Isabel acordou antes de o sol raiar, ela não tinha dormido quase nada. Para o encontro, vestiu um vestido azul claro, simples, mas bonito, e prendeu o cabelo em um coque baixo. Queria passar serenidade e elegância, mas seu coração estava batendo tão rápido que parecia querer escapar do peito.
No corredor, Alfredo a esperava, impecável de sempre. Ele não disse nada, apenas abriu a porta do carro e esperou.
A viagem foi curta. Quando os portões do solar Ferraz se abriram, Isabel ficou tão nervosa que prendeu a respiração. A mansão era imponente e monumental, paredes claras, colunas que pareciam tocar o céu, jardins que desciam até um lago transparente onde o sol refletia como vidro. Tudo gritava poder, tudo dizia que os Ferraz não eram apenas uma família.
Alfredo a conduziu até o átrio principal. As portas altas se abriram e ela entrou. Isabel teve a sensação de estar atravessando um mundo que não era o dela.
Uma senhora elegante se aproximou, os olhos cheios de uma mistura de carinho e autoridade.
— Seja bem-vinda, Isabel — disse com voz suave, mas cheia de firmeza. — Sou Cecília, tia de Gabriel. Ele a espera no jardim interno.Isabel agradeceu timidamente, as mãos suavam, e cada passo pelo corredor parecia soar mais alto do que deveria. Quando entrou no jardim, teve que parar por um segundo.
Ao lado da fonte, de pé, estava o homem que mudaria seu destino.
Gabriel Ferraz.
Ele se virou ao ouvir seus passos. Isabel ficou surpresa, ele era mais jovem do que imaginara, talvez perto dos trinta anos. Alto, ombros largos, cabelo preto e uma presença marcante. O rosto era sério, como as pessoas falavam. Mas o que mais a atingiu foram os olhos. Cinzentos, profundos, intensos. Não eram frios. Eram olhos profundos, que falavam muito sobre ele e que pareciam ver além da superfície.
Gabriel inclinou a cabeça em um gesto de respeito.
— Senhorita Isabel.A voz dele era grave, mas não gelada. Isabel respirou fundo e respondeu:
— Senhor Gabriel.Por um instante, só o som da fonte preencheu o espaço. O silêncio entre eles era carregado, pesado, como se cada um medisse o outro.
— Imagino que este encontro seja... diferente para nós dois — disse Gabriel, com um leve traço de ironia no tom. — Durante anos ouvi falar de você. Mas é diferente ver a pessoa diante de mim.
Isabel sentiu as faces queimarem.
— Eu nunca pensei que voltaria para... cumprir a promessa feita pelo pai.Ele arqueou uma sobrancelha.
— Então, por que voltou?Isabel desviou o olhar, fixando-o nas flores do pátio.
— Meu noivo me trocou pela ex, ela dizia está entre a vida e a morte, mas é claro que é mentira. Então agora resolvi dar uma chance para essa promessa.As palavras saíram mais sinceras do que ela gostaria. Não tinha planejado expor tanto. Mas não conseguiu segurar.
Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos, os olhos fixos nela. Até que sua expressão se suavizou um pouco.
— Talvez este casamento não precise ser só um fardo.Ela o encarou.
— Não me entenda mal — ele continuou ajeitando o punho da camisa. — Eu também não pedi por isso. Mas se vamos seguir com essa promessa, podemos fazer de um jeito que seja mais fácil para a gente.
Isabel não esperava por essas palavras. Ele era diferente de Adriano, não a olhava com desprezo ou desdém, não a diminuía. Parecia que queria protegê-la.
— Então você me aceita? — Isabel perguntou.
— Aceito — respondeu — Não apenas porque nossos pais quiseram, mas porque quero ajudá-la a conseguir o que deseja.
Os olhos dele encontraram os dela. Por um instante, Isabel se perdeu nos olhos dele.
O encontro terminou sem pressa. Gabriel a acompanhou até a saída do jardim, mantendo uma distância respeitosa. Antes de se despedir, inclinou a cabeça e disse:
— Amanhã teremos outro encontro e falaremos sobre os termos do casamento. Descanse hoje.No carro, a caminho de casa, Isabel recostou a cabeça no vidro. O coração ainda acelerava. E, ao pensar no olhar de Gabriel Ferraz, permitiu-se sorrir de leve. Ele não era Adriano. E isso mudava tudo.