O vestido branco descansava em uma poltrona antiga no quarto que Isabela dividia com Adriano, guardava com ele a nobreza e a força destinada para o dia do casamento. Todo detalhe foi devidamente escolhido e planejado por ela: a renda delicada, os bordados que cintilavam sob a luz suave da manhã, o corte sonhado desde menina. Para Isabel, não era apenas um vestido; era a representação do amor entre ela e Adriano.
Ela suspirou fundo ao sentir o toque do tecido, sentiu o coração acelerar e a respiração quase falhar ao passar os dedos pelo tecido, lembrando do dia em que Adriano a pedira em casamento, foi o dia mais feliz de sua vida. Seus olhos sempre ficavam úmidos, lembrando daquele momento, daquele brilho nos olhos dele, tão seguro, tão apaixonado... agora parecia um fantasma de um tempo distante.
Adriano havia mudado, desde que Elena voltou.
Um frio, uma distância quase imperceptível tinha se instalado entre eles nos últimos meses. Aqueles pequenos gestos que a envolviam — um beijo roubado na cozinha, um bilhete deixado no travesseiro, uma risada cúmplice — sumiram como areia escorrendo entre os dedos. No lugar, ficou um silêncio incômodo, disfarçado por algo que Isabel não ousava perguntar em voz alta.
Elena, a ex-noiva que o abandonara em meio à doença e ao desespero, voltou e junto com ela, o relacionamento de Adriano e Isabela chegava ao fim. Elena falava que estava muito doente, à beira da morte, e usava isso para estar sempre colada a Adriano, trazendo de volta lembranças que Isabel acreditava enterradas.
Adriano, com um olhar carregado de culpa e nostalgia, não hesitara em abrir as portas da própria casa para acolhê-la.
— Ela não tem mais ninguém, Isa... — repetira tantas vezes que a frase se tornara um eco dentro da cabeça da jovem. — Eu estaria sendo um monstro se não a ajudasse agora.
Isabel compreendia a compaixão, mas ela não aceitava, não acreditava, algo não parecia certo. Ela era doce por natureza, tinha um coração aberto e acreditava que o amor verdadeiro não se assustava com fantasmas do passado.
Naquela manhã, a prova do que ela nunca esperou se tornou realidade.
Ao descer para o café, Isabel deu de cara com Adriano sentado à mesa com Elena. Os dois riam baixo, como se dividissem um segredo. Ela, pálida e frágil naquela encenação que já era quase sua marca registrada, segurava a mão dele com a segurança de quem acreditava ter um direito adquirido, incontestável.
— Bom dia — murmurou Isabel, engolindo o nó que teimava em subir pela garganta.
Adriano não desviou os olhos do prato. Apenas acenou com a cabeça, como quem cumprimenta uma desconhecida.
Elena, por outro lado, sorriu com uma doçura calculada.
O bolo. O estômago de Isabel se revirou só de ouvir aquela palavra. Cada detalhe daquela escolha tinha sido vivido com ela. E agora tudo se transformava em um presente dado de bandeja à mulher que um dia o abandonou. Tudo o que era dela estava sendo entregue.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Adriano ergueu os olhos. Finalmente a olhou. Mas não havia ternura ali. Só uma súplica muda, misturada a uma ordem velada.
Compreensiva. Sempre. Ceder, engolir, fingir que não doía. Sempre o mesmo papel: ser a que entende, a que espera, a que se apaga.
O silêncio de Isabel, como sempre, foi lido como aceitação. Elena apertou ainda mais a mão dele, satisfeita, e Isabel forçou um sorriso mecânico, sabendo que, naquele instante, mais um pedaço dela se apagava.
Só que algo mudou. Entre a dor e a humilhação, uma fagulha nasceu. Pequena, ainda tímida, sufocada pelas lágrimas que ela segurava... mas real.
E Adriano, sem perceber, acabava de começar a perder a mulher que jurava que jamais o deixaria.