O verão havia voltado a Santa Aurélia.
As videiras se estendiam em curvas verdes pelas colinas, e o ar cheirava a terra quente e jasmim. O solar Ferraz, agora reformado pela última vez, parecia diferente — mais leve, como se as paredes respirassem em paz.
Isabel caminhava descalça pelo jardim, a barra do vestido branco roçando a grama úmida.
O vento suave brincava com seus cabelos, e o som distante do piano ecoava de uma das janelas abertas.
Era uma melodia nova, simples e serena, nascida de um coração que, depois de tantas ruínas, finalmente aprendera a descansar.
Gabriel a observava de longe, apoiado no parapeito da varanda.
O sol do entardecer banhava o rosto dele em tons dourados, e havia algo nos olhos — uma mistura de alívio e reverência.
Ele havia sobrevivido a feridas que o corpo jamais esqueceria e, ainda assim, era o olhar dela que o curava todos os dias.
Quando ela o viu, sorriu.
— Está me observando de novo.
— Sempre. — ele respondeu, descendo os degraus para encontrá-la.