Do luxo aos sacos de lixo. Da cobertura à cozinha. Da patricinha mimada à empregada da máfia. A vida de Violeta virou de cabeça para baixo no instante em que o FBI bateu à sua porta. Seu pai - o respeitado empresário da aviação - era, na verdade, um dos maiores traficantes a serviço da máfia italiana, usando o próprio jatinho como fachada para contrabandear drogas em rotas exclusivas e discretas. Com a queda do império construído sobre mentiras, vieram as consequências brutais. O dinheiro foi apreendido. As posses, confiscadas. E sua mãe, sua irmã e ela... entregues como moeda de troca à própria máfia que o pai havia traído. A bolha de luxo em que viveram estourou, dando lugar a um pesadelo real - onde a sobrevivência custava obediência, silêncio e submissão. Mas antes que tudo desmoronasse, Violeta teve uma última noite de liberdade. Uma aventura embriagante em uma boate de luxo, com um estranho tão sedutor quanto enigmático. Ela nunca soube seu nome. Apenas lembrava dos olhos frios, do toque firme e da promessa de que aquela noite não seria esquecida. E realmente não foi. Nove meses depois, o segredo daquela noite nasceu entre lençóis baratos e lágrimas silenciosas. O filho de um homem que ela jamais imaginou rever... até se tornar empregada em uma de suas propriedades. Ele era o Don. O chefe da máfia. Seu patrão. O pai do seu filho. Agora, entre dívidas herdadas, perigos iminentes e sentimentos proibidos, Violeta precisa proteger seu segredo a todo custo. Porque, se o Don descobrir a verdade, ela pode perder muito mais do que a liberdade. Pode perder o coração... e o filho.
Leer más— Depressa, Violeta, hoje temos trabalho. — A voz exausta da cozinheira ecoa atrás de mim.
Ajeito o avental que faz parte do meu uniforme e pego as sacolas pesadas de lixo — que, na minha opinião, deveriam ser devidamente separadas entre recicláveis e orgânicos — e, involuntariamente, a minha mente retorna para casa, para o que costumava ser meu lar. Nós tínhamos a ética de preservar o meio ambiente, e o mínimo que podíamos fazer era separar o reciclável.
Arrastando os sacos de lixo pesados, dou a volta pelos lados da mansão luxuosa. Já faz quase dois anos desde que essa realidade horrível se instalou na minha vida. Eu, agora, sou a que auxilia na cozinha, enquanto a minha irmã ajuda a minha mãe a cuidar das necessidades dos membros da família, na parte mais íntima da casa.
Não tivemos muita escolha quando o meu pai foi preso, deixando para trás uma dívida milionária com a máfia. Mamãe, minha irmã e eu, nos tornamos o pagamento dessa dívida. Fomos entregue a mafía.
Os latões de lixo, empurrados com esforço, fazem um barulho desagradável enquanto arrasto-os até a parte da frente da casa. Essa é a minha rotina diária agora, uma vida de servidão que antes eu jamais teria imaginado. É irônico como a vida pode dar voltas inesperadas, levando-me do luxo às tarefas mais árduas e as vezes até humilhantes, como algumas ocasiões em que a caçula da família faz eu passar. Mas, por enquanto, é o que precisamos fazer para sobreviver.
Hoje é o dia em que o filho mais velho, o Don da máfia, retorna para casa. A Cosa Nostra, a máfia italiana, valoriza muito os antigos costumes, como organizar um baile para corruptos e milicianos, então a volta do Don não poderia ser comemorada de outra forma.
Particularmente, não conheço muitos membros da família, além dos filhos que se aventuram na cozinha, com idades entre 19 e 21 anos, os quatro filhos do casal Lombardi, os dois mais velhos eu nunca vi, sei apenas os seus nomes, se é que estão certos.
Há a Melissa, egocêntrica aos 19 anos, e o Carlito, de 21 anos, um jovem mais cordial, devo acrescentar, e o mais simpático da família, e os homens de honra, como diz Alicia quando esta sonhando acordada, que são Demitri e o Don Ítalo.
Mas a questão é que hoje não posso me perder em devaneios sobre como seria minha vida se o meu pai não tivesse decidido subir na hierarquia tão rápido se envolvendo com essa gente. Agora, em vez de estar na faculdade estudando sobre animais, estou presa nesta casa, descascando cenouras e infinitas batatas. É uma vida que eu jamais teria imaginado, um destino que me foi imposto quando o meu pai perdeu o controle das suas ambições.
— Cuidado com isso, Violeta! — Alicia, a filha da cozinheira, criada na máfia desde o ventre, me repreende ao perceber que deixei a água encher demais a panela. Embora tivéssemos praticamente a mesma idade, ela parecia ter vivido umas cinco vidas nos seus vinte e poucos anos, ora uma senhora de 50 anos, ora uma adolescente apaixonada. Demitri, o filho que atuava como braço direito do seu irmão, a pegava de vez em quando. No entanto, como uma sonhadora, ela acreditava que poderia ser uma Lombardi.
Em dois anos, uma das coisas que aprendi é que homens como ele só queriam corromper pessoas da nossa classe. Nunca estaríamos à altura dos cargos de destaque na máfia, éramos subornadas, apenas um degrau da hierarquia.
— Desculpe, Alicia, não vai acontecer de novo. — A máfia tinha a sua hierarquia em todos os lugares, e cada um buscava a sua fatia do bolo, seu lugar no pedestal. Não era diferente com alguns dos funcionários.
— Se cometer um erro tosco hoje, vai você e a sua família pra vala. — Me ameaçou com a faca em riste no meu rosto. Eu já estava acostumada com essa grosseira. Engoli os chingamentos que desferia a ela na minha mente, e assenti.
Logo, ela voltou a dar ordens ao lado da sua mãe, e eu tinha quase certeza de que o máximo que ela alcançaria na hierarquia seria a substituição da sua mãe. Não era porque eu era egocêntrica ou pessimista, mas Manu, minha irmã, havia me contado algumas semanas atrás que Demitri estava noivo de alguma princesa da máfia. Mas eu não era ninguém ali, e isso não era da minha conta. Não éramos amigas, e ela teria que enfrentar o seu próprio destino. Eu tinha problemas demais para lidar na minha própria vida.
Continuei a preparar os legumes, a tarefa que me fora atribuída hoje. Haveria cerca de 400 pessoas ou mais neste evento, uma equipe de 90 funcionários foi contratada para servir a todos, juntamente com um restaurante que trabalhava em harmonia conosco.
O meu trabalho era simples, cortar e cozinhar legumes. Era fácil, nada sairia do meu controle. Lá fora, minha mãe e minha irmã estariam servindo bebidas, e se tudo corresse bem, por volta das 4 da manhã, poderíamos finalmente descansar.
Por volta das 11 da noite, a correria não havia parado e os garçons voltavam com bandejas vazias e algumas comidas expostas, alguns deles tropeçando nas bebidas e derramando líquidos no chão. As minhas mãos já não respondiam muito bem, e eu agradecia a Deus pelo fato de que, a partir daquele momento, só teríamos que servir algo leve até o final da festa.
Depois de cuidar dos legumes, passei para as panelas e pratos sujos, deixando as minhas unhas frágeis e os meus braços doloridos. A minha única alegria era saber que um sorriso banguela me esperaria em casa quando eu chegasse.
Segurei as lágrimas, enfrentando uma realidade tão dura e diferente daquela que eu havia sonhado. Mas era minha vida, e eu tinha que supor
tar tudo por ele.
VioletaItalo me deixou em casa, com milhões de pensamentos girando na minha mente. Ele queria que eu fosse trabalhar na sua casa, mas sabia que tipo de serviços eram esses. Céus, eu estava tão encrencada. Por sorte, ele não parecia ser casado, e a minha resposta não foi um sonoro "não" imediato, porque uma faísca de esperança se acendeu no meu coração romântico. Italo era o pai de Pietro, sem que ele soubesse ainda. Ele era o pai, e talvez, com a nossa aproximação indo para sua casa, eu pudesse revelar que ele é o pai de Pietro. Quem sabe poderíamos até ser uma família. Sorri como uma boba, é difícil não se encher de esperanças quando se imagina tantos cenários.Deixei esses pensamentos de lado e estendi a toalha na parte da lavandaria. A casa não tem muros, então ignorei os olhares dos seguranças nas minhas coxas. Esqueci de vestir o hobbi.Voltei para dentro de casa, era quase meia-noite, e Manu ainda estava no sofá. Eu sabia que ela estava louca para perguntar como foi o jantar. A
Ítalo— Qual parte o senhor não entendeu? — perguntei carrancudo ao meu pai. Odiava quando ele ainda me via como um moleque. Eu respeitava os seus 68 anos, mas acreditava ser homem o suficiente para tomar as minhas próprias decisões. Naquele momento, eu era o chefe da famiglia.O meu pai me encarou, sua expressão carregada de autoridade e desgosto. Ele não mediu palavras quando suspirou e disparou.— Eu não sei. Me diga você, Ítalo. Andou trans@ndo com a empregada dentro de casa. Creio que você tenha mulheres suficientes fora para se entreter.Essa discussão estava longe de ser uma surpresa. Sabia que ele seria contra e desconfiaria que o meu interesse em Violeta era sexual. Mesmo que fosse levar a sua irmã e mãe junto.Passei os dedos sob as minhas pálpebras, tentando esconder a minha irritação. Este era um dos motivos pelos quais eu preferia me manter recluso em casa, fazendo o necessário e evitando momentos desagradáveis como este.— De qualquer forma só estou informando. É uma dec
VioletaNa manhã seguinte, deixei Enrico aos cuidados da babá e me dirigi à cozinha da mansão Lombardi. Milagrosamente, naquela manhã, não ouvi reclamações de Manu. Algo estava acontecendo com ela, mas eu esperaria que ela me contasse. Ao chegar à cozinha, cumprimentei os demais funcionários. No total, éramos uma equipe de cinco pessoas responsáveis por atender às demandas da família na cozinha, além de outros três auxiliares, incliundo eu. A Sra. Lombardi estava sempre recebendo visitas, e o Sr. Lombardi também, então os chefes de cozinha eram muito bem equipados. Nós precisávamos estar sempre prontos, por isso as equipes trabalhavam durante o dia todo, revisando em grupos.Eu havia conseguido silenciar Italo ao recuar na nossa noite juntos. Ele era um homem alfa, daqueles que dominam tudo ao seu redor. Homens com poder suficiente para controlar o que desejam. Eu definitivamente não queria estar sob o seu olhar atento, então precisava pensar com calma antes de revelar a verdade sobr
ÍtaloEstava sentado na sala de reuniões da mansão Lombardi, com vista para os jardins que cercavam a propriedade. À minha frente, Vadim Boris, um dos homens mais influentes da Rússia, falava com a sua voz grave e autoritária. Se ele achava que me intimidava, estava perdendo o seu tempo. Vadim era o pai de Lúcia, minha futura esposa, e a nossa reunião estava envolta em formalidades.O motivo do nosso encontro era discutir o dote que seria pago no casamento. Na tradição da máfia italiana, o dote da noiva era uma questão séria e significativa. Os valores acordados apenas aumentariam com o casamento, como uma antiga lei que ainda era seguida como regra.Conversamos sobre negócios, política e alianças, enquanto o meu pai, Cássio Lombardi, observava atentamente. Ele estava satisfeito com a influência de Vadim na política russa, algo que beneficiaria a nossa família e a nossa expansão de negócios.Depois da reunião, me retirei para o meu quarto e enviei uma mensagem para Isaac, meu seguranç
VioletaNo dia seguinte, deixei Pietro com a Nina, ela era responsável por cuidar dele enquanto eu não estava por perto. Ela era filha de uns dos soldados, a sua mãe havia morrido no parto, eu só tinha a agradecer por ela, e a sra Lombardi que a indicou, e pagava um salário a ela por isso. Contudo, era triste passar o dia todo fora e pensar que, daqui a alguns anos, Pietro iria entender melhor a situação, mas não teríamos a conexão que eu gostaria. Passava mais tempo na mansão Lombardi descascando batatas do que com o meu filho. Eu jurava tentar ver o lado bom da situação, procurar uma saída, mas havia dias como aquele em que a minha maior vontade era confrontar o meu pai e perguntar: "Por quê?"Tínhamos uma vida boa. Tínhamos um teto sobre as nossas cabeças e comida generosa e farta na mesa. Com o aumento das viagens em táxi aéreo, a nossa vida mudou radicalmente. No entanto, hoje vejo que, na verdade, estávamos vivendo uma mentira. Papai estava infiltrado na máfia, envolvido em ativ
VioletaEu estava parada indo para casa pelo jardim, observando a minha frente, quando vi Italo se aproximando. O meu coração começou a bater mais rápido, e a incerteza me envolveu. Eu não estava pronta para enfrentá-lo naquele momento. Rapidamente, me escondi atrás de um arbusto espesso, esperando que ele não me visse. Italo passou próximo a mim, os seus passos firmes ecoando pelo jardim, mas, graças à minha posição escondida, ele não parecia ter notado a minha presença. Um suspiro aliviado escapou dos meus lábios, e, ainda escondida, observei-o continuar o seu caminho. Decidi que era melhor evitar qualquer encontro naquele momento. Com cuidado, tirei a touca do uniforme e segui em direção à nossa casa. No caminho, os meus pensamentos estavam repletos de perguntas sobre o que ele estava fazendo ali. Qual a sua posição na família Lombardi, se via que ele não era um mero segurança. Ao entrar em casa, fui surpreendida por Pietro, os seus cabelos castanhos escuros se sobressaiam em um
Último capítulo