Mundo de ficçãoIniciar sessãoDarina, nunca conheceu nada além de ruína em sua vida. Mal, conheceu o pai, tem uma irmã mais velha irresponsável, e uma mãe doente. Vivendo num bairro decadente que foi devastado pela guerra. O que Darina, conhece é o lado asqueroso do ser humano, para ela, Deus está morto. Em contrapartida, Eliyahu Prokhorov, está naquela cidade apenas para cumprir uma missão, provar seu valor perante sua família. Recuperar a cidade devastada, e erguer-lá. A primeira vez que viu Daria ela era uma criança de 12 anos, e ele um homem feito de 22 anos. Eliyahu, percebeu que tinha uma problema, no primeiro instante que se sentiu atraído por uma criança de 12 anos. Passou a vida inteira criticado a obsessão da sua irmã, para depois se ver uma situação similar. Durante, alguém tempo, ele tentou lutar contra isso, ignorar, esse vírus dentro dele, mas quanto mais ele se esbarra com Darina, mais fica difícil não querer tê-la.
Ler maisEliyahu Prokhorov, 22 anos.
Esta é só mais uma cidade que devo ajudar a recuperar. Mike está à frente da operação, e eu apenas tenho que segui-lo e aprender com ele o máximo que puder. Também há a faculdade e o estágio. Minha vida não é propriamente fácil, como se espera. Enquanto minha irmã está no Irã curtindo as férias paradisíacas, eu estou aqui comendo o pão que o diabo amassou. Ser filho do Parkan, fazer faculdade, ir ao estágio e ainda desempenhar meu papel na Bratva não é fácil. — Esses foram os últimos. — Mike diz, olhando para os corpos mortos estendidos na calçada. A maioria morreu por projéteis, poucos a facadas. Outros foram mortos por explosões de bombas. Estamos saindo de uma guerra, não há tempo para tortura ou demonstração de superioridade. A tática é recuperar as cidades de forma eficaz e rápida. — Com isso, fica o trabalho mais pesado. — Mike continua. — Erguer a cidade. — completo. Olho ao redor, sem saber por onde começar. A cidade de Tula está em ruínas, envolta em uma atmosfera apocalíptica. As construções, predominantemente arranha-céus, estão gravemente danificadas, com paredes quebradas, seções ausentes e estruturas colapsadas. Há escombros e detritos que enfatizam a destruição. O céu está escuro e nublado, contribuindo para a sensação sombria do ambiente. Uma devastação urbana, sem a presença de pessoas ou objetos além das ruínas. Durante um mês, enviamos caminhões para recolher os destroços e levar para reciclagem o que podia ser reaproveitado. Não é como se eu tivesse muito a fazer além de fiscalizar o trabalho e realizar os pagamentos. Um trabalho chato. Por isso voltamos para Moscou. Para minha alegria, Nery voltou. Brigamos bastante porque ela queria a atenção de Mike para coisas triviais, e eu, em contrapartida, precisava dele para coisas úteis. De vez em quando, volto para a cidade de Tula para ver como anda o processo de recolha dos destroços. Essa cidade é grande, então esse processo vai demorar. Depois de fiscalizar o trabalho, volto para Moscou. Três meses depois, a cidade de Tula revelou-se ao estilo medieval, durante noites chuvosas, com ruas estreitas de paralelepípedos. As cores predominantes são escuras e sombrias, com tons de azul profundo, cinza e verde, criando uma atmosfera melancólica. A iluminação é baixa e suave, proveniente de lanternas ao longo da rua e das janelas dos edifícios, que emitem uma luz amarelada. Os edifícios são antigos e estão próximos uns dos outros, apresentando uma arquitetura típica medieval, com telhados pontudos e detalhes góticos. O céu está nublado e escuro, sugerindo um clima tempestuoso. Algumas pessoas começaram a voltar para habitar Tula depois que souberam que a cidade estava sendo protegida pela Bratva e que não havia mais riscos de ataque estrangeiro. Atualmente, as pessoas confiam mais na Bratva do que no próprio governo. Entre as pessoas andando pelas ruas estreitas, vejo uma criança — uma menina negra, jovem, com longas e espessas tranças box braids. Ela veste uma jaqueta de couro preta e uma camiseta branca por baixo, além de calças jeans. Sua expressão é séria e seu olhar, direto. Está sentada na calçada, abraçando os próprios pés. Sem perceber, caminho em sua direção. — Ei. — Ela eleva o olhar para me encarar. — Está perdida? — Não. — O que está fazendo fora a essa hora, com essa temperatura baixa? Ela respira fundo, soltando o ar quente para fora. — Esperando... — Esperando o quê? — Os homens saírem de casa. Minha mãe disse que não devo ficar em casa enquanto eles estiverem. Então, devo ficar do lado de fora. Acho que a mãe dela é uma prostituta. — Então, quer ficar comigo enquanto espera sua mãe terminar? Ela arqueia a sobrancelha seriamente e quase me lembra a mim mesmo na infância. — Você é um traficante de menores? — Não sou. — Tecnicamente, não sou traficante de menores, então não estou mentindo. — Assim que tua mãe terminar, te devolvo para casa. Enquanto isso, pode ficar na minha, que é quente e aconchegante. — OK. Ela se levanta e sacode suas calças. Estico minha mão, e ela segura. O edifício onde estou hospedado está a vinte minutos de caminhada daqui, então acho que ela vai aguentar. — Então, como você se chama? — Darina. — Diz, olhando para frente. — Então, Darina, quantos anos tem? — Farei doze em duas semanas. — Oh... Já pensou no que vai querer de presente de aniversário? — Ela não me responde. Fica algum tempo em silêncio. Bem diferente da minha irmã ou dos meus primos, que já estariam pedindo a lua. — Eu não quero nada. Não preciso de nada. Pessoas que não precisam de nada não sofrem. Ela é muito séria para uma criança de onze anos. — Suas tranças são bonitas. Quem te fez? — Minha mãe. Ela é quem cuida de todos os meus penteados. — Ela inclina a cabeça e me encara. — Qual é o seu nome, moço? — Eliyahu. Mas pode me chamar de Eli, se for difícil. — Eliyahu. — Ela pronunciou corretamente, me surpreendendo. O resto do caminho fizemos em silêncio, até chegarmos ao edifício onde estou hospedado com Mike e alguns primos. Assim que abro a porta, vejo Mike na cozinha, provavelmente preparando o jantar. Já que, entre nós, ele é o único que cozinha bem. É bom em tudo. — Eli, e essa criança? — Patrick diz, aparecendo com uma toalha. — Pensei que havia saído para reconhecimento, não para adotar uma criança! — Zack diz, sentado no sofá, jogando cartas com Luke, que me encara e espera uma resposta minha. Luke e Zack são gêmeos. Patrick é irmão deles e o mais novo. Eles são filhos do meu tio Lunet. — Eli. — Mike chama a minha atenção. — Eu achei. — Respondo para ele, que me olha seriamente. — Estava sentada na calçada. Então, peguei emprestado. — Não se pegam emprestado crianças, Eli. E os pais da menina? Devem estar preocupados. — Mike me repreende. — Ela estava na calçada, apanhando frio. Fiquei com pena. Darina, que horas sua mãe termina de trabalhar? — Quando a lua ficar no topo. — Olho para Mike, presunçoso. — Como eu poderia deixar uma criança sozinha até a meia-noite numa cidade escura e perigosa? — Oh. Ele tem um ponto! — Luke diz. — Xeque-mate. Próxima rodada.DarínaDepois das aulas, como sempre, fomos para o restaurante. Nos sentamos na esplanada — o sol mergulhando devagar no horizonte, tingindo o céu de laranja e lilás. Estávamos relaxados, rindo de qualquer coisa banal, comendo batatas-fritas, comentando sobre os professores e os dramas inúteis da escola. Eu queria congelar aquele momento, guardar aquela paz dentro de mim.Mas ela não durou.Do nada, a paz foi engolida pelo som de tiros.Um carro preto surgiu na entrada da rua. Dois homens nas janelas disparavam em nossa direção. O som das balas cortava o ar, gritos ecoavam ao nosso redor. Pratos estilhaçavam, pessoas caíam. Tudo aconteceu rápido demais. Rápido demais para meu corpo reagir.Eu congelei.Não conseguia me mover, nem pensar. Só consegui sentir o pânico me paralisar por completo.Carlos me empurrou da cadeira, me puxando com força antes que uma bala me atravessasse.— Darína, temos que correr! — sua voz firme me arrancou do torpor.— Nossos amigos… — eu disse, tremendo, ch
Darína O que ele quer dizer com ele é meu pai? Como se isso fosse mudar alguma coisa. Como se de repente a dor dos últimos dezoito anos fosse evaporar só porque ele apareceu com um pedaço de papel e um pedido tardio. Como se ele pudesse me arrancar da minha história e me colocar numa novela de reconciliação. Não. Eu não preciso disso. Eu não quero isso. Saí do escritório de Eliyahu como se o chão queimasse meus pés. Subi as escadas como quem foge de um incêndio e me tranquei no quarto. Coloquei os fones e deixei a música instrumental sul-africana no volume mais alto possível. Fechei os olhos. Tentei me afundar nas melodias, nas lembranças da minha mãe. Aquelas músicas eram o único elo que ainda me prendia a ela, ao que realmente importa. Franscisco é meu pai. Carlos é meu irmão. E de alguma forma... tudo isso me ultrapassa. Existe algo antigo, podre e poderoso correndo por trás da minha existência - e eu sou só a última peça de um tabuleiro montado antes mesmo de eu n
Eliyahu ProkhorovO resultado chegou como esperado. Três dias depois, o médico mandou o laudo completo, e tanto eu quanto Francisco recebemos o e-mail ao mesmo tempo. Posso imaginar o que ele sentiu ao abrir o documento e ver a verdade escancarada ali, fria, matemática, irrefutável: Darina é filha dele.Não demorou para ele me ligar, a voz engolindo qualquer formalidade, pedindo — ou melhor, exigindo — um encontro com ela. Eu aceitei, é claro. Não por generosidade. Mas porque às vezes é preciso deixar o cão lamber o osso que não pode mastigar.Marquei para sábado, e avisei Darina com antecedência que não deveria sair — apenas disse que teríamos uma “visita importante”. Ela não gostou, mas como sempre, obedeceu.Francisco chegou no horário marcado. Postura ereta, corpo ainda atlético para alguém nos seus sessenta e tantos anos, mas havia cansaço em seu rosto. Cansaço e descontrole. Aposto que discutiu com a esposa. A verdade é que Alice recebeu uma paulada emocional que talvez nunca su
DarinaJá são 21h. Nunca pensei que eu ficaria tanto tempo fora, com tanta gente, num ambiente tão barulhento, tão vivo. E mais ainda: nunca imaginei que conseguiria gostar. Que me sentiria bem. Que riria tanto.Algumas primas e primos do Carlos se juntaram à nossa mesa. Foi tanta gente que juntamos as mesas, empurramos cadeiras, e a conversa virou um emaranhado de vozes, sotaques, e risadas. E eu ali, no meio. Participando.Para alguém antissocial como eu, isso é quase um milagre.Fico observando cada rosto, cada fala. Tento absorver esse momento, registrar tudo, guardar no peito como quem guarda um pôr do sol bonito demais para ser esquecido. Uma parte de mim não acredita que estou vivendo isso. A outra quer se agarrar a cada segundo como se fosse o último.Mas nem tudo foi luz.Não gostei das perguntas que o pai de Carlos fez sobre meus pais. Muito menos do olhar da mãe dele, como se... como se me culpasse por algo que nem entendo. Por existir, talvez. Por estar aqui. Por ter me se
Eliyahu ProkhorovNo instante em que Darina se levantou para cortar o bolo ao lado de Carlos, soube que algo havia mudado no tabuleiro. A sala inteira não piscou, mas eu vi. Vi os olhos de Francisco se estreitarem, e o desconforto se alastrar pelo rosto cuidadosamente calmo de Alice. Vi a hesitação disfarçada sob seus sorrisos de anfitriões. Eles não estavam preparados para ela. Nem para a semelhança.Darina. Pequena, reluzente, com seu coque alto e as argolas que cintilam como espadas em miniatura. Tão inconsciente do caos que provoca apenas por existir. Talvez até hoje, Francisco não soubesse da verdade. Mas agora… agora ele viu. E não há como desver. Ela se parece com alguém — e eu sei exatamente com quem. Ela é o reflexo sutil e rebelde de um passado que Francisco escondeu. E agora, como uma peça rara, Darina pertence a mim. Não no sentido romântico — isso é só um bônus. Ela é a minha chave. O meu trunfo.E por mais que ela seja ingênua, doce, confusa… ela é minha.Os discursos do
Mal deram dezesseis horas e o portão já estava sendo aberto como se obedecesse a um relógio suíço. Um desfile de carros luxuosos começou a estacionar diante da mansão, cada veículo mais caro que o anterior, reluzindo sob o sol de fim de tarde. Marcas que eu só conhecia por revista ou vitrine, pessoas que cheiravam a riqueza antes mesmo de abrirem a boca. Diferente de festa de pobre, que dizem começar às dezesseis e só enche lá pelas vinte, festa de rico é cronometrada. Às dezesseis e cinco, o salão já fervilhava.Carlos nos chamou e fomos entrando no salão principal. E aquilo, aquilo não era um salão qualquer. Era quase um palácio. Lustres de cristal pendiam do teto alto como estrelas congeladas no tempo. Colunas brancas e douradas emolduravam o espaço. As mesas redondas, todas com toalhas brancas impecáveis, pratos dourados que mais pareciam relíquias e arranjos florais tão delicados que eu temi respirar perto deles. O bolo ficava em uma mesa separada, alta, enfeitada com rosas de gl
Último capítulo