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Capítulo 4 – Máscaras e Sorrisos 

Milão cintilava sob as luzes da noite quando Valentina desceu os degraus da mansão em direção ao carro. Vestia um elegante vestido azul-marinho de seda, justo até a cintura e com decote discreto nas costas. O cabelo estava preso em um coque baixo e sofisticado, maquiagem impecável. Ela parecia uma verdadeira Moretti.

Mas por dentro, sentia o estômago revirar.

— Está deslumbrante — disse Enzo, esperando ao lado do carro, impecável em seu terno preto sob medida.

— Eu sei — respondeu, entrando sem esperar que ele abrisse a porta.

O evento da Fundação Belladonna era uma fachada — disso, Valentina não tinha dúvidas. Caridade sempre fora um disfarce conveniente para transações silenciosas. E se os Moretti estavam por trás do patrocínio, havia mais interesse ali do que simples filantropia.

Durante o trajeto, Enzo permaneceu em silêncio, concentrado nas mensagens do celular. Valentina observava os sinais da cidade passando pela janela — o brilho artificial, os rostos apressados, os sorrisos falsos dos outdoors. Tudo nela queria lutar contra aquele destino. Mas parte de si começava a compreender o jogo.

E ela era boa em jogos.

O salão do evento era um monumento ao luxo. Lustres de cristal pendiam do teto alto, refletores banhavam as paredes de dourado e música clássica tocava suavemente ao fundo. Casais riam, brindavam, fingiam empatia enquanto negociavam nas entrelinhas.

— Lembre-se — sussurrou Enzo, enquanto caminhavam juntos pela entrada —: aqui ninguém é quem parece ser. Incluindo eu.

Valentina respondeu com um leve sorriso.

— Perfeito. Eu também estou me divertindo fingindo ser alguém.

Foram recebidos por um casal de anfitriões — o embaixador Belladonna e sua esposa, uma mulher franzina de sorriso congelado. Enzo foi cordial, breve, e logo os conduziu para junto de um grupo de homens engravatados, todos com olhares clínicos e flertes velados de poder.

Valentina não foi ignorada. Muito pelo contrário. Os olhares a estudavam, testavam seus limites.

Um deles, o senhor Luigi Ferreti, um investidor conhecido por lavar dinheiro através de galerias de arte, fez questão de se aproximar.

— A nova senhora Moretti... Tão encantadora quanto dizem. — Seus olhos não paravam no rosto dela.

— E tão perigosa quanto preferem esquecer — respondeu Valentina, educadamente, mas com frieza.

Ferreti sorriu, satisfeito.

— Vejo que tem garras. O que uma mulher como você vê em um homem como Enzo?

Ela o encarou, o sorriso intacto.

— Poder. — Deu um gole no champanhe. — Mas o tipo de poder que não se compra. O tipo que se respeita... ou teme.

Enzo, ao lado, manteve a expressão impassível, mas Valentina percebeu o brilho de aprovação em seu olhar.

Mais tarde, enquanto circulavam entre mesas e cumprimentos, ela notou uma mulher parada ao longe, observando-a. Jovem, loira, belíssima. Vestia vermelho sangue e fumava com elegância desafiadora. Não sorriu. Não se aproximou. Apenas observou.

— Quem é ela? — perguntou Valentina, discretamente.

Enzo seguiu seu olhar e respirou fundo.

— Giulia Romano. Filha de um dos aliados antigos dos Moretti. Tive um envolvimento com ela no passado.

— Passado recente?

— Isso importa?

— Só se ela for um problema — respondeu Valentina. — E ela parece ser.

— Giulia sempre foi volátil. Inteligente. Mas não lida bem com rejeição.

Valentina sorriu levemente, sem tirar os olhos da mulher.

— Eu também não.

O jantar foi servido com pompa. Valentina estava entediada. Observava a mesa, memorizava nomes, associações, padrões de conversa. Era ali que o verdadeiro poder circulava — entre uma garfada e outra.

— Está lidando bem — comentou Enzo, entre uma taça de vinho e outra.

— Você esperava o quê? Que eu desabasse?

— Eu esperava que você observasse. E parece que está fazendo mais do que isso. Está entendendo.

— Estou me adaptando. Tem alguma coisa que você queira me dizer sobre este evento?

Ele a olhou com cautela.

— Esta noite marca o reinício de uma aliança antiga entre famílias. Algumas estão desconfiadas do nosso casamento. Outras acreditam que você é só uma fachada. Meu papel aqui é mostrar que não somos uma ameaça.

— E o meu?

— Mostrar que somos mais perigosos juntos do que separados.

Valentina assentiu, encarando sua taça.

— Então está tudo bem se eu jogar charme e medo na medida certa?

— Desde que saiba onde está pisando... sim.

Ao fim da noite, quando saíam do evento, Giulia interceptou os dois.

— Enzo — disse ela, com um sorriso frio. — Que surpresa vê-lo acompanhado.

— Giulia. — Enzo respondeu, contido.

Ela olhou para Valentina.

— Ouvi dizer que é a nova esposa. Espero que saiba no que está se metendo.

Valentina ergueu uma sobrancelha.

— Ouvi dizer que algumas pessoas não sabem perder.

Giulia sorriu de lado.

— Cuidado, querida. Neste mundo, a mulher que está ao lado de um homem como Enzo sempre paga o preço. Mais cedo ou mais tarde.

— E o que faz você pensar que eu não esteja disposta a pagar?

Giulia a mediu por um segundo a mais, depois deu um leve aceno e se afastou.

No carro, Enzo manteve-se em silêncio por alguns minutos. Por fim, disse:

— Você não precisava enfrentá-la.

— Claro que precisava. Não sou um enfeite. Sou sua aliada, lembra?

— Giulia é perigosa.

— E eu também.

Ele a olhou de lado, intrigado.

— Está gostando disso?

— Não. Mas estou descobrindo que talvez... eu seja boa nisso.

Chegaram à mansão pouco depois da meia-noite. Valentina tirou os brincos, os sapatos, o vestido, mas não tirou a máscara de controle. Nem por um instante.

Ao deitar-se, Enzo já estava no quarto. Dessa vez, não ficou no sofá.

— Esta noite — disse ele, de forma direta — você provou que é mais do que aparência. Muita gente a subestimou. E agora está com medo.

— Eu sempre soube que era boa nisso — respondeu ela, deitando-se com naturalidade.

— Em quê?

— Em fingir. E em observar. E talvez... em manipular.

Enzo apagou a luz.

— Então você está pronta para o que vem a seguir.

Valentina encarou o teto escuro.

— Não, Enzo. Eu nasci pronta.

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