O quarto parecia pesado. Um silêncio sufocante se espalhava, como se cada móvel ali dentro testemunhasse a distância que crescia entre ela e Adriano. O vestido de noiva estava na poltrona. Ela o olhava com carinho, mas também com medo. Medo de que até aquilo lhe fosse tirado.
E não demorou para o pressentimento se confirmar.
Adriano entrou sem sequer bater. No rosto, havia algo frio, decidido. Não era o homem que um dia a olhara como se ela fosse o centro do mundo — era alguém estranho, duro, que parecia indiferente ao que ela sentia.
— Isa... — começou ele, evitando os olhos dela. — Preciso falar com você sobre... o vestido.
Ela sentiu o coração apertar.
Ele suspirou fundo, como quem carrega um peso insuportável.
Ela ficou sem ar.
Ele finalmente levantou os olhos. Mas não havia amor. Só frieza.
As palavras atravessaram-na como facas. Ela lembrava-se de cada prova do vestido, de cada detalhe escolhido, de cada lágrima que derramara de felicidade ao se ver nele. Tudo isso, agora, ele queria oferecer de bandeja à mulher que diariamente a diminuía com a sua presença.
E não parou aí.
— E não é só o vestido... — acrescentou ele, hesitante. — Pensei também no buffet. Já está tudo contratado. Elena não teria tempo de se organizar. Ela precisa de mim agora.
Ela sentiu o chão se desfazer sob os pés. O casamento que era dela estava sendo lentamente entregue a outra mulher. O que deveria ser o auge da sua vida se transformava em espetáculo da sua humilhação.
Ela respirou fundo, buscando forças para falar.
O silêncio dele foi mais cruel que qualquer palavra.
Adriano não negou. Não precisou.
O peito dela queimava. Era como se todo o amor que guardara por ele se reduzisse a cinzas ali, diante de ambos. Ele estava disposto a entregar não apenas objetos ou contratos, mas também os votos, as promessas, a própria dignidade da história deles.
Ele deu um passo em sua direção, como se quisesse justificar-se.
As lágrimas vieram, mas ela não deixou que caíssem. Levantou o queixo, agarrando-se à única coisa que ainda restava: o seu orgulho.
Ele tentou falar, mas ela ergueu a mão, cortando qualquer explicação.
E ela soube. Naquele instante, uma parte dela morreu. E junto com o vestido e o buffet, ele levava também as últimas ilusões que ainda a prendiam a ele.