Mundo de ficçãoIniciar sessãoPouco tempo depois, Tommaso entrou no quarto trazendo consigo um urso de pelúcia, recém-comprado em uma barraquinha próxima à mansão.
Os olhos de Constantine brilharam ao vê-lo. — Olha o que o seu tio, esse velho babão, trouxe pra você — disse ele, emocionado, aproximando-se e beijando-lhe a testa. Constantine sorriu, apertando o brinquedo contra o peito. — Meu tio... ver você já é o meu presente. Tommaso sorriu de volta, tentando esconder a voz embargada. — O doutor vai vir ver você depois do almoço. É bom te ver assim, mais forte, minha menina. Ela assentiu, e por um instante, ambos ficaram em silêncio. Tommaso permaneceu sentado na poltrona ao lado da cama, conversando alegremente com Constantine. A serenidade daquele momento foi interrompida por uma leve batida na porta — que já estava entreaberta, como se o som fosse apenas um pedido de licença. Umberto surgiu acompanhado do médico. — O doutor se adiantou — anunciou ele, com a voz calma. — E Gostaria de conversar com você em particular, Constantine, para entender melhor o que está sentindo. Tommaso assentiu e, antes de sair, acariciou o ombro da sobrinha. Logo, o quarto ficou em silêncio, apenas o som suave do relógio marcava o tempo. O médico colocou os instrumentos sobre a mesinha ao lado da cama, puxou a poltrona e sentou-se diante dela. — E então, minha querida, o que você tem sentido? — perguntou com gentileza. Constantine respondeu com um tom mais firme, quase sorrindo: — Estou bem, doutor. Graças ao senhor. Ele a observou com atenção. — Fizemos alguns exames, e aparentemente está tudo normal. Mas... — fez uma pausa breve — é possível que o seu mal-estar tenha origem emocional. Não posso afirmar ainda, mas é uma hipótese. Por isso quero que se sinta à vontade comigo. Me conte um pouco sobre o que tem vivido, o que te preocupa. Ela desviou o olhar para a janela entreaberta e, após um silêncio, respondeu apenas: — Está tudo bem. Talvez tenha sido só uma virose..., mas eu já estou melhor. O médico assentiu, compreendendo que seria inútil insistir naquele momento. — Muito bem. Ainda assim, quero que permaneça aqui por mais alguns dias. Caminhe um pouco pelos jardins, leia, respire. Eu a observarei de perto. Antes de se levantar, disse com doçura: — Quero que me veja como um amigo, Constantine. Pode confiar em mim. Ela respondeu apenas com um leve aceno de cabeça e um sorriso discreto, sem dizer mais nada. Após a saída do médico, Constantine permaneceu ali, olhando pela janela. O vento movia lentamente as cortinas brancas, e tudo ao redor parecia distante, o som, a luz, o tempo. Ela mergulhou em pensamentos profundos, até que ouviu passos firmes se aproximando pelo corredor. Quando virou o rosto, Umberto já estava dentro do quarto. Ele caminhou até a poltrona ao lado da cama e se sentou, com os ombros largos relaxando no encosto. — Como está se sentindo? — perguntou, com a voz mais suave do que de costume. — Consegue me dizer o que provocou essa febre? Constantine sorriu de leve. — Nem eu sei... só me lembro de me sentir muito cansada. Ele gesticulou a cabeça em sinal de compreensão, em silêncio, e então continuou desajeitado: — Falta alguma coisa aqui?... Travesseiros, cobertas? Está confortável? — Está tudo bem — respondeu ela, com gentileza. — Obrigada por ter me trazido, e por tudo o que fez. Umberto desviou o olhar, um pouco. — O que o doutor disse? — perguntou, quebrando o silêncio. — Boas notícias, eu acredito. Constantine esboçou um leve sorriso, abaixou a cabeça e respondeu: — Ele disse que pode ser algo emocional. Umberto arqueou uma sobrancelha e ficou quieto por alguns segundos, observando o chão. — E o que você sente, emocionalmente? — perguntou enfim. Ela respirou fundo antes de responder: — Eu não estou pronta pra falar sobre isso agora. Ele concordou inclinando a cabeça devagar, com um meio sorriso. — Tudo bem. Eu também não costumo falar dos meus sentimentos. As pessoas olham pra mim e veem o homem personalidade forte, um chefe durão..., mas, por dentro, às vezes, eu só sou alguém com medo. Umberto quebrou o silêncio: — E então... você gostou do colar? — perguntou, lançando um olhar discreto em direção à cômoda. — Não o vi usando. Constantine corou levemente e respondeu em tom calmo: — Gostei muito. É lindo, de verdade... mas acho que agora não é o momento certo para usá-lo. Ele desviou o olhar para a caixinha sobre a cômoda, levantou-se sem dizer nada e foi até lá. Pegou o pequeno estojo com cuidado e voltou a se sentar diante dela. Abriu a caixa devagar, revelando o colar que cintilava sob a luz que entrava pela janela. — Eu acredito que o melhor momento para usar — disse ele, prendendo o olhar no dela — é agora. Segurou o pingente entre os dedos e completou, com voz baixa: — Aqui dentro, há mais do que um presente. Há boas energias, para que você recupere sua saúde o mais rápido possível. Constantine hesitou por um instante, mas então levou as mãos aos cabelos, erguendo-os lentamente, revelando o pescoço. Umberto se inclinou e, com um gesto cuidadoso, prendeu o colar ao redor dela. Nesse momento, Ludovica entrou no quarto com uma bandeja nas mãos, trazendo o almoço de Constantine. Ao cruzar a porta, seus olhos logo notaram Umberto sentado ao lado da cama e Constantine com um colar novo no pescoço, as bochechas levemente coradas. Percebendo a presença de Ludovica, Umberto levantou-se com discrição. — Bom, já estou de saída. Está no meu horário de ir para a empresa. Desejo-lhe um bom almoço, Constantine. Senhora Ludovica, boa tarde. — disse ele, com um leve aceno, antes de se retirar. Ludovica o acompanhou com o olhar até a porta, notando algo que ela não soube definir. Um leve sorriso surgiu em seus lábios, mas logo foi substituído por um traço de preocupação. Ainda assim, dissipou aquele pressentimento e se aproximou da filha. — Trouxe seu almoço, minha querida — disse, pousando a bandeja sobre a mesinha ao lado. — Você precisa ficar mais forte para voltarmos logo para casa. Constantine retribuiu o sorriso e começou a comer sob o olhar atencioso da mãe. Conversaram por alguns minutos, e ela contou tudo o que o médico dissera, garantindo: — Mais tarde, vou falar com o tio também sobre o que o doutor me disse. Naquela tarde, enquanto Umberto chegava à empresa, Emilyke se aventurava em um passeio pela mansão. Percorreu os corredores amplos, admirando cada detalhe do lugar. O jardim chamou especialmente sua atenção: era um espetáculo de cores e perfumes, com flores que se abriam sob o toque suave do sol. Entre tantos cômodos, um espaço em particular lhe despertou curiosidade — a biblioteca, ou melhor, o escritório de Umberto. O ambiente guardava um ar de sobriedade e história. Nas prateleiras, livros cuidadosamente alinhados; sobre a mesa, miniaturas e objetos antigos — um relógio de bolso, talvez herdado de alguém próximo, repousava ao lado de uma caneta de metal. Constantine passou os dedos sobre as peças com um misto curiosidade, imaginando o homem por trás daquela ordem impecável, tão severo, e, ainda assim, ligado ao passado. Enquanto isso, na Zanobi Corporation, Umberto mergulhava em reuniões e documentos. Entre uma assinatura e outra, Vito apareceu na porta, trazendo seu habitual ar descontraído. — E então? — disse ele, apoiando-se na moldura. — Como anda a moça da fazenda? Umberto ergueu o olhar brevemente, sem demonstrar emoção. — Ela está na cidade. Veio para tratamento — respondeu com calma. — Acredito que já esteja melhor. Vito arqueou uma sobrancelha, observando o amigo em silêncio por um instante, como se avaliasse algo nas entrelinhas. O que ele imaginava, preferia não confirmar. Vito o observou por alguns segundos, um sorriso enviesado surgindo no canto dos lábios. — Você anda bem informado a respeito daquela moça da fazenda, não é? — provocou, com um tom que misturava ironia e curiosidade. Umberto, sem erguer totalmente o olhar, continuou assinando os papéis sobre a mesa. — Apenas o necessário — respondeu, seco, como quem tenta encerrar o assunto antes mesmo de começar. Mas Vito deu alguns passos pelo escritório, fingindo observar um quadro na parede. — Engraçado... — disse ele, voltando-se para o amigo. — Desde quando você se importa o suficiente para saber se essa gente está melhor ou não? Umberto parou por um instante, a caneta ainda entre os dedos. O silêncio que se formou pareceu pesar no ar. Por fim, ele apenas suspirou e disse: — Talvez eu só esteja tentando fazer o que é certo. Vito soltou uma risada baixa, descrente. — Ou talvez o que é inevitável — comentou, antes de seguir até a porta. — Cuidado, Berto... certas pessoas entram na vida da gente sem pedir licença e causam estrago irreversível. Umberto o acompanhou com o olhar até ele desaparecer pelo corredor. Depois, apoiou-se na mesa e fitou a janela, o pensamento distante e, pela primeira vez em muito tempo, o trabalho já não parecia o suficiente para distraí-lo.






