Inicio / Máfia / Sombra da Ambição / Capítulo 1 – O Preço do Sangue Azul 
Sombra da Ambição
Sombra da Ambição
Por: Gabriel Lima
Capítulo 1 – O Preço do Sangue Azul 

As cortinas de linho bege balançavam suavemente com o vento da tarde. A Villa Mancini, outrora símbolo de luxo e tradição, agora parecia mais um cenário melancólico de um passado glorioso que se esvaía como poeira entre os dedos. Valentina Mancini, com os cotovelos apoiados na sacada do segundo andar, observava os jardins secos e mal cuidados, onde antes floresciam as azaleias de sua mãe.

Seu celular vibrou. Mais uma notificação bancária.

Saldo insuficiente.

Ela não piscou. Já era a terceira notificação do dia. O mesmo banco, o mesmo tom impessoal, como se a ruína da família Mancini fosse apenas mais um número nas estatísticas de falência.

— Senhorita Valentina — chamou Giuseppe, o antigo mordomo, com a voz embargada —, seu pai está na sala de estudos. Pediu para vê-la.

Ela assentiu com um leve movimento de cabeça e desceu as escadas com a elegância automática de quem foi treinada desde menina para manter a postura mesmo em meio ao caos.

A porta da sala de estudos estava entreaberta. Lá dentro, Vittorio Mancini — antes um magnata respeitado nos setores de transporte e investimentos — agora parecia uma sombra do homem que fora. Barba por fazer, papéis espalhados pela mesa de carvalho, um copo de uísque pela metade. E nos olhos, o peso de todas as dívidas do mundo.

— Sente-se, minha filha.

Ela obedeceu.

— O banco não vai conceder a extensão do empréstimo. — Sua voz falhou. — E os Moretti... Eles querem o que lhes é devido.

Valentina ergueu o queixo. O nome Moretti não era estranho. Circulava em sussurros, em reuniões discretas, nas manchetes manchadas de sangue dos jornais. Eram mafiosos, sim, mas também influentes, ricos e perigosos.

— Então é isso? Estamos à mercê de criminosos?

— Valentina... — Vittorio passou a mão pelo rosto, desesperado. — Um dos Moretti veio até mim hoje. O próprio Enzo.

Aquela informação caiu como uma pedra em seu estômago.

— Ele disse... que pode limpar nossa dívida. Todos os documentos serão anulados, a propriedade da villa será mantida em nosso nome. Em troca... ele quer casar com você.

Silêncio.

Longo. Cortante.

Valentina não gritou. Não chorou. Mas dentro dela algo se quebrou com estrondo.

— Um casamento arranjado? — Ela murmurou, com incredulidade. — Isso é sério?

— Ele não exige um casamento eterno. É um acordo. Um contrato de poder. Você será esposa dele. Em troca, tudo o que é nosso será salvo.

Ela se levantou. Caminhou até a janela. Lá fora, o céu de Milão começava a se tingir de dourado.

— E se eu disser não?

— Então... perdemos tudo. Inclusive esta casa. E eu... — Ele hesitou. — Eu não sobrevivo à humilhação.

Ela respirou fundo. Não por fraqueza, mas para manter o controle. A filha de Vittorio Mancini não cedia ao pânico. Pelo menos, não visivelmente.

— Preciso conhecê-lo — ela disse, finalmente.

O restaurante escolhido para o encontro era um dos mais exclusivos de Milão. Segurança reforçada na entrada, garçons silenciosos e uma música instrumental discreta preenchendo o ambiente.

Valentina entrou com um vestido preto simples, elegante, o cabelo preso em um coque clássico. Quando os olhos dela encontraram os de Enzo Moretti, soube que aquela noite mudaria sua vida para sempre.

Ele estava sentado à mesa de canto, impecável em um terno escuro. Os olhos, de um verde penetrante, a analisaram com uma intensidade desconcertante. Era jovem — talvez dez anos mais velho que ela —, mas sua presença parecia ocupar todo o restaurante.

— Senhorita Mancini — disse ele, erguendo-se e puxando a cadeira para ela. — Um prazer conhecê-la.

— Ainda não sei se o prazer será meu — respondeu, sentando-se com frieza.

Enzo sorriu, como se apreciasse a ousadia.

— Você é exatamente como me disseram. Inteligente, bonita... e orgulhosa.

— E você é exatamente o que eu esperava. Frio, calculista... e perigoso.

Ele soltou uma risada breve.

— Gostaria que fôssemos sinceros um com o outro, Valentina. Esse casamento não será por amor. Não ainda. — Seus olhos brilharam. — Mas será uma aliança. Você ganhará sua liberdade de volta, e sua família será salva. Em troca, eu ganho algo que dinheiro algum pode comprar: o nome Mancini.

Ela cruzou os braços.

— E o que te faz pensar que vale a pena sacrificar minha liberdade pelo seu jogo de poder?

— Porque você já perdeu tudo — ele disse, sem rodeios. — E sou sua única saída.

A frase atingiu o ponto fraco dela com precisão cirúrgica. Enzo era cruel em sua honestidade, mas não mentia.

Valentina pegou a taça de vinho, girando o líquido lentamente.

— Quanto tempo durará esse “casamento”?

— O tempo que for necessário para solidificar a aliança. Um ano, talvez dois. Depois, o divórcio pode ser amigável. Discreto. Você receberá uma fortuna em compensação. E continuará com sua liberdade... e sua dignidade intacta.

— E se eu me recusar?

— Você não vai recusar — ele disse, com segurança. — Porque não é covarde como seu pai.

Ela engoliu o vinho inteiro de uma só vez.

— Então é isso — disse, colocando a taça na mesa. — Estou vendendo minha alma por um nome que já não vale mais nada.

— Não. Você está apostando em um novo império — ele retrucou, inclinando-se para ela. — E no fim... talvez descubra que esse casamento será sua maior arma.

Valentina se levantou.

— Prepare os papéis. Mas não espere obediência cega, senhor Moretti. Se eu for sua esposa, será nos meus termos.

Enzo sorriu com a calma de quem acabava de vencer um jogo.

— É exatamente isso que eu espero de você, Valentina.

Ela saiu do restaurante com passos firmes, o coração acelerado e a alma em combustão. A filha da alta sociedade havia selado um pacto com o submundo.

E a guerra silenciosa entre orgulho e sobrevivência acabava de começar.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
capítulo anteriorcapítulo siguiente
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP