Era para ser só mais uma madrugada exaustiva após um plantão. Mas quando Sara, uma jovem estudante de Medicina, chega em casa, encontra sangue no chão… e um homem ferido em sua sala. Luca Moretti, 34 anos. Dono de olhos perigosos, voz grave e feridas de bala no abdômen. O que Sara não esperava era que, ao tentar salvá-lo, abriria a porta do inferno — literalmente. Antes que pudesse ligar para a emergência, a porta é arrombada. Um homem armado entra atirando, e Sara descobre da pior forma que está no centro de uma guerra que não pediu para participar. Luca é o chefe da máfia mais temida da cidade. E ela? A filha do antigo médico da organização. Um segredo enterrado no passado a transforma na próxima peça valiosa desse jogo sangrento. Agora, protegida por quatro homens letais e intensos — todos devotados a Luca e perigosamente atraídos por ela — Sara vai descobrir que a maior ameaça pode não ser a morte... mas o desejo. Amor e ódio. Verdades ocultas. E uma atração que pode destruir tudo. Ela foi jogada nesse mundo por acaso. Ou talvez... pelo destino.
Leer másA chuva caía como se quisesse lavar o mundo inteiro. As gotas batiam contra meu casaco encharcado, e cada passo pela calçada vazia ecoava como um sussurro incômodo no meu ouvido. Eram 23h37 quando girei a chave na porta de casa. Exausta, com o corpo pedindo socorro depois de mais de dezoito horas no hospital, tudo que eu queria era uma ducha quente e silêncio.
Mas o que encontrei foi o oposto.
Fechei a porta atrás de mim e deixei as chaves caírem na mesinha do corredor. Minha mochila escorregou do ombro. Ia direto para o chuveiro, mas então vi, um rastro escuro no chão. Gotas vermelhas. Não, não gotas. Marcas de Sague.
Meu coração deu um salto seco. Travei. A luz fraca da luminária da sala desenhava sombras no chão de madeira, e o silêncio da casa parecia mais pesado do que nunca. Eu deveria ter corrido. Deveria ter ligado para polícia. Mas minha mente treinada em emergência agiu antes de qualquer medo.
Meus olhos seguiram o rastro. As marcas iam do parapeito da janela até o centro da sala, como se alguém tivesse rastejado. A janela… estava aberta. Eu tinha esquecido a maldita janela aberta novamente.
O frio percorreu minha espinha.
E então eu o vi.
Caído no chão, com o corpo parcialmente apoiado contra o sofá, estava um homem. O sangue manchava sua camisa preta, e o tecido encharcado revelava dois ferimentos no abdômen. Tiros. Tiros bem colocados. Levei dois segundos para processar isso. O terceiro foi para notar os olhos dele.
Cinza metálico. Gélidos. Quase não-humanos. Eles se prenderam aos meus como se me conhecessem. Ou como se soubessem exatamente quem eu era.
— Fecha… a porta. — a voz dele saiu arranhada, mas ainda assim firme.
Travei onde estava. Meu cérebro gritava que aquilo era loucura. Que eu precisava correr. Mas algo nos olhos dele… não sei explicar. Era dor, sim. Mas também um orgulho inquebrável. Uma ameaça silenciosa.
— Você está ferido. Precisa de ajuda. — Minha voz saiu mais firme do que eu imaginava. Instintivamente, abaixei para analisar os ferimentos. Sangramento moderado, mas contínuo. Pressão provavelmente em queda. Um dos tiros podia ter atingido um órgão vital.
Ele me segurou pelo pulso antes que eu tocasse nele. A mão era forte, mesmo com a perda de sangue. Senti o calor do contato e, ao mesmo tempo, um arrepio me subiu pela pele.
— Só me escuta, doutora. Fecha a maldita porta. Agora.
Me levantei e fechei. Tranquei. Coloquei a corrente. A adrenalina queimava sob minha pele como uma segunda febre.
Voltei para ele e só então percebi quem era. Eu já tinha visto aquele rosto. Em jornais. Em manchetes. Em sussurros nos becos. Luca Moretti. O nome que até a máfia sussurrava com medo. O homem que eu nunca imaginei que pisaria na minha realidade.
E agora ele estava ali, sangrando na minha sala, encarando-me como se eu fosse a única coisa entre ele e a morte.
— Você é Sara Vasquez, certo? — ele murmurou, os olhos fixos nos meus.
Senti minha respiração travar. Como ele sabia meu nome?
— Como você…?
— Tive que ter certeza antes de entrar. — Ele tentou sorrir, mas o esforço o fez gemer. O sangue escorreu mais rápido pelo canto da camisa.
Fui até a cozinha e voltei com um kit de primeiros socorros. Ele podia ser o próprio demônio, mas eu era médica. Ou quase. E isso falava mais alto do que o medo.
— Vou ter que tirar sua camisa. — falei, me ajoelhando ao lado dele. Suas mãos, agora trêmulas, tentaram ajudar, mas eu já estava focada. O calor da pele dele era estranho, diferente.
— Diga-me o que fazer. — ele disse, com uma voz rouca e baixa. — Só não me deixe morrer aqui.
Levantei os olhos para os dele. Havia algo ali… um vazio antigo, uma guerra interna.
— Não vou deixar. — respondi. Nem sei por que disse aquilo com tanta convicção.
Talvez porque, naquele instante, eu soubesse que minha vida jamais voltaria a ser a mesma.
O sangue dele manchava meus lençóis limpos. A compressa improvisada já estava encharcada, e eu pressionava o ferimento como se minha força pudesse impedir a morte de atravessar a porta. Luca Moretti. O nome ainda ecoava na minha mente como um tambor de guerra.
— Você perdeu muito sangue. Se eu não suturar logo, não vai aguentar.
Ele assentiu, os olhos fixos nos meus com uma intensidade que parecia atravessar minha pele.
— Então faça.
Nunca pensei que ouviria essas palavras vindas do homem mais temido da máfia italiana, deitado no chão da minha sala. Mas ali estava ele, rendido… a mim.
Preparei o que tinha: linha cirúrgica, agulha, antisséptico, tudo do kit de emergência que mantinha por instinto. Sempre achei exagero da minha mãe. Agora, agradecia silenciosamente por sua paranoia.
— Isso vai doer. — avisei, mesmo sabendo que ele já devia estar acostumado com a dor.
— Já estou sentindo coisas piores. — murmurou, a mandíbula contraída.
Costurei o ferimento com o máximo de precisão que a tensão permitia. A cada ponto que dava, sentia o peso do que estava fazendo. O peso do nome dele. O peso das perguntas sem resposta.
Quando terminei, respirei fundo e me afastei um pouco, observando se ele apresentava sinais de choque. Mas ele parecia estável, por enquanto.
— Por que veio até mim? — perguntei. — Como sabe meu nome?
Ele se endireitou com esforço, apoiando as costas no sofá, o peito nu coberto de manchas secas de sangue. Os olhos cinzentos me fitaram como se medissem minha alma.
— Porque o mundo que você acha que conhece está prestes a desmoronar, Sara.
— Isso não responde nada.
Luca passou a mão pelo rosto, como se aquilo o ajudasse a manter o controle. Havia algo nele além da brutalidade. Uma dor crua, contida. E quando falou de novo, sua voz soou mais baixa, quase amarga.
— O nome do seu pai era Alejandro Vasquez, certo?
Meu coração disparou. Engoli seco.
— Sim…, Mas ele morreu há anos. Num acidente. — respondi, quase automaticamente, como se repetir a história oficial tornasse tudo mais fácil de suportar.
Luca balançou a cabeça devagar, com um meio sorriso torto.
— Não foi um acidente.
As palavras caíram como lâminas sobre mim.
— Como assim?
— Seu pai trabalhou com o meu. Eles eram praticamente irmãos. Mas seu pai… ele tentou sair. Quis proteger você e sua mãe. E por isso, foi silenciado.
Senti meu estômago virar.
— Está dizendo que meu pai… era um criminoso?
— Estou dizendo que ele era um homem bom no lugar errado. Como você.
Afastei-me, tentando processar, mas era como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Minha mente gritava para não acreditar. Mas algo dentro de mim… sabia.
— Por que está me contando isso agora?
Luca então virou o rosto para a janela, os olhos ficando sombrios.
— Porque os mesmos homens que mataram seu pai… hoje, tentaram me matar. E agora que sabem que você existe… vão vir atrás de você também.
O cheiro de sal e gasolina queimada impregnava o ar do porto quando percebemos que havíamos caído na armadilha. — Merda — Luca rosnou, baixando o rifle quando os primeiros tiros ecoaram nos contêineres. Os faróis de quatro SUVs pretos acenderam de repente, iluminando nosso grupo como alvos em um estande de tiro. Enzo puxou minha mão com força, arrastando-me para trás de um container de metal. — Você disse que a informação era segura! — ele gritou para Luca, que se posicionou ao nosso lado, a arma pronta. — E era!— Luca deu três tiros precisos na direção dos veículos. Um grito de dor respondeu. — Alguém nos entregou.O som de botas no asfalto se aproximava. Eu engoli seco, sentindo o peso da pistola na minha cintura. Não estava em condições de lutar — minha perna ainda doía, minhas costelas latejavam — mas não havia escolha. — Quantos? — perguntei, encostando as costas no metal frio. — Demais — Enzo respondeu secamente. Luca olhou para nós dois, seus olhos escuros refle
O cheiro de antisséptico queimava minhas narinas quando abri os olhos. Luzes fluorescentes. O som monótono de um monitor cardíaco. E do meu lado, sentado numa cadeira desconfortável, Enzo.Ele estava de cabeça baixa, as mãos entrelaçadas com força, os nós dos dedos brancos. Parecia ter envelhecido dez anos desde a última vez que o vi.— Enzo.Minha voz saiu rouca, quase irreconhecível.Ele ergueu o rosto tão rápido que ouvi seu pescoço estalar. Seus olhos escuros, sempre tão controlados, estavam vermelhos, como se não tivesse dormido em dias.— Você está viva.Não era um alívio. Era uma acusação.Tentei me sentar. Uma facada de dor no meu torso me fez cair de volta no travesseiro.— Quanto tempo?— Três dias. — Ele esfregou o rosto com as mãos. — Os médicos disseram que você teve sorte. O corte na coxa não atingiu a artéria.Sorte.A palavra soava como uma piada de mau gosto.— Luca?O rosto de Enzo se fechou.— Lidando com a Bratva.— Sozinho?— Achando que eu ia deixar ele resolver
O motor do meu carro rugiu quando pisei fundo no acelerador, as lágrimas embaçando minha visão. A estrada estreita serpenteava à minha frente, árvores escuras se contorcendo como espectros sob o luar. Eu não olhei para trás. Não podia. "Você sempre soube que isso ia acontecer." As palavras de Enzo ecoavam na minha cabeça, cada sílaba uma facada. "Se você quiser ele, então vá." Mas eu não queria escolher. Não assim. Não quando a escolha significava destruir tudo o que os três tínhamos construído — alianças, lealdades, guerras travadas lado a lado. Minhas mãos tremeram no volante. Idiota. Idiota por achar que podia ter os dois. Idiota por achar que meus sentimentos não iam incendiar tudo. O carro balançou quando uma curva mais fechada apareceu à frente. Eu pisei no freio. Nada aconteceu. O pedal afundou sem resistência, como se estivesse desconectado. Meu coração parou. Não. Pisei de novo, com força. Nada. A velocidade aumentava. A curva se aproximava rápido demais.
O silêncio na entrada da mansão era tão denso que eu podia ouvir meu próprio coração batendo. Enzo ainda me encarava, seus olhos escuros buscando qualquer pista, qualquer mentira. Luca, ao meu lado, estava tenso como uma corda prestes a arrebentar. — Nada aconteceu no jantar — eu disse, forçando minha voz a não tremer. Enzo riu, um som seco e sem humor. — É por isso que seus lábios estão inchados? Meu estômago torceu. Luca se moveu quase imperceptivelmente, seu corpo bloqueando parte da minha visão de Enzo, como se estivesse se preparando para um ataque. — Chega, Enzo — ele rosnou. — Chega? — Enzo deu um passo à frente, e eu vi seus dedos se contraírem. — Você acha que pode sair com ela, esfregar na minha cara e depois dizer chega? — Não foi assim. — Então me explica como foi. Luca não respondeu. E isso foi pior do que qualquer confissão. Enzo olhou para mim novamente, e pela primeira vez, vi algo além de raiva em seu rosto. Vi dor. — É verdade? — ele perguntou,
O motor do Maserati roncou como um animal adormecido quando Luca acelerou pela estrada sinuosa que levava de volta à mansão. A noite estava escura, o ar pesado com o cheiro de chuva prestes a cair. Meus lábios ainda formigavam do beijo, e minhas mãos – apoiadas no colo – tremiam levemente. Luca dirigia com uma mão no volante, os dedos batendo uma batida irregular contra o couro. A outra mão repousava sobre o câmbio, tão perto do meu joelho que eu podia sentir o calor irradiando dali. Ele não me tocava, mas a proximidade era uma promessa não cumprida. — Você está quieta — comentou, os olhos fixos na estrada. — Estou pensando. — No que? Pensei em dizer: Em como seu gosto ainda está na minha boca. Em como suas mãos me seguraram como se eu fosse quebrar. Como eu quase disse sim. Mas apenas disse. — Em nada importante. Ele soltou um som baixo, quase um riso. — Mentira. Olhei para ele de relance. O perfil dele era cortado pela luz fraca dos faróis – o maxilar forte, a boca
A brisa noturna acariciava minha pele enquanto descíamos os degraus de mármore do restaurante. A cidade abaixo de nós pulsava em luzes, mas aqui no alto, tudo parecia mais calmo. Mais íntimo.Luca caminhava ao meu lado com passos largos, um leve sorriso nos lábios como se ainda estivesse digerindo o gosto da provocação sob a mesa. Ele mantinha uma mão no bolso e outra nas costas do meu vestido, guiando-me com uma leveza que contrastava com a tensão elétrica entre nós.No estacionamento privativo do hotel, um funcionário já nos aguardava com o carro dele. Um Maserati preto, elegante e ameaçador como o próprio Luca.— Eles tratam você como realeza aqui — comentei, cruzando os braços ao sentir um arrepio.— Eu pago como um rei. Então eles entregam como se eu fosse um.— Arrogante.— Realista.Revirei os olhos, rindo.— E modesto, pelo visto.Ele deu a volta no carro para abrir a porta do passageiro para mim, mas em vez de entrar, apoiei a mão na lataria e o encarei.— Não vai escapar com
Último capítulo