Em Sombra da Ambição, Valentina Mancini é forçada a trocar uma vida de conforto por um casamento arranjado com Enzo Moretti, um implacável chefe da máfia italiana, em uma tentativa desesperada de salvar sua família da ruína financeira. O que começa como uma aliança estratégica logo mergulha os dois em um jogo perigoso de poder, desejo e desconfiança. Ao lado de Enzo, Valentina descobre um submundo governado por lealdades instáveis, códigos não ditos e segredos mortais. Mas nada a prepara para as verdades sombrias enterradas em sua própria linhagem — e para a existência de Veritas, uma inteligência artificial criada por remanescentes da antiga ordem global, a PROJETCIO, com o poder de manipular governos, decisões e até sentimentos humanos. Envolta em uma teia de conspirações, atentados e dilemas morais, Valentina evolui de peão a líder estratégica de um novo movimento de resistência global: a Raízes. Quando a própria rede de decisões é sequestrada por Veritas, ela encara o maior desafio de sua vida — enfrentar a verdade, não como um dado objetivo, mas como uma construção política e emocional. Sombra da Ambição é uma história sobre sacrifício, redenção e a eterna tensão entre controle e liberdade. Em um mundo onde a verdade foi programada, amar e errar podem ser os últimos atos de rebelião.
Ler maisNa manhã seguinte, o plano foi colocado em prática. Vincenzo foi retirado do galpão, drogado com um sedativo leve, e deixado intencionalmente em uma estrada secundária na saída de Palermo, com documentos falsos escondidos no casaco. Entre eles, o suposto “dossiê” que denunciava negociações secretas entre Enzo Moretti e um grupo russo envolvido em tráfico de armas biológicas — uma invenção cuidadosamente construída por Francesca e Valentina. A notícia se espalhou em menos de vinte e quatro horas pelos círculos certos. Fóruns criptografados, canais de comunicação usados por informantes e mercenários. Era o tipo de isca que ninguém ignoraria. — O rastreador no casaco ainda está ativo? — perguntou Valentina, observando o mapa digital diante de si. — Sim — respondeu Francesca. — Ele foi capturado por homens armados a poucos quilômetros de Messina. Estão indo em direção ao sul. Acredito que seja uma das casas seguras da Giulia. Valentina assentiu. — Deixe que achem que conseguiram. Ma
A sala de reuniões da mansão Moretti nunca pareceu tão silenciosa. Valentina, sentada à cabeceira — lugar que outrora pertencia apenas a Enzo —, encarava os rostos à sua frente: conselheiros, homens de confiança, chefes de operações. Todos, supostamente leais. Todos, agora suspeitos. — A partir de hoje, todas as comunicações internas passam por criptografia de três camadas — anunciou. — Nada sai sem minha autorização. Nenhum relatório. Nenhuma movimentação de conta. Nenhuma reunião marcada sem ser verificada por Francesca. Alguns trocaram olhares. Outros disfarçaram o incômodo. Enzo observava tudo em silêncio, sentado ao lado dela, como uma sombra letal e serena. — Alguém aqui vazou informações sensíveis nos últimos meses — continuou Valentina. — E esse alguém ainda está entre nós. Fingindo lealdade, alimentando Giulia. Isso termina agora. — Com todo o respeito, senhora — disse Vincenzo, chefe da contabilidade —, essas são acusações graves. Estamos todos há anos com a família. —
O relógio marcava 18h47 quando Valentina entrou no Hotel Eden. O saguão era luxuoso, discreto, com flores frescas e uma música ambiente quase imperceptível. A recepcionista apenas a cumprimentou com um leve aceno. Ela sabia que Matteo Bianchi já havia providenciado tudo. Francesca estava em uma suíte no andar de cima, com binóculos táticos, microfone direcional e acesso direto à escuta escondida no colar de Valentina. Qualquer coisa fora do esperado, ela agiria. Valentina subiu sozinha. Suas mãos estavam frias, mas seus passos, firmes. No 8º andar, parou diante da porta 808. Bateu uma vez. A fechadura eletrônica piscou em verde. Matteo estava esperando. Ela entrou. O ambiente era sofisticado e quase silencioso, com luzes indiretas e uma garrafa de vinho aberta sobre a mesa. Matteo usava roupas casuais, mas sua expressão era tudo, menos relaxada. — Achei que não viria — disse ele, servindo duas taças. — Eu cumpro compromissos. Mesmo os arriscados. Ele sorriu. — Isso torna você
O trem bala cortava a paisagem italiana a quase 300 km/h, mas dentro da cabine executiva tudo parecia imóvel. Valentina encarava a própria imagem refletida na janela: elegante, fria, com um leve toque de mistério. A mulher que ela fora outrora parecia cada vez mais distante. Ao seu lado, Francesca revisava os documentos falsos. Valentina agora era Elena Valli, esposa de um magnata do setor marítimo, convidada para um evento diplomático russo em Roma. — Ele vai estar lá — disse Francesca, sem tirar os olhos do tablet. — Matteo Bianchi. Com um grupo de empresários ligados à exportação de minério. Mas todos sabemos o que isso significa: lavagem de dinheiro e acordos armados. Valentina assentiu. — E o objetivo é o quê? Me aproximar? Conseguir uma conversa? — Observar. Escutar. Medir o território. Mas se conseguir mais que isso, ainda melhor. — E se ele desconfiar? — Não vai. Bianchi não subestima mulheres. Mas também não as respeita. E isso pode ser sua maior vantagem. Valentina
A noite caiu como um manto espesso sobre Milão, e com ela veio uma decisão que pesava como chumbo sobre os ombros de Valentina. Ela estava no antigo salão de reuniões do lado leste da mansão — um lugar raramente usado, sombrio, com paredes revestidas de madeira escura e iluminação baixa. Francesca e Enzo estavam com ela. Luca havia sido trazido por dois seguranças, algemado, confuso, mas calado. Ele olhou para Valentina como se ainda não acreditasse que era ela quem havia mandado buscá-lo. — O que está acontecendo? — perguntou ele, a voz baixa, mas tensa. Valentina se manteve firme. — Você mentiu, Luca. A propriedade em Savona foi usada com seu código de acesso. E, coincidentemente, você alterou relatórios financeiros exatamente nos mesmos dias. Temos provas. — Eu posso explicar... — Todos dizem isso antes do silêncio final — interrompeu Enzo, sem levantar o tom de voz. — Mas nós não queremos explicações. Queremos a verdade. Luca respirou fundo, depois baixou os olhos. Um gest
O relógio marcava quase duas da manhã quando Enzo começou a falar. A mansão estava em silêncio, exceto pelo estalar suave da lareira ao fundo. Valentina sentou-se na poltrona em frente à mesa dele, como se estivesse prestes a ouvir uma sentença. — Há quatro anos — começou Enzo, sem rodeios —, eu firmei um acordo com alguém que deveria ser meu inimigo: Salvatore Giaccone. Valentina arregalou levemente os olhos. — O mesmo com quem você fechou o novo acordo de território? — Sim. Mas naquela época, foi diferente. Era uma aliança informal, sem registros. Ele precisava de rotas de transporte; eu precisava de armas. Funcionou por um tempo... até ele começar a querer mais. Influência, postos dentro da minha estrutura, infiltrações disfarçadas de parcerias. — E você permitiu? — Com restrições. Mas isso criou fraturas dentro da minha própria organização. Alguns achavam que eu estava traindo os princípios dos Moretti. Outros viram nisso uma chance de subir. Valentina entendeu na hora. —
Os dias seguintes foram de silêncio tenso. A rotina na mansão continuava inalterada — reuniões, telefonemas, vigilância constante —, mas havia algo diferente no ar. Um cheiro de pólvora ainda não disparada. Um pressentimento de que algo se aproximava. Valentina mantinha a compostura, mas dentro dela, tudo fervia. Giulia Romano agora era mais que um obstáculo: era uma ameaça viva, com uma dívida de sangue antiga. E como filha de Leonardo Vitale, não era apenas uma mulher ressentida — era herdeira de um legado de ódio. Valentina precisava saber até onde ela estava disposta a ir. Na manhã de quarta-feira, Francesca entrou no quarto com o celular na mão e expressão cerrada. — Temos um problema — disse ela, sem rodeios. — Giulia. — O que ela fez? — Comprou ações majoritárias da empresa de fachada usada pelo grupo de segurança dos Moretti em Gênova. E fez isso por meio de uma empresa de Hong Kong. Ou seja, fez parecer que foi um investidor asiático, mas na verdade é ela. Valentina l
A noite estava silenciosa, mas o pensamento de Valentina era um redemoinho. O bilhete encontrado no livro queimava em sua mente como uma ferida recém-aberta. “Verona, 1997.” Três palavras. Um local, uma data — e um abismo de dúvidas. Ela não conseguia dormir. A cada batida do relógio, a certeza aumentava: havia coisas sobre seu pai, Domenico Mancini, que ela nunca soubera. Segredos enterrados sob a fachada de nobreza e orgulho familiar. E agora, aquilo estava voltando para assombrá-la. Ao amanhecer, ela já tinha um plano. Valentina entrou na sala de segurança da mansão sem bater. Francesca estava lá, como sempre, revisando imagens das câmeras, digitando códigos em um terminal. — Preciso ir a Verona — disse, direta. Francesca a encarou com um leve franzir de testa. — Algum motivo em particular? — Pessoal. — Nada é pessoal neste mundo, senhora Moretti. — Não é assunto da família Moretti. Ainda não. E não vou sozinha. Francesca hesitou por um segundo antes de fechar o monitor c
Na manhã seguinte, Valentina acordou com uma sensação estranha. Não era medo. Nem alívio. Era algo entre os dois — a perigosa consciência de estar se adaptando rápido demais ao mundo que antes repudiava. Enzo já havia saído. Deixara outro bilhete. “Almoço com o conselheiro Giorgio às 13h. Preciso que esteja presente. Código de vestimenta: sóbria e firme.” Ela releu a frase duas vezes. “Sóbria e firme.” Como se fosse parte de um exército. Como se já estivesse no campo de batalha. Francesca a ajudou a escolher o figurino: calça de alfaiataria cinza, camisa preta e cabelo preso em um rabo de cavalo simples. Discreta, elegante, inquestionável. A maquiagem era mínima, mas calculada. Nada em Valentina era por acaso. O conselheiro Giorgio esperava no salão reservado do restaurante Tartufo Nero, um dos mais exclusivos de Milão. Era um homem baixo, calvo, com óculos finos e olhar de abutre. Exalava o tipo de poder silencioso que não precisa gritar. Estava cercado por dois assistentes, m