Capítulo 2 – O Roubo dos Sonhos

O quarto parecia pesado. Um silêncio sufocante se espalhava, como se cada móvel ali dentro testemunhasse a distância que crescia entre ela e Adriano. O vestido de noiva estava na poltrona. Ela o olhava com carinho, mas também com medo. Medo de que até aquilo lhe fosse tirado.

E não demorou para o pressentimento se confirmar.

Adriano entrou sem sequer bater. No rosto, havia algo frio, decidido. Não era o homem que um dia a olhara como se ela fosse o centro do mundo — era alguém estranho, duro, que parecia indiferente ao que ela sentia.

— Isa... — começou ele, evitando os olhos dela. — Preciso falar com você sobre... o vestido.

Ela sentiu o coração apertar.

— O vestido? — repetiu ela, com a voz embargada. — O nosso vestido?

Ele suspirou fundo, como quem carrega um peso insuportável.

— Você sabe da situação da Elena. Ela não tem condições... não teria tempo de encomendar outro. O seu já está pronto, perfeito. Seria... um gesto bonito de compaixão se você o cedesse a ela.

Ela ficou sem ar.

— Você está me pedindo para dar o vestido de noiva dela... para a sua ex?

Ele finalmente levantou os olhos. Mas não havia amor. Só frieza.

— Não é um pedido, Isa. É o certo a se fazer.

As palavras atravessaram-na como facas. Ela lembrava-se de cada prova do vestido, de cada detalhe escolhido, de cada lágrima que derramara de felicidade ao se ver nele. Tudo isso, agora, ele queria oferecer de bandeja à mulher que diariamente a diminuía com a sua presença.

E não parou aí.

— E não é só o vestido... — acrescentou ele, hesitante. — Pensei também no buffet. Já está tudo contratado. Elena não teria tempo de se organizar. Ela precisa de mim agora.

Ela sentiu o chão se desfazer sob os pés. O casamento que era dela estava sendo lentamente entregue a outra mulher. O que deveria ser o auge da sua vida se transformava em espetáculo da sua humilhação.

Ela respirou fundo, buscando forças para falar.

— Você está me dizendo... que vai se casar com ela? E quer o casamento que organizei com todo carinho?

O silêncio dele foi mais cruel que qualquer palavra.

Adriano não negou. Não precisou.

O peito dela queimava. Era como se todo o amor que guardara por ele se reduzisse a cinzas ali, diante de ambos. Ele estava disposto a entregar não apenas objetos ou contratos, mas também os votos, as promessas, a própria dignidade da história deles.

Ele deu um passo em sua direção, como se quisesse justificar-se.

— Entenda, Isa. Não é por amor... é por pena. Elena está morrendo. Eu não poderia carregar a culpa de negar esse último desejo.

As lágrimas vieram, mas ela não deixou que caíssem. Levantou o queixo, agarrando-se à única coisa que ainda restava: o seu orgulho.

— Então é isso. Mas não se arrependa quando me perder.

Ele tentou falar, mas ela ergueu a mão, cortando qualquer explicação.

— Guarde suas palavras, Adriano. Já não me servem.

E ela soube. Naquele instante, uma parte dela morreu. E junto com o vestido e o buffet, ele levava também as últimas ilusões que ainda a prendiam a ele.

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