Capítulo 3 – O Último Golpe

O salão brilhava. Lustres enormes pendiam do teto, o cristal refletindo uma luz fria, tornando aquele evento memorável para cada um presente ali. Ela entrou devagar, era cada vez mais difícil cada passo. Teve a sensação de que todos os olhares se voltavam para ela. Só havia pena neles.

As vozes, sussurradas, a cortavam em pedaços:

— É ela... a noiva dele... ele tirou tudo dela

— Pobrezinha... tão nova... trocada pela ex

— E pensar que tudo isso deveria ser dela...

Apertou as mãos em formato de punho, levantou o queixo. Ela não ia se deixar parecer fraca ali, mesmo que por dentro estivesse em frangalhos. Precisava encarar de frente o que já sabia: Adriano a trocara por Elena, e ela não queria mais aquela vida.

E lá estava ele.

De terno cinza impecável, a postura dominante, como quem não se importa com a consequência daquele dia... E, ao lado dele, Elena. Vestida como o vestido branco dela. O MEU VESTIDO. O mesmo que ela provara, sonhara, cuidara e segurara como quem segura o futuro nas mãos. Agora abraçava o corpo frágil dela, que sorria com uma doçura fingida; parecia que só ela via a farsa, mas os olhos que brilhavam de triunfo.

— Senhoras e senhores — anunciou a voz firme do mestre de cerimônias —, é com grande emoção que apresentamos o noivado de Adriano Monteiro e Elena Vasconcelos.

Nessa hora o chão pareceu fugir. O corpo dela quis desabar, mas ela permaneceu em pé. O buffet, as flores, a música... tudo era escolha dela. Cada detalhe que ela ajudara a escolher agora estava ali, entregue por Adriano a outra.

Adriano cruzou o olhar com ela por um instante. Nada de ternura. Nada de arrependimento. Talvez só um resquício de culpa, frágil demais para significar alguma coisa.

Elena, saboreando cada segundo da queda dela, veio até ela após o anúncio.

— Espero que não esteja magoada — disse, com aquele sorriso melado. — Não é minha culpa se ele me ama de verdade.

Ela apertou os punhos até as unhas cravarem na pele. A dor física foi o que a manteve de pé. Quis gritar, chorar, exigir respostas. Mas não deu a ela o prazer de vê-la quebrar.

— Desejo que seja tudo o que você sempre quis, Elena, porque até agora você teve o que é meu e ele não tem mais nada para tirar de mim e te entregar — respondeu ela, serena por fora, mas em ruínas por dentro.

Voltou para casa em silêncio. Cada lembrança do salão a acompanhava como uma afronta: o vestido, as flores, a música... tudo que deveria ser seu. Sentou-se na beira da cama, encarando o vazio, até que uma memória antiga emergiu: a promessa do pai, feita quando ela ainda era criança.

Um pacto esquecido, com a família Ferraz. Um casamento arranjado que sempre parecia um detalhe distante, quase sem importância. A mãe nunca lhe cobrara aquilo. Mas agora, com o mundo dela desmoronado, aquilo parecia a única saída.

Pegou o telefone com as mãos trêmulas. Discou o número da mãe. O coração disparava.

— Isabel? — a voz dela soou preocupada. — Filha, o que houve?

As lágrimas finalmente vieram, quentes, mas a voz dela saiu firme, cortante.

— Mãe... eu aceito.

— Aceita o quê, querida? — ela perguntou, confusa.

Ela respirou fundo, sentindo uma parte dela morrer e outra nascer, feita de aço e dor.

— Eu aceito o casamento prometido. Aquele que papai arranjou quando eu era criança. Estou pronta.

Do outro lado, silêncio. Um silêncio cheio de surpresa e sofrimento. Mas ela sabia: não havia volta. Não depois de tudo o que lhe fora arrancado.

E assim, entre lágrimas e orgulho, ela selou o início de um novo caminho. Não de amor — mas de contrato.

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