Durante dez anos, Mariana Bazzi foi vendida pelo próprio pai em troca de dinheiro sujo. No dia do seu aniversário de vinte anos, ela finalmente conquista sua liberdade — apenas para descobrir que tudo não passou de mais uma armadilha. Suas irmãs foram vendidas, sua mãe está morta, e ela... já foi comprada novamente. Mas quem é o homem misterioso que surge no instante em que tudo desmorona? Frio, perigoso e absurdamente poderoso, ele diz chamá-la de "minha" — e ninguém ousa contestar. Seu nome é Ezequiel, o mesmo que assombra as histórias de garotas desaparecidas, mas algo nele não bate com as lendas. Dividida entre fugir e entender por que foi "escolhida", Mariana precisa lutar para recuperar o que resta de sua família — e de si mesma — sem se perder no olhar daquele homem que pode ser seu pior inimigo… ou seu único refúgio.
Leer másCapítulo 1
Mariana Bazzi — Nem acredito que é real... ainda hoje estarei livre desse lugar — sussurrei para mim mesma, com os olhos marejados ao encarar os papéis impressos e assinados sobre a mesa do escritório. Agarrei os documentos contra o peito como se minha vida dependesse disso — e, de certa forma, dependia. Saí quase saltitando entre as mulheres do cassino, com um sorriso no rosto, levando a pequena sacola com minhas poucas coisas. Guardei os papéis lá dentro com o cuidado de quem carrega um tesouro. Lágrimas escorriam, mas dessa vez eram de alívio. O presente de aniversário de vinte anos mais precioso que eu poderia receber: a minha liberdade. Hoje faz exatamente dez anos que fui vendida para esse cassino. Um acordo nojento de covardia, por quem deveria me proteger: meu pai. Mas não... hoje eu não queria pensar nisso. Hoje, eu voltaria pra casa. Veria o rosto da minha mãezinha de novo. Sentiria o abraço das minhas irmãs mais velhas. Subi as escadas desse inferno quase correndo, sentindo o coração bater descompassado. Mas meu sorriso morreu no instante em que o vi. — O que está fazendo aqui? — perguntei, alarmada, olhando para os lados. — Você não tem mais direito de se dirigir a mim depois de tudo o que fez. Ele mascava um de seus malditos chicletes com desdém, como se minhas palavras fossem piada. — Não queria ver sua mãe? Suas irmãs? — abriu os braços com falsa simpatia. — Então entra logo no carro. Ou eu vou embora... e você nunca mais vai vê-las. Engoli seco. Alguma coisa estava errada. Muito errada. Mas... e se ele estivesse dizendo a verdade? E se realmente fosse a única chance de vê-las? Entrei. O silêncio no carro era sufocante. Não o encarei uma única vez. A paisagem passava como um borrão e meu coração se apertava à medida que nos aproximamos de casa. Quando ele parou o carro, desci imediatamente. Vi que estava no telefone, parado no gramado. Ignorei-o. Saí correndo, atravessando o jardim como uma criança faminta por colo. — Mamãe? Mãezinha? — minha voz ecoou pelo vazio. Nada. Chamei, andei por todos os cômodos, o desespero crescendo a cada segundo. Bebidas e mais bebidas caras espalhadas. E então... sobre a mesa da sala, pastas transparentes. Papéis estavam dentro. Tremendo, abri a primeira. O nome da minha irmã. "Ela foi vendida?" Abri outra. Outro nome. Outra venda. — Não, não pode ser... — sussurrei, em pânico, puxando a próxima, sentindo o ar sumindo. Data de hoje? Uma venda recente? Quando comecei a procurar o nome, senti a presença dele atrás de mim e um calafrio me fez estremecer. — Larga isso agora! — berrou. — Como pôde fazer isso?! Você mentiu! — atirei a pasta sobre a mesa. — Você vendeu minhas irmãs! Elas não estão aqui! E a mamãe? Cadê ela?! — Bom, são bonitas, me renderam um bom dinheiro — meu corpo todo tremia. — Onde elas estão? Cadê a minha mãe? — dei um passo pra trás. — Não interessa — olhei para os lados vendo a quantidade absurda de caixas para entrega. A minha mãe costurava pra fora, e pelo visto andou trabalhando dia e noite para ter tanta coisa pronta. — Você está mentindo! Cadê minha mãe? — falei mais alto. — Morreu — disse, seco. — Não aguentou o ritmo. A fraca resolveu costurar uns extras e... Meus punhos fechavam, o sangue ferveu. Já passou dois anos desde a última vez que a vi, o dia em que fugi e ela foi me buscar numa fundação que me acolheu. Me lembro como se fosse hoje...E eu só queria ficar com ela, e esse monstro a obrigou a me levar, depois me fez assinar esse maldito documento que dizia me libertar na data de hoje. — VOCÊ A MATOU! ENCHEU ELA DE TRABALHO ENQUANTO ENGORDAVA E GASTAVA O DINHEIRO QUE GANHOU VENDENDO AS PRÓPRIAS FILHAS! — bati com força no peito dele. Ele reagiu com violência. Agarrou meus cabelos e me empurrou até a mesa. — Que se foda! Você também já está vendida. Olha aqui! — esfregou meu rosto nos papéis, machucando meu nariz. — Seu nojento! Eu não vou a lugar nenhum! Não vou mais deixar aqueles porcos imundos me tocarem! Vá você para cama deles! Fica fazendo filhas em inocentes por aí, para vender depois! Que espécie de monstro você é? — gritei, tentando me soltar. Ele me deu um tapa forte, me lançando contra as caixas ao lado. — Mulheres só servem pra isso. Você devia agradecer — cuspiu, repulsivo. A dor me alimentou. Agarrei uma das caixas e acertei sua cabeça com tudo. A porta estava escancarada. Corri. Atravessei o portão, me joguei no jardim. Galhos arranharam minha pele, o chão úmido me fazia tropeçar. Caí com força. Joelhos rasgados. Vi algo se mover entre as árvores. Não... Antes que pudesse fugir novamente, algo me atingiu pelas costas. Mãos ásperas. Me agarraram, me ergueram. Outro homem segurou meus pulsos com força. — Me solta! — gritei, em pânico. — Não me levem de volta pra ele! Por favor! Eles me arrastavam, e eu não conseguia reagir. Tudo se esfarelava. Até que... Motores rugiram como trovões. Vários carros de luxo derraparam diante da casa. A poeira subiu. As portas abriram de uma vez, e vários homens de preto desceram em silêncio ensurdecedor. O próprio ar pareceu parar. Um deles se destacou. O andar firme, imponente. Cabelos negros, lisos, caíam sobre parte do rosto. Óculos escuros, mesmo de noite. A aura dele não gritava poder — ela o sussurrava com uma elegância perigosa. Ele se aproximou sem pressa, como se o mundo ao redor lhe pertencesse. — Soltem a Mariana, vim buscá-la — sua voz era baixa, mas cada palavra cortava como faca. Tirou os óculos. Os olhos frios, impassíveis, analisaram cada detalhe. — Quem te enviou? O velho Ezequiel? — ouvi a voz nojenta novamente. — Sim. Alguém se opõe? Um calafrio percorreu minha espinha. Todos conheciam o nome. Ezequiel: o velho que comprava mulheres como quem coleciona raridades. Ninguém jamais via seu rosto. E aquelas que iam... não voltavam. Meu coração colapsou. Estava perdida de novo. O maldito do meu pai gargalhou, sabendo da minha desgraça. Os capangas me soltaram. Eu tremia. Mas encarei meu pai. — Mesmo que eu morra com aquele demônio... ainda assim, prefiro isso a viver mais um segundo ao seu lado. Ele levantou a mão pra me bater. Mas não chegou a completar o gesto. O homem de preto surgiu como sombra. Segurou o braço dele com uma força sutil, e num movimento rápido, torceu até o estalo ecoar. — AHHHH! — meu pai gritou. — Foi só um aviso — disse encostando uma arma no pescoço dele — Ela é minha! Ninguém encosta nela. E então ele olhou para mim. Pela primeira vez, alguém me olhava... e não era com desejo, pena ou desprezo. Ele me estudava, como se quisesse decifrar minhas cicatrizes, como se enxergasse o que ninguém mais viu. Seus olhos eram escuros como a noite, frios como aço, mas... não me assustavam. Pelo contrário. Fui atraída por aquele olhar, fiquei ali parada por alguns segundos, em seguida acordei de repente. Espera aí... Ele disse "minha"?Capítulo 206 Narrativa da autora Ah! Como me emociono ao terminar minhas histórias. Essa por exemplo, emoção do início ao fim. Como não se apaixonar por Ezequiel? Com certeza é o Don mais humano que já criei. Até mais que meus CEOS, inclusive. Um personagem coração, que cresceu de um jeito que tinha tudo pra dar errado com seu pai desumano, mas mudou não só a sua história como a de tantas mulheres. Deixo bem claro aqui, é ficção e certamente nada disso existe. Eu viajo em fantasias criadas por mim, mas sinto que ao escrever levo alegria, descanso e esperança a muitas pessoas. Mariana foi uma personagem que se superou e surpreendeu demais. No início sofri bastante. Imaginar como ela pensava para escrever, mexeu comigo. Tiveram tantos momentos que precisei apagar e reescrever os diálogos, pois ao revisar, percebia que não entendia seus sentimentos. Tive ajuda de uma terapeuta, então posso afirmar que foi escrito com responsabilidade e carinho pra vocês. As mulhe
Capítulo 205 Ezequiel Costa Júnior Acabou. Saímos da Zion e entramos no carro. O veículo avançava firme pela estrada isolada, os faróis cortando a escuridão como lanças. Eu estava no banco de trás com Mariana ao meu lado. Samira na frente, ao lado de Mauro, que dirigia com o olhar fixo no caminho, como se não quisesse ouvir, nem sentir, nem reagir ao que estava por vir. As mãos ainda estavam sujas de sangue de Khalid e dos membros da Zion. Eu não conseguia respirar direito. O papel do exame repousava entre meus dedos, agora alisado, como se tentasse apagar os vincos da verdade. Virei para Mariana. — Onde conseguiu essa falsificação? Ela desviou os olhos. O olhar dela… mudou. Umedecido, silencioso. Culpado. — Eu não falsifiquei nada. — Como assim? — Eu sinto muito. — a voz dela era baixa, quase um sussurro. — Eu te disse, Ezequiel... eu te disse que ele não era seu pai, porque eu acreditava nisso, você mesmo havia me dito. Mas ele é. O exame é verdadeiro. Eu
Capítulo 204 Ezequiel Costa Júnior Tudo ao meu redor parecia acontecer em câmera lenta. O barulho das cadeiras sendo arrastadas, o som das armas sendo engatilhadas, a respiração densa de cada membro naquela sala... Mas dentro de mim, o mundo desabava em silêncio. O papel ainda estava na minha mão. Pesado. Mais pesado que qualquer pistola que já segurei. Dizia que aquele asqueroso era meu pai. O sangue deixou meu rosto. Eu matei aquele desgraçado. Matei com ódio. Com prazer. Matei como se ele fosse só mais um monstro a ser eliminado.E agora... isso? Mohammed percebeu meu silêncio. Me estudava com aquele olhar agudo, impassível, como se já soubesse o que estava passando dentro da minha cabeça. Foi Mauro quem assumiu o comando da sala.Ele deu um passo à frente ao lado de Mariana, e a autoridade com que falou fez todos silenciarem como um exército obediente. — Eu exijo, diante do Conselho da Zion, a execução imediata de Khalid por traição, difamação e tentativa
Capítulo 203 Ezequiel Costa Júnior Khalid armou pra mim. Sabia que eu iria atrás dele, deixou a localização pra isso, mas foda-se. Eu sabia muito bem onde estava pisando e ninguém ameaçava minha família. Esperei até ter certeza de quem estava ao meu lado de verdade. Se havia peixe podre no meio. Eu já tinha a estratégia perfeita, organizada entre eu e Mauro caso tivesse um problema aqui dentro. Havia um gás, e máscaras num compartimento fácil de pegar. Poucas. Faria eles dormirem e depois poderíamos decidir o que fazer. Paredes de concreto polido, janelas cobertas, uma longa mesa de reuniões cercada pelos rostos mais antigos — e perigosos — da Zion. E todos estavam ali… por minha causa. Sentado na ponta da mesa, mantinha o queixo erguido e os ombros relaxados, como se aquilo fosse apenas mais um encontro comum. Mas dentro de mim, tudo pulsava. Raiva, desconfiança… e aquela calma calculada que antecede o disparo. Ninguém ousava se aproximar. Nem mesmo os seguranças es
Capítulo 202Mariana Bazzi— Mari, olha pra mim — ele segurou meu rosto entre as mãos, o polegar acariciando minha bochecha com a mesma firmeza que usava pra segurar uma arma. — Vai ficar tudo bem. Eu vou resolver isso.Assenti devagar, engolindo em seco.— Só me promete que vai tomar cuidado, Ezequiel… por favor.— Prometo. Mas você também tem que me prometer algo.— O quê?— Cuida dos convidados. Finge que tá tudo sob controle. E mais importante... — ele se aproximou, os olhos nos meus como se quisesse me marcar com aquele olhar. — Não sai de casa por nada. Você e nosso filho são minha prioridade agora. Já basta ter te visto sangrar uma vez.A lembrança me atingiu como um tapa. Instintivamente levei a mão até a barriga.— Eu vou cuidar dele, eu juro. Ainda mais agora. — Respirei fundo, tentando buscar racionalidade. — Mas vou pensar numa forma de ajudar. Estratégica. Não posso ir pro campo de batalha com você por esses dias, mas posso ser útil daqui. Ainda sou a dama da Zion, não so
Capítulo 201 Mariana Bazzi Assim que a última porta se fechou e o último par de sapatos cruzou a saída, puxei Ezequiel pela mão com urgência. Guiando-o até o escritório, fechei a porta atrás de nós com um estalo seco. — O que vamos fazer? — sussurrei, a voz tremendo mais do que eu gostaria. Meus olhos estavam arregalados, e o coração ainda disparava no peito, como se pudesse explodir a qualquer momento. Ele passou a mão pelos cabelos, exalando tensão. — Não sei, Mari. Ainda não. Vou enrolar o quanto puder, analisar quem está comigo de verdade... e quem está em cima do muro. Talvez eu precise agir com firmeza contra os que hesitarem. — Seus olhos escureceram. — Não posso permitir divisões dentro da Zion. Muito menos colocar meu cargo em check. — Mas quem é ele, amor? Esse homem que apareceu, que quer o cargo... Ezequiel respirou fundo. Encostou-se na escrivaninha, como se o peso da memória ameaçasse derrubá-lo. — Só existe um homem que teria sangue suficiente pra exig
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