Ela acreditava ter encontrado seu final feliz. Anos de namoro, uma casa compartilhada, o noivado dos sonhos e todos os detalhes de um casamento que prometia ser perfeito. Mas o retorno inesperado da ex do noivo — a mesma que o abandonara quando ele mais precisava — destrói tudo. Alegando estar à beira da morte, a mulher exige dele devoção e “últimos desejos”. Movido por pena, ele se torna cruel: humilha sua noiva em público, usa as lembranças do casamento deles para presentear a ex e até a obriga a se desculpar por coisas que não fez. A dor chega ao auge quando ele encena um casamento com a ex usando tudo o que fora preparado para ela. Despedaçada, a noiva traída decide aceitar um destino inesperado: um casamento arranjado com um homem frio, poderoso e distante — alguém que também carrega feridas ocultas. O que começa como um acordo de conveniência logo se transforma em uma batalha de orgulho, redenção e sentimentos proibidos. Entre a dor e a esperança, ela descobrirá que ser descartada foi, na verdade, a chance de reescrever sua própria história.
Leer másO vestido branco descansava em uma poltrona antiga no quarto que Isabela dividia com Adriano, guardava com ele a nobreza e a força destinada para o dia do casamento. Todo detalhe foi devidamente escolhido e planejado por ela: a renda delicada, os bordados que cintilavam sob a luz suave da manhã, o corte sonhado desde menina. Para Isabel, não era apenas um vestido; era a representação do amor entre ela e Adriano.
Ela suspirou fundo ao sentir o toque do tecido, sentiu o coração acelerar e a respiração quase falhar ao passar os dedos pelo tecido, lembrando do dia em que Adriano a pedira em casamento, foi o dia mais feliz de sua vida. Seus olhos sempre ficavam úmidos, lembrando daquele momento, daquele brilho nos olhos dele, tão seguro, tão apaixonado... agora parecia um fantasma de um tempo distante.
Adriano havia mudado, desde que Elena voltou.
Um frio, uma distância quase imperceptível tinha se instalado entre eles nos últimos meses. Aqueles pequenos gestos que a envolviam — um beijo roubado na cozinha, um bilhete deixado no travesseiro, uma risada cúmplice — sumiram como areia escorrendo entre os dedos. No lugar, ficou um silêncio incômodo, disfarçado por algo que Isabel não ousava perguntar em voz alta.
Elena, a ex-noiva que o abandonara em meio à doença e ao desespero, voltou e junto com ela, o relacionamento de Adriano e Isabela chegava ao fim. Elena falava que estava muito doente, à beira da morte, e usava isso para estar sempre colada a Adriano, trazendo de volta lembranças que Isabel acreditava enterradas.
Adriano, com um olhar carregado de culpa e nostalgia, não hesitara em abrir as portas da própria casa para acolhê-la.
— Ela não tem mais ninguém, Isa... — repetira tantas vezes que a frase se tornara um eco dentro da cabeça da jovem. — Eu estaria sendo um monstro se não a ajudasse agora.
Isabel compreendia a compaixão, mas ela não aceitava, não acreditava, algo não parecia certo. Ela era doce por natureza, tinha um coração aberto e acreditava que o amor verdadeiro não se assustava com fantasmas do passado.
Naquela manhã, a prova do que ela nunca esperou se tornou realidade.
Ao descer para o café, Isabel deu de cara com Adriano sentado à mesa com Elena. Os dois riam baixo, como se dividissem um segredo. Ela, pálida e frágil naquela encenação que já era quase sua marca registrada, segurava a mão dele com a segurança de quem acreditava ter um direito adquirido, incontestável.
— Bom dia — murmurou Isabel, engolindo o nó que teimava em subir pela garganta.
Adriano não desviou os olhos do prato. Apenas acenou com a cabeça, como quem cumprimenta uma desconhecida.
Elena, por outro lado, sorriu com uma doçura calculada.
O bolo. O estômago de Isabel se revirou só de ouvir aquela palavra. Cada detalhe daquela escolha tinha sido vivido com ela. E agora tudo se transformava em um presente dado de bandeja à mulher que um dia o abandonou. Tudo o que era dela estava sendo entregue.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Adriano ergueu os olhos. Finalmente a olhou. Mas não havia ternura ali. Só uma súplica muda, misturada a uma ordem velada.
Compreensiva. Sempre. Ceder, engolir, fingir que não doía. Sempre o mesmo papel: ser a que entende, a que espera, a que se apaga.
O silêncio de Isabel, como sempre, foi lido como aceitação. Elena apertou ainda mais a mão dele, satisfeita, e Isabel forçou um sorriso mecânico, sabendo que, naquele instante, mais um pedaço dela se apagava.
Só que algo mudou. Entre a dor e a humilhação, uma fagulha nasceu. Pequena, ainda tímida, sufocada pelas lágrimas que ela segurava... mas real.
E Adriano, sem perceber, acabava de começar a perder a mulher que jurava que jamais o deixaria.
O dia no solar começou com uma calma quase enganosa. O céu estava limpo, e o vento soprava suave, espalhando o perfume das flores recém-abertas. Isabel caminhava pelo jardim, sentindo os pés leves sobre a grama úmida. A memória da noite anterior — a confissão, o toque de Gabriel em sua mão, a promessa silenciosa de aprenderem juntos — ainda a aquecia por dentro.Ela se surpreendia com a rapidez com que sua percepção mudava. O solar, antes um espaço de lembranças e de obrigações, agora parecia abrigar também um futuro. E esse futuro tinha o rosto de Gabriel.Ao retornar para a casa, encontrou-o no salão, revisando alguns papéis. Mas, quando a viu, deixou tudo de lado, como se nada fosse mais importante do que ela naquele instante.— Bom dia, Isabel. Dormiu bem?— Melhor do que em muitos anos — respondeu, sorrindo, um pouco tímida. — Acho que já consigo respirar sem medo.Gabriel se aproximou, parando diante dela.— E eu quero que continue assim. Não apenas porque fizemos um acordo, mas
O dia seguinte parecia ter começado com a mesma calma das manhãs em Santa Aurélia. O sol atravessava as cortinas do quarto de Isabel, e por um instante ela se permitiu acreditar que o mundo lá fora também havia silenciado. Mas logo os ecos do passado voltaram a se insinuar em sua mente, lembrando-lhe de que nada estava realmente esquecido.No café da manhã, Gabriel já a aguardava à mesa. Ele levantou-se quando ela entrou, um gesto natural que sempre a surpreendia.— Dormiu bem? — perguntou, observando atentamente o rosto dela.— Melhor do que imaginava — respondeu Isabel, sentando-se. — Acho que a dança de ontem roubou os meus pensamentos.O leve sorriso que surgiu nos lábios de Gabriel trouxe um calor inesperado ao ambiente.— Então dançaremos mais vezes — disse ele, sem hesitar.Isabel baixou os olhos, sentindo o coração acelerar com a promessa implícita.Enquanto isso, nas ruas discretas da cidade, Adriano circulava em um automóvel alugado, observando o solar à distância. Os muros
A noite caiu sobre Santa Aurélia com um frescor leve, e o solar parecia respirar em silêncio. Isabel caminhava pelos corredores, incapaz de dormir. As emoções dos últimos dias ainda a agitavam, como ondas que não se aquietavam. Decidiu descer até o salão principal, onde a penumbra era quebrada apenas pela luz suave das lamparinas.Para sua surpresa, Gabriel já estava lá. Estava junto ao piano, folheando algumas partituras antigas que pertenciam à família Valente. Ele ergueu o olhar ao perceber a presença dela, e um sorriso discreto surgiu em seus lábios.— Também não consegue dormir?Isabel se aproximou, sorrindo de volta.— Não. Acho que meus pensamentos não sabem descansar.Ele se afastou do piano e caminhou até ela. Havia uma calma em seus gestos que a envolvia de imediato. Isabel percebeu então que um gramofone antigo repousava sobre um aparador próximo, e Gabriel ajustou-o sem pressa. Logo, uma melodia suave preencheu o salão, notas delicadas que se espalhavam pelo ar como se tiv
O solar repousava em silêncio quando a tarde começou a se tingir de tons dourados. Isabel caminhava pelos corredores, sem rumo, apenas ouvindo o som distante do vento contra as janelas. Desde a visita ao vinhedo, algo nela se transformara. Gabriel não era mais apenas o noivo por contrato, nem o herdeiro de uma tradição. Aos poucos, tornava-se presença indispensável, alguém que a fazia sentir novamente o calor de um futuro possível.Ela encontrou-o na varanda lateral, apoiado no corrimão, observando os jardins. A postura ereta, os ombros largos e o olhar atento faziam-no parecer parte da própria casa, como se pertencesse àquela terra tanto quanto as roseiras que floresciam a cada estação. Gabriel virou-se ao ouvir os passos dela, e o leve sorriso que surgiu em seus lábios foi suficiente para acelerar o coração de Isabel.— Está perdida em pensamentos — disse ele, estendendo-lhe a mão para que se aproximasse.Isabel segurou-a, surpreendendo-se com a naturalidade do gesto.— Talvez estej
A manhã no solar começou tranquila. O sol entrava pelas janelas altas da sala de estar, espalhando reflexos dourados no chão de mármore. Isabel havia acordado cedo e, em um impulso, decidiu passear pelos jardins antes que o movimento do dia tomasse conta da casa. Vestida de forma simples, caminhava entre as roseiras quando percebeu a presença de Gabriel, observando-a à distância.Ele se aproximou sem pressa, as mãos nos bolsos, como se o simples ato de encontrá-la ali fosse parte natural de sua rotina.— Está diferente hoje — comentou, olhando para o rosto dela iluminado pela manhã. — Mais leve.Isabel sorriu de canto, inclinando a cabeça.— Talvez porque, pela primeira vez, sinto que pertenço a este lugar.Gabriel não respondeu de imediato. Apenas caminhou ao lado dela, em silêncio, permitindo que o vento e os pássaros preenchessem o espaço entre as palavras. Era esse o detalhe que Isabel começava a notar nele: Gabriel não tinha pressa de falar, tampouco de impressionar. Ele simplesm
O solar Valente estava iluminado naquela noite, preparado para receber um jantar íntimo em família. Teresa fizera questão de reunir todos: era a primeira vez que Gabriel e Isabel se apresentariam não diante da sociedade, mas diante do círculo mais próximo dos Valente. E, de certo modo, essa prova parecia ainda mais difícil.Isabel se arrumou com cuidado. Escolheu um vestido azul profundo, discreto mas elegante, e deixou os cabelos soltos sobre os ombros. Ao se olhar no espelho, respirou fundo. Não era apenas sobre aparência; era sobre mostrar à própria mãe que estava disposta a seguir em frente.Quando desceu a escadaria, encontrou Gabriel já a esperando no hall. Ele vestia um terno cinza escuro, simples, mas impecável. Ao vê-la, interrompeu qualquer conversa com Álvaro e se voltou totalmente para ela.— Está linda — disse, sem exagero, mas com firmeza, como quem afirmava um fato.Isabel corou levemente e aceitou o braço que ele lhe oferecia.Na sala de jantar, Teresa aguardava à cabe
Último capítulo