Prólogo - Parte 2

O frio me envolveu de novo. Mas dessa vez, não era da chuva. Era medo puro. Um tipo de medo que nunca senti, mesmo nos piores plantões da faculdade.

— Você está dizendo que minha vida corre perigo

— Estou dizendo que ela já mudou. — Ele me encarou de novo. — E se quiser viver… vai ter que confiar em mim.

Dei um passo para trás.

— Confiar em você? Um mafioso? Você invadiu minha casa sangrando, caiu no meu chão, me contou uma história absurda e agora quer que eu confie?

Ele suspirou fundo, com um cansaço que parecia pesar mais do que as balas.

— Eu poderia ter lhe deixado no escuro. Poderia ter morrido na rua ou invadido qualquer outro lugar. Mas vim aqui. Porque o sangue do seu pai corre em você. Porque ele salvou o meu pai inúmeras vezes. E agora… eu estou pagando essa dívida.

A confusão se misturava com a adrenalina. Eu não sabia o que era verdade, mas sabia que aqueles olhos — frios e intensos — não mentiam.

— O que você quer de mim? — perguntei, a voz baixa.

Ele me olhou por um longo momento. Então, com esforço, estendeu a mão.

— Quero que viva. E se confiar em mim… talvez eu consiga impedir que te matem.

O tempo congelou. Meus olhos na mão dele. Naquela escolha.

A vida que eu conhecia estava prestes a sumir. E tudo o que restava… era ele.

Luca Moretti.

O homem que podia ser minha ruína.

Ou minha única salvação.

Costurei a última linha com as mãos trêmulas, meu pulso ainda sentindo o peso do toque dele. A luz da luminária da sala projetava sombras longas no rosto de Luca, e o sangue seco contrastava com a palidez de sua pele. Ele era perigoso. E ainda assim, ali, estirado no meu sofá como um homem ferido e em silêncio, parecia mais humano do que eu imaginava possível.

Peguei a faixa de tecido e comecei a enrolar em volta de seu abdômen, com cuidado para não tocar as áreas suturadas.

— Isso vai manter os pontos firmes até eu conseguir antibióticos de verdade. E você precisa de repouso. No mínimo 72 horas. Mas duvido que vá me ouvir, não é?

— Inteligente e sarcástica. — murmurou com um meio sorriso. — Meu tipo favorito de médica.

Revirei os olhos. Era como se ele achasse graça de tudo — até mesmo da morte batendo na porta. Homens assim não sabiam temer. Não sabiam parar.

— Consegue se levantar?

— Já passei por piores. — retrucou.— Isso não é exatamente um elogio à sua condição atual. — rebati, ajeitando o curativo final.

Afastei-me e fui até a cozinha. A torneira aberta preenchia o silêncio com o som da água correndo. Lavei as mãos com movimentos automáticos, ainda ouvindo minha pulsação nos ouvidos. A informação sobre meu pai martelava na minha mente. Como um sussurro antigo que eu nunca ouvi direito, mas que sempre esteve ali, escondido.

Mas não havia tempo para pensar. Nem processar. Algo dentro de mim dizia que aquilo era só o começo.

Dei dois passos em direção à sala quando ouvi.

CRASH!

A porta da frente explodiu em estilhaços.

O grito ficou preso na minha garganta. O som da madeira se partindo reverberou nas paredes, e meu coração saltou para a garganta.

Um homem atravessou o batente como um demônio saído do inferno. Alto, ombros largos, roupas encharcadas e uma expressão vazia. O olhar escuro caiu em mim primeiro, depois em Luca, ainda apoiado no sofá.

— Achei você, desgraçado. — cuspiu as palavras como veneno.

— Sara, corre. — Luca falou baixo, tenso, se erguendo com esforço, pressionando a lateral do corpo.

Mas eu estava paralisada.

O intruso sacou uma pistola prateada. Os olhos brilharam com uma fúria animalesca. Eu deveria ter fugido. Ter me escondido. Mas fiquei ali. Como se meus pés tivessem sido cravados no chão.

Luca puxou um revólver pequeno de dentro da calça, escondido sob o cinto. Abaixou-se atrás do sofá. O movimento rápido fez o sangue escorrer outra vez, manchando a faixa.

— Você não devia ter vindo aqui, idiota. — o homem falou, dando um passo à frente.

— Você também está sangrando, Lorenzo. Foi só um aviso. — Luca grunhiu. — Se continuar, não sairá vivo.

— Você acha que isso me assusta? Depois do que fez com meu irmão? Eu vim terminar o que comecei. E agora ela também vai pagar.

O olhar dele voltou para mim. Foi quando percebi: ele estava ali para matar os dois.

Luca agiu antes que eu pudesse reagir.

BANG!

O som do tiro foi tão alto que meus ouvidos zuniram. A bala acertou o homem no ombro, fazendo-o recuar com um grito de dor. Ele cambaleou, mas não caiu. Levantou a arma e atirou.

A bala passou rente à minha cabeça e atingiu a parede.

Gritei. Me joguei atrás do balcão da cozinha, o coração batendo como uma bateria de guerra.

— Fica abaixada! — ouvi Luca gritar.

Outro tiro. E outro.

O som metálico do revólver sendo recarregado. Respirei fundo, tentando ignorar o cheiro de pólvora e sangue.

Não era um pesadelo.

Era minha casa.

Era a minha vida que estava sob ataque.

Ouvi passos pesados se aproximando. Estavam vindo até mim.

Peguei a faca da gaveta atrás do balcão. Tremia tanto que mal conseguia segurar, mas a agarrei como se fosse minha única tábua de salvação. Ele virou o canto da cozinha. Eu gritei e ergui a lâmina.

BANG!

O corpo do homem caiu a menos de um metro de mim. O sangue respingou no chão, quente, viscoso. Luca mancou até ele, ainda segurando o revólver. Os olhos frios. Mortos por dentro.

— Eu disse que não sairia vivo.

Fiquei ali, imóvel, com a faca na mão e a respiração acelerada. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. A morte tinha entrado no meu lar e deixado uma marca impossível de apagar.

Luca caiu de joelhos. A ferida tinha reaberto.

Corri até ele.

— Luca!

— Estou bem… só… perdi sangue demais. — murmurou, a voz falhando.

— Cala a boca. Você não está bem, idiota. — falei, rasgando o lençol para improvisar outro curativo.

Meus dedos sujos de sangue tremiam enquanto o pressionava novamente.

— Ele… ele sabia meu nome. — murmurei.

— Sabem mais do que você imagina. — ele disse, com os olhos quase fechando.

— Quantos estão atrás de mim?

Ele abriu os olhos. Fixou os dele nos meus, e havia algo ali que não era mais só dor. Era…culpa.

— Todos.

A resposta me atingiu como um soco no peito.

— E você trouxe isso para mim, Luca. — minha voz saiu trêmula. — Você trouxe a morte para dentro da minha casa.

— Eu trouxe… a verdade. — ele respondeu, antes de desmaiar.

O sangue ainda escorria.

O corpo do inimigo jazia no chão da minha cozinha.

E eu, Sara Vasquez, estudante de medicina, filha de um homem que eu achava conhecer, agora era caçada por assassinos profissionais por causa de uma dívida antiga. E a única pessoa que poderia me manter viva… era Luca Moretti.

O homem que sangrava nos meus braços.

O homem que me destruiu, antes mesmo de me tocar.

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