso, simples e verdadeiro, era tudo o que ela precisava naquele momento. — Vou descer aqui — disse Pi, já se erguendo na charrete. — Vou ajudar o pai com as ferramentas. Você cuida dos cavalos? Ela assentiu com um leve gesto e assumiu as rédeas com firmeza, conduzindo a charrete com calma até os fundos da casa, onde ficava o pequeno estábulo de madeira. O cheiro da terra molhada se misturava com outro aroma, mais doce e acolhedor. Pão assado. O perfume se espalhava no ar como um abraço quente. Era sinal de Ludovica. Ao chegar ao estábulo, Constantine desmontou devagar. A madeira úmida rangeu sob seus pés, e os cavalos, ainda cobertos de pequenas gotas de chuva, relincharam suavemente quando ela os guiou para dentro. Foi nesse momento que ouviu a voz doce e conhecida: — Constantine! Levantou os olhos. Ludovica estava na porta de casa, com o avental florido e as mãos ainda polvilhadas de farinha. O rosto, embora marcado pelas rugas do tempo, carregava um brilho maternal único — aquele tipo de olhar que cura feridas sem precisar de palavras. Ela acenava. E sorria como quem finalmente tem sua menina de volta. Constantine amarrou os cavalos com cuidado, acariciando o focinho do mais velho antes de deixar o estábulo. O cheiro de feno e pão assado se misturava ao ar limpo da tarde, agora iluminada por uma luz suave que rompia entre as nuvens, tocando tudo com um brilho dourado. Ao se virar, viu Ludovica caminhando em sua direção com os braços abertos. Sem precisar dizer uma palavra, a tia envolveu a sobrinha num abraço apertado, quente como o forno da cozinha. Constantine enterrou o rosto no ombro dela por um breve instante — e, naquele gesto simples, deixou para trás toda a aspereza da cidade. — Graças a Deus você voltou bem, minha menina — murmurou Ludovica, com a voz embargada de ternura. Logo em seguida, Tommaso apareceu à porta da casa. Já mais calmo, o rosto enrugado estava sereno. Um leve sorriso curvou seus lábios enquanto caminhava até elas com passos lentos, mas firmes. — Nosso raio de sol tá em casa — disse ele, abrindo os braços. Constantine sorriu, os olhos ainda marejados, mas cheios de brilho. — Adivinha o que eu trouxe pra vocês? Ludovica piscou, surpresa. — O quê? Constantine ergueu as mãos vazias num gesto dramático. — Boas notícias… e um apetite de faz-tudo! Constantine deu um meio sorriso sapeca, vasculhou a bolsa de couro surrada que carregava e retirou uma pequena caixinha embrulhada com um laço vermelho. Estava um pouco amassada pelo trajeto, mas ainda encantadora. — Vocês acham que eu ia esquecer dos seus favoritos? Ludovica levou as mãos à boca, emocionada. Tommaso inclinou a cabeça, curioso. Constantine abriu a tampa da caixinha e revelou uma seleção simples, mas cuidadosamente escolhida, de chocolates artesanais. — Sabia que depois de um dia desses… só chocolate salva. Os olhos de Tommaso brilharam. — Você ainda lembra… — Sempre — ela respondeu, com o sorriso mais genuíno daquele dia. Eles riram, felizes como crianças diante de um mimo inesperado. Ludovica abraçou a sobrinha mais uma vez, apertando-a com força, e Tommaso tirou um dos bombons da caixa antes mesmo de entrarem em casa. — Esse aqui é meu! — disse ele, fingindo correr, arrancando mais risadas. A tarde terminou com a porta se abrindo, o calor da casa acolhendo todos, os risos se espalharam pela varanda, ecoando entre as árvores e acompanhando o cheiro de pão que ainda perfumava o ar. E naquele fim de tarde, a fazenda voltou a ser casa — viva, quente e cheia de esperança.