Capítulo 4 – A Casa Vazia

O vento frio da noite balançava as cortinas, trazendo um silêncio fúnebre, parecia que ele sabia que algo havia acabado por ali. Isabel estava sozinha no quarto que, até pouco tempo atrás, fora testemunha de tantos sonhos e promessas realizadas por eles. Cada canto da casa tinha lembranças: conversas à mesa, os abraços apertados pela manhã, os planos cochichados antes de dormir. Tudo isso havia sido esquecido, havia acabado.

Naquela madrugada, ela organizou tudo que era seu, não queria nada além do que trouxera, mas também não deixaria nada de lembrança para ninguém. Caminhou pelos cômodos sem chorar, juntando tudo o que levaria e tudo o que iria queimar. As malas estavam leves. Levou apenas o que sempre fora dela: roupas, alguns livros, pequenos objetos da infância. Nenhum presente dele.

As joias, os vestidos caros, os perfumes escolhidos com tanto cuidado... ela juntou tudo em uma caixa no quintal, colocou também as fotos, as roupas de casal e pôs fogo para que não existisse mais. Não queria mais nada que tivesse o peso de Adriano. Aquilo não era vida.

No quarto principal, os olhos dela caíram sobre a cama. O lençol ainda guardava o cheiro de lavanda que tanto gostava, mas o espaço vazio ao lado gritava a ausência que ela já não podia negar. Ele não voltaria naquela noite. Nem na seguinte.

Adriano estava em viagem; não bastasse o casamento, ele também faria a viagem de lua de mel, mas disse a ela que não haveria nenhum contato indevido, que só queria realizar o sonho de Elena. E, é claro, Isabel não acreditou, mas agora isso também não fazia diferença.

Eles estavam indo para Porto Esmeralda, com as caminhadas na areia dourada, os jantares ao pôr do sol. Cada detalhe era o sonho dela.

Um aperto sufocante tomou conta do peito dela. Conseguiu se imaginar naquela praia, ouvindo promessas que jamais seriam cumpridas. E então sussurrou, quase sem voz:

— Chega.

Fechou a mala com força. Olhou o reflexo no espelho. Os olhos estavam marejados, sim, mas não destruídos. Havia ali uma centelha de orgulho que nem mesmo toda aquela humilhação conseguiu apagar.

Retirou a aliança e a deixou sobre a mesa de cabeceira. O metal frio brilhava sob a luz fraca do abajur como um ponto final silencioso.

Ao sair, respirou fundo. O corredor escuro agora era a passagem para sua liberdade. Não olhou para trás. Não havia mais nada ali para ela.

A madrugada estava gelada, mas Isabel não se importou. O táxi já a esperava. Entrou, abraçando a mala. Era pouco o que levava, mas era dela. Estava ainda com as mesmas coisas com que havia entrado.

Quando o carro parou, viu as luzes do Aeroporto Internacional de Solária. A passagem já estava comprada. Havia muito que saíra de Santa Aurélia e prometera não voltar, mas o destino às vezes faz pagar pela língua... e lá estava ela, voltando. Santa Aurélia era a cidade da infância dela, onde a família ainda vivia.

O engraçado é que Adriano nunca soube. Nunca teve a curiosidade de saber, na verdade. Sempre acreditou na mentira conveniente de que Isabel não tinha ninguém. Em sua arrogância, achava que ela estava presa a ele, sem saída.

Ele estava errado. Quando será que perceberia que estava enganado? E o que faria, afinal, se sua arrogância não admitia estar errado sobre algo?

Ela caminhou pelo saguão com o coração sangrando. Em cada passo, se despedia da vida que vivera, dos sonhos que criara e dos amigos que fizera.

Enquanto o avião se preparava para decolar, uma certeza a acompanhava: Adriano jamais imaginaria onde ela estava, ele não sabia sua real identidade e que tinha um noivo à sua espera.

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