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Capítulo 3 - Luz depois da tempestade

Constantine segurava o copo de água entre as mãos. O gesto simples da secretária Nay fora como uma âncora, impedindo-a de se afogar naquele mar de frieza. Respirou fundo, tentando recompor-se.

Estava prestes a agradecer e sair quando ouviu passos rápidos atrás de si — passos que pareciam carregar não pressa, mas sarcasmo.

— Ora, ora... — disse uma voz masculina, levemente debochada. — O que a princesa provocou dessa vez?

Era Vito.

Ele se aproximou com um meio sorriso nos lábios, os olhos passando por ela como se a analisasse e já tivesse chegado à própria conclusão. Vestia elegância, mas exalava desdém.

Constantine apenas o encarou, sem responder.

Ele deu uma risadinha curta e balançou a cabeça, como se soubesse algo que ela não sabia.

— Quem avisa, amigo é.

Ela continuou em silêncio. Não porque não soubesse o que dizer — mas porque ele não merecia uma resposta.

Vito arqueou a sobrancelha, desconcertado por não receber a reação que queria, deu de ombros e foi até o cantinho do café ali mesmo.

Nay lançou um olhar rápido para Constantine e murmurou, quase sem mover os lábios:

— Melhor ignorar esse tipo. Ele adora o som da própria voz.

Constantine assentiu, com um leve sorriso.

Por dentro, algo crescia — uma força silenciosa, mas inabalável.

Ela não era uma princesa.

Mas se alguém quisesse guerra… ela não recuaria.

Vito, agora encostado na parede ao lado da cafeteria interna da recepção, observava tudo com uma xícara de café nas mãos. O som da colher batendo levemente na porcelana preenchia o espaço como um relógio de contagem regressiva. Ele sorria. Mas não era um sorriso amigável. Era o tipo de expressão que vem de quem sabe que algo está prestes a explodir… e está ansioso por isso.

Constantine ainda segurava o copo de água que Nay lhe entregara. As mãos haviam parado de tremer, mas o sangue ainda fervia sob a pele. O silêncio do saguão era estranho.

Foi então que a porta do fundo se abriu com violência. Umberto apareceu. O ambiente, antes sutilmente tenso, travou por completo. Até mesmo a outra recepcionista estacou os dedos no teclado. Nay, em pé próxima a Constantine, se endireitou imediatamente.

Os olhos dele...

Vermelhos de raiva.

A testa franzida em fúria crua.

A mandíbula, tensa como pedra sob pressão.

Ele marchou até Constantine, fuzilando-a com o olhar. Ela nem teve tempo de pensar. Apenas o encarou, instintivamente erguendo o rosto — ela não recuaria.

Vito permaneceu ao fundo, levando calmamente o café à boca, como se estivesse assistindo a um espetáculo teatral. Umberto parou diante dela.

— Você pensa que pode me ameaçar? — rosnou, erguendo a mão e apontando o dedo em sua direção. — Uma forasteira, ignorante, criada no meio de vacas, vindo aqui me dizer que isso não vai acabar? Você não sabe com quem está lidando!

As palavras saíam cuspidas, afiadas. Constantine não respondeu. Estava chocada, sim, mas firme. Mas antes que ele pudesse despejar mais veneno, uma voz cortou o ar como lâmina de gelo:

— Umberto!

Todos viraram ao mesmo tempo. Emilyke, impecável em um conjunto creme de alfaiataria, caminhava pelo saguão como se o chão fosse seu palco. O salto de seus sapatos soava como gongo. Olhos azuis frios. Um leve levantar de sobrancelha.

— O que está acontecendo aqui?

Umberto parou.

Emilyke se aproximou devagar, sem desviar o olhar do noivo. Ela não precisava gritar. O tom calmo era mais cortante que qualquer berro.

— Você está gritando com essa moça… no meio da empresa?

Ele fechou a mão que antes apontava para Constantine, respirando pesado. O ar parecia mais denso e mais escuro.

Emilyke olhou para Constantine, então para Nay, e depois lançou um olhar breve para Vito — que, nesse momento, já havia pousado a xícara e fingia não estar prestando atenção.

— Que falta de elegância, amor — murmurou, ainda com o tom de desaprovação.

Umberto passou a mão pelo rosto, tentando conter a fúria. Por dentro, ainda queimava. Mas não disse mais nada.

Constantine deu um passo para trás, ainda com o copo nas mãos. Enquanto Emilyke falava com Umberto, em um tom frio e controlado, Constantine deu um passo discreto para o lado, depois outro. Nay percebeu, mas não disse nada. Apenas observou em silencio.

E então, como uma sombra que sabe quando é hora de partir, Constantine saiu da Zanobi Corporation sem ser notada.

Ao passar pela porta de vidro, o ar frio da rua bateu em seu rosto. As gotas finas de chuva que ainda caíam pareceram abraçá-la como um velho conhecido.

Ela andou alguns passos até virar a esquina do prédio… e parou.

Ali, sem mais ninguém para testemunhar, o copo de dignidade que ela segurava transbordou. Ela chorou.

Não era um choro alto ou desesperado. Era um desabafo silencioso, contido por tempo demais. As lágrimas escorriam quentes, misturando-se à chuva. Ela levou as mãos ao rosto, respirou fundo, deixou sair tudo aquilo que não pôde mostrar lá dentro.

Medo. Raiva. Frustração. Impotência. Por alguns segundos, permitiu-se ser frágil. Mas então… ouviu o som familiar dos cascos. Levantou os olhos.

Pi estava ali, parado na calçada com a charrete, como sempre, esperando por ela. Quando a viu, levantou a mão em cumprimento, com um sorriso tranquilo no rosto.

Constantine enxugou o rosto rapidamente com a manga do casaco. Forçou um sorriso — e quando viu o olhar preocupado de Pi, ela o suavizou ainda mais.

— E aí, deu certo? — ele perguntou, enquanto estendia a mão para ajudá-la a subir.

Ela assentiu com um meio sorriso, subindo com leveza.

— Melhor do que esperava — respondeu, como se tivesse acabado de sair de uma reunião cordial.

A charrete partiu devagar, sumindo entre a neblina da manhã, enquanto as lágrimas que haviam caído já se confundiam com a brisa fria da cidade. E só Constantine sabia o quanto aquele sorriso custou.

Enquanto a charrete cortava as ruas da cidade, Constantine manteve os olhos fixos à frente, sem dizer nada. Mas Pi, sentado ao seu lado, percebeu. Ele sempre percebia.

— Quer falar sobre o que aconteceu lá? — perguntou com delicadeza.

Ela olhou para ele, seus olhos ainda um pouco marejados. Hesitou. Depois sorriu, mesmo que fosse um sorriso triste.

— Só me diz que ainda temos batatas crescendo no campo.

Pi sorriu de volta, orgulhoso.

— Muitas. As que você me ensinou a cuidar estão ficando até bonitas.

Constantine suspirou, aliviada.

— Isso já me basta por hoje.

Por um instante, o silêncio entre eles não era vazio. Era conforto. Era cuidado.

— Sabe, Constantine… — Pi disse, olhando para frente — meu pai diz que você é como as batatas.

Ela franziu a testa, divertida.

— Como assim?

— Que cresce por baixo da terra, onde ninguém vê…, mas quando a gente cava, tem coisa boa lá.

Constantine riu de verdade pela primeira vez naquele dia. E ali, entre o som dos cascos e a neblina fina, o choro virou gratidão.

A paisagem cinzenta da cidade ia ficando para trás, e a chuva fina batia no toldo da charrete como uma canção sem melodia. Constantine mantinha o olhar perdido nas gotas escorrendo, quando uma lembrança se infiltrou em sua mente, suave como o vento frio que lhe tocava o rosto.

Ela sorriu sozinha.

— Lembrei de uma coisa — disse, quebrando o silêncio.

Pi olhou para ela com curiosidade.

— Lembra daquela vez que você tropeçou no monte de batatas e caiu sentado direto dentro do cesto? — ela disse, rindo.

Pi soltou uma gargalhada.

— E você mandou eu ficar ali quieto porque disse que estava “equilibrando a colheita”!

— E você respondeu que era "o rei das batatas", sentado no trono de terra — completou Constantine, já rindo com os olhos brilhando.

Os dois caíram na risada.

Foi só um instante. Mas naquele instante, a dor deu lugar à leveza. E a charrete seguiu adiante, carregando não só corpos cansados, mas memórias que aqueciam até mesmo no mais gelado dos invernos.

A medida que a charrete deixava para trás o concreto frio da cidade, a paisagem começava a se transformar como um sopro de vida após a tormenta.

Os campos verdes se estendiam até onde os olhos podiam alcançar, salpicados de pequenas flores silvestres que dançavam ao vento. O céu, antes pesado e nublado, agora se abria pouco a pouco, e um arco-íris tímido começava a se formar, como um presente inesperado entre as nuvens dissipadas.

À beira do caminho, ovelhas brancas pastavam com tranquilidade, alheias às preocupações humanas, pontuando o cenário com sua serenidade macia. Os galhos das árvores, ainda úmidos da chuva, curvavam-se suavemente sobre a estrada de terra, e as folhas perfumadas tocavam levemente a charrete, como se lhe oferecessem boas-vindas.

O ar estava impregnado de um aroma fresco, terroso e doce — um perfume natural de flores recém-abertas e terra molhada, que invadia os pulmões e lavava a alma. Constantine respirou fundo. Pela primeira vez naquele dia, sentiu-se em casa.

Naquele instante, ela compreendeu: o mundo lá fora podia ser duro, mas aquele pedacinho de chão ainda guardava tudo que havia de mais puro.

Aos poucos, entre os contornos das árvores e o verde profundo dos campos, a fazenda surgiu no horizonte.

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