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Capítulo 5 – Jogo de Verdades 

Na manhã seguinte, Valentina acordou com uma sensação estranha. Não era medo. Nem alívio. Era algo entre os dois — a perigosa consciência de estar se adaptando rápido demais ao mundo que antes repudiava.

Enzo já havia saído. Deixara outro bilhete.

“Almoço com o conselheiro Giorgio às 13h. Preciso que esteja presente. 

Código de vestimenta: sóbria e firme.”

Ela releu a frase duas vezes. “Sóbria e firme.” Como se fosse parte de um exército. Como se já estivesse no campo de batalha.

Francesca a ajudou a escolher o figurino: calça de alfaiataria cinza, camisa preta e cabelo preso em um rabo de cavalo simples. Discreta, elegante, inquestionável. A maquiagem era mínima, mas calculada. Nada em Valentina era por acaso.

O conselheiro Giorgio esperava no salão reservado do restaurante Tartufo Nero, um dos mais exclusivos de Milão. Era um homem baixo, calvo, com óculos finos e olhar de abutre. Exalava o tipo de poder silencioso que não precisa gritar. Estava cercado por dois assistentes, mas foi a Valentina que lançou o primeiro olhar clínico.

— Senhora Moretti — disse, levantando-se apenas parcialmente. — Ouvi muito sobre você. Alguns dizem que é corajosa. Outros dizem... impetuosa.

— E o que o senhor acha? — perguntou ela, sentando-se à mesa com a elegância de uma aristocrata.

Giorgio sorriu, divertido.

— Acho que gosto de ver com meus próprios olhos antes de decidir.

Enzo chegou instantes depois. Trocou um aperto de mãos firme com o conselheiro e sentou-se ao lado de Valentina. A reunião começou com trivialidades: movimentações de fundos, renovação de contratos fictícios, reorganização de lucros em paraísos fiscais. Ela ouvia tudo em silêncio, absorvendo as entrelinhas.

— E a senhora? — perguntou Giorgio, após o segundo prato. — Já entendeu o preço de estar ao lado de um homem como Enzo?

Valentina pousou o garfo com calma.

— Eu entendi que tudo tem um custo. Mas também entendi que o custo de ser fraca é muito mais alto.

— Boa resposta. Mas não me diz se está disposta a matar, se for necessário.

Ela o encarou diretamente.

— Depende de quem está do outro lado da arma.

O silêncio que se seguiu foi denso. Enzo não a interrompeu. Giorgio, após um gole de vinho, assentiu devagar.

— Você realmente pode ser útil, Enzo. Talvez mais do que eu esperava.

— Eu não trouxe uma esposa. Trouxe uma parceira — respondeu Enzo, sem hesitação.

Giorgio sorriu, satisfeito. O jantar terminou com um brinde silencioso.

Ao voltar para a mansão, Valentina retirou os brincos em frente ao espelho. Sentia-se drenada. A cada conversa, a cada gesto, mais camadas de si mesma eram empurradas para o fundo. A mulher de antes — leve, ingênua, sonhadora — estava encolhida em algum lugar dentro dela, sufocada pela nova versão que o mundo exigia.

Enzo apareceu no batente da porta. Estava sem gravata, com os dois botões de cima da camisa abertos.

— Você foi perfeita hoje — disse ele. — Giorgio a respeita. Isso significa que agora somos levados a sério como unidade.

— E você acredita mesmo nisso? Que somos uma unidade?

Enzo se aproximou lentamente.

— Eu não faria tudo isso se não acreditasse.

— E quando parar de acreditar?

— Então você deve estar pronta para sobreviver sozinha. Mas por enquanto... ainda estamos juntos.

Valentina assentiu, sem desviar o olhar.

— Enzo... o que você não está me contando?

— Muitas coisas. Por sua segurança.

— Isso é mentira. — Ela cruzou os braços. — Você me esconde coisas porque tem medo que eu saiba demais. Porque, se eu souber, talvez eu tenha poder sobre você.

Um silêncio pesado caiu entre eles.

— Você está certa — disse ele, por fim. — Mas ainda assim, prefiro que saiba aos poucos. Porque o que eu escondo não é só perigoso... é irreversível.

— Comece com uma verdade, então.

Enzo passou a mão pelos cabelos, pensativo.

— Há alguém que quer me destruir. Não por dinheiro. Não por vingança. Mas por algo maior. Uma ruptura que começou muito antes de você chegar.

— Quem?

— Ainda não sei ao certo. Mas ele está perto. E o casamento nos tornou um alvo em dobro.

— Então por que me colocou nisso?

— Porque você é mais forte do que qualquer proteção. Porque comigo, você pode se tornar algo que ninguém esperava: uma ameaça.

Valentina sorriu de canto.

— Eu não sei se devo me sentir lisonjeada ou enojada.

— Sinta os dois. Mas continue ao meu lado. Ou tudo isso vai ruir.

Ela respirou fundo.

— E o que vai acontecer se um dia eu quiser mais do que isso?

— Então alguém terá que perder. E, nesse jogo, perder pode significar morrer.

Horas depois, sozinha na biblioteca, Valentina puxou um dos livros antigos e encontrou uma folha entre as páginas. Um bilhete escrito à mão, com traços firmes e elegantes.

"O nome Mancini não é tão limpo quanto você pensa. 

Procure por 'Verona, 1997'. 

A verdade não está no que seu pai contou. 

Está no que ele escondeu."

O coração disparou. Aquilo não era um bilhete deixado por Enzo. E ninguém além dele, Francesca e a equipe de segurança tinha acesso à mansão. A letra era desconhecida.

Valentina guardou o papel dentro do casaco, os olhos fixos na janela escura. Um novo jogador havia entrado no tabuleiro.

E ela estava prestes a descobrir que o passado que tentava esquecer... era parte do presente que ainda não compreendia.

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