Mundo de ficçãoIniciar sessãoNora levava uma vida dupla. De dia, era a jovem bailarina dedicada às crianças de um centro comunitário. De noite, escondida sob luzes vermelhas e uma máscara, dançava em uma boate para pagar as dívidas que o pai deixara. Ela jurava que jamais se renderia ao toque de um homem por dinheiro. Mas tudo muda quando Gabriel surge. Rico, poderoso e acostumado a conseguir tudo o que deseja, ele a enxerga de um jeito que nenhum outro homem jamais olhou. Não com a fome barata dos clientes, mas com uma intensidade que desnuda sua alma e faz seu corpo trair seus próprios princípios. Entre o perigo que ronda seu trabalho, a pressão de um chefe que não aceita recusas e a atração irresistível por um homem que não deveria desejar, Nora descobre que está brincando com fogo. 🔥 O que acontece quando dois mundos opostos colidem? 🔥 Até onde ela será capaz de resistir antes de perder o controle? Nora achava que dominava o jogo. Mas, perto de Gabriel, o jogo nunca esteve em suas mãos.
Ler maisOs seguranças abriram caminho assim que me viram. Não precisaram checar meu nome na lista, nem pedir documento. Bastou um aceno de cabeça, rápido, respeitoso. Era sempre assim. O dinheiro e os contatos faziam mais do que abrir portas, eles as escancaravam.
O ar da boate me atingiu como um soco. O grave da música fazia o chão vibrar sob meus sapatos de couro, e a mistura de cigarros, álcool e perfume doce se agarrava ao ar como uma camada invisível. Luzes vermelhas e azuis cortavam o espaço, iluminando rostos sorridentes e corpos em movimento. Aquele não era um lugar de inocência. Ali, homens buscavam esquecer, mulheres vendiam ilusões, e o dono enchia os bolsos. Eu não estava ali por distração. Pelo menos, não só por isso. — Senhor Gabriel. — A voz do gerente, André, soou firme, mesmo que o suor em sua testa denunciasse nervosismo. — O chefe está esperando o senhor. Ajustei a manga do terno e o segui. O corredor estreito nos engoliu, longe do barulho. Lâmpadas vermelhas iluminavam o caminho, refletindo nas paredes escuras. O som da pista se transformou em murmúrio abafado. André não olhou para trás; apenas abriu a porta pesada no fim do corredor. A sala privada parecia outro mundo. O ar era mais denso, carregado de fumaça de charuto e uísque caro. Abajures dourados espalhavam luz quente, refletida no vidro da mesa baixa cercada de sofás de couro. Garrafas abertas, copos meio cheios, risadas abafadas. — Gabriel! — A voz grave de Marcos, o chefe, ecoou. Ele se levantou, abrindo os braços como se fosse um velho amigo. — Estávamos justamente falando de você. Apertei sua mão, firme, sem me deixar enganar pelo entusiasmo encenado. Ele só sorria assim quando queria algo. — Boa noite, senhores. — Cumprimentei os outros três homens, todos de terno impecável, relógios caros no pulso. Sócios menores, investidores, figurantes de um teatro que Marcos dominava. Sentei-me ao lado dele. Um copo de uísque já me esperava sobre a mesa, âmbar e convidativo. Peguei-o, girando o líquido antes de levar aos lábios. O gosto queimava na medida certa, como eu gostava. — Estamos discutindo expansão — disse Marcos, acendendo outro charuto. — A casa enche todas as noites, mas quero mais. Mais camarotes privados, mais exclusividade. — Exclusividade vende. — Assenti. — O segredo é dar aos homens a sensação de que estão comprando algo que nem todo mundo pode ter. — Exatamente. — Um dos sócios bateu palmas baixas, animado. — Quem paga, não olha preço. Marcos sorriu satisfeito, mas, antes que pudesse falar mais, algo no ambiente mudou. As luzes no canto da sala se acenderam lentamente, revelando o palco discreto com um poledance prateado. Até então, estava mergulhado na escuridão. Agora, um foco suave iluminava o metal. E junto com a luz, veio ela. Uma mulher. O tempo pareceu parar. A máscara delicada cobria parte de seu rosto, escondendo o suficiente para instigar. Um top preto e uma calcinha mínima abraçavam um corpo escultural, pele iluminada pela claridade artificial. Curvas moldadas para prender atenção. A música começou a vibrar, e ela se moveu. Não era apenas dança. Era arte. Seus músculos se flexionavam com precisão, força e sensualidade misturadas em cada giro no pole. Ela arqueava o corpo, descia lentamente, e cada movimento parecia calculado para incendiar a imaginação dos homens ali dentro. A conversa continuava ao meu redor, cifras, contratos, investimentos. Mas, para mim, as vozes se dissolveram em ruído. Havia apenas ela. E então, aconteceu. Ela olhou para mim. Direto. Firme. Como se tivesse escolhido um alvo e eu fosse o único homem naquela sala. Um arrepio percorreu minha espinha. Não desviei o olhar. Não consegui. Seus quadris marcaram o ritmo da música enquanto caminhava em minha direção. Cada passo lento, confiante. Quando parou diante de mim, inclinou-se o suficiente para que seu perfume me atingisse. Floral, adocicado, perigoso. Então, deslizou a mão pelo meu peito. Suave. Deliberada. Meu maxilar travou. Uma faísca elétrica percorreu meu corpo. — Interessante. — As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse contê-las. Ela não respondeu. Apenas se afastou com a mesma graça, os olhos ainda presos aos meus enquanto voltava ao pole. Girou o corpo, subiu na barra e, no auge do movimento, as luzes se apagaram. O silêncio que ficou foi ensurdecedor. Pisquei, como se voltasse ao presente. Os homens riam, brindavam, voltavam a falar de negócios. Mas eu não conseguia. Ainda sentia o calor do toque dela queimando meu peito. Apertei o copo na mão, firme. Eu não sabia o nome dela. Mas uma coisa era certa: não descansaria até ter aquela mulher na minha cama. E, pelo jeito como ela me olhou… eu tinha certeza de que seria inevitável.A noite seguinte chegou sem que eu tivesse conseguido descansar de verdade. Mesmo no silêncio frio do meu apartamento, a cena de Nora cambaleando pelos corredores da festa não saía da minha mente. O olhar perdido, o jeito como ela insistia que só servia para “aquilo”. E depois, vomitando no estacionamento, assustada demais para alguém que dizia estar apenas “fazendo seu trabalho”.Não era só cansaço. Não era só medo de perder o emprego, como ela tentou me convencer.Tinha algo podre naquela história. E o nome por trás era óbvio: Marcos.Acendi um charuto, tragando devagar. O gosto amargo se misturava à raiva que queimava no fundo do peito. Eu não tinha o hábito de me meter nas vidas das dançarinas da boate — mas Nora não era como as outras. E se Marcos achava que poderia brincar com ela para arrancar dinheiro, estava prestes a descobrir que tinha passado do limite.O escritório dele ficava nos fundos da boate, atrás de uma porta de madeira pesada. O segurança tentou barrar minha entra
O carro de Gabriel parou diante da minha rua. O contraste era quase cômico: aquele conversível brilhante, estacionado entre carros velhos e enferrujados dos vizinhos.— Obrigada pela carona. — murmurei, evitando o olhar dele.— Não precisa agradecer. — a voz dele saiu firme, como se fosse uma ordem, não um gesto.Desci rápido, sem coragem de olhar para trás. Segui até o portão da casa, sentindo os olhares curiosos dos vizinhos por trás das cortinas. O ronco do motor ficou para trás, mas a sensação de que o mundo inteiro tinha visto minha vida exposta continuava grudada na pele.Meu pai estava no sofá, lata de cerveja na mão, a televisão ligada sem som. Quando me viu, ergueu a cabeça com esforço.— Que carro era aquele? — perguntou, a voz rouca. — De quem é?— Não é da sua conta. — larguei a bolsa em cima da mesa.— Não é da minha conta? — ele bateu a lata no braço do sofá. — Os vizinhos todos viram. Vão começar a falar!Revirei os olhos, a paciência se esgotando.— Ah, claro. Isso é u
Terminei meu café devagar, mais por falta do que dizer do que por fome. Gabriel manteve a postura serena o tempo todo, como se estivesse no controle até dos silêncios. Quando finalmente deixei a xícara sobre o pires, senti o peso do olhar dele sobre mim.— Vou pegar seu vestido. — disse, levantando-se sem pressa.Enquanto ele se afastava, aproveitei para ajeitar a camisa larga que usava, tentando me convencer de que nada naquilo era estranho. Mas era. Era muito estranho estar ali, no apartamento de um homem que eu mal conhecia, usando a roupa dele como se fosse natural.Pouco depois, ele voltou segurando meu vestido, limpo e passado.— Aqui está.Peguei, murmurando um “obrigada” baixo demais, e corri para o quarto de hóspedes que ele indicou. Troquei de roupa rapidamente, evitando me encarar no espelho. A lembrança da noite anterior, de como quase desabei na frente dele, me corroía.Quando voltei, ele estava esperando no hall, já de blazer e com as chaves na mão.— Vou te levar pra ca
Meu estômago ainda revirava um pouco, mas a cabeça latejava menos depois do suco e do remédio. Eu só queria desaparecer daquele quarto enorme, pegar minhas coisas e ir embora antes que a situação ficasse ainda mais constrangedora.— Eu preciso ir pra casa. — falei, puxando os lençóis até o queixo, como se isso fosse suficiente para me esconder dele.Gabriel, deitado ao meu lado como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo, abriu os olhos devagar e se ergueu com calma.— Primeiro você vai tomar café.— Não precisa. — tentei cortar, rápida demais. — Já atrapalhei demais.Ele arqueou uma sobrancelha, como se minhas palavras fossem absurdas.— Não é um convite, Nora. É uma insistência. — a voz dele era firme, mas havia algo quase brincalhão no jeito que disse.Suspirei, derrotada. — Tudo bem… mas só um café.Ele sorriu de canto, satisfeito, e se levantou. Eu não conseguia não notar como mesmo com roupas simples ele parecia um homem que nasceu para ocupar o espaço. Grande demais, se
Acordei devagar, como se estivesse emergindo de um lago profundo. A primeira coisa que senti foi o peso na cabeça, uma pressão latejante que me lembrava cada gole do champanhe da noite anterior. A segunda foi a estranheza: o colchão era macio demais, os lençóis, cheiravam a amaciante caro, nada parecido com a cama simples do meu quarto.Abri os olhos de repente.O teto era alto, pintado em branco, com detalhes minimalistas. As cortinas pesadas filtravam a luz da manhã, deixando o ambiente em tons suaves de cinza e dourado. Ao lado, em uma mesinha, havia um copo de suco de laranja e um comprimido sobre um guardanapo dobrado com precisão.Meu coração disparou.— Onde eu estou? — sussurrei para mim mesma, a voz rouca.Levantei devagar, percebendo que não estava com o vestido vermelho da noite anterior. No lugar, uma camisa masculina azul, grande demais para mim, caindo até a metade das coxas. Reconheci o cheiro imediatamente. O cheiro dele.Engoli em seco, a lembrança da noite veio em fl
O som da festa seguia alto, mas minha atenção não estava na música, nem nos empresários que ainda tentavam puxar conversa comigo. De longe, vi Nora atravessar o salão com passos inseguros, segurando a taça como se fosse a única âncora em meio ao caos. Ela não estava bem. Seus olhos estavam vermelhos, a postura rígida demais para alguém que supostamente estava apenas se divertindo.O incômodo começou como uma fisgada. Um aperto estranho no peito. Ciúmes. Era ridículo, mas foi isso que senti ao perceber a direção que ela tomava: o corredor das salas privadas. Eu conhecia bem aquele espaço. Sabia exatamente o que acontecia lá dentro.Cada passo dela ecoava como um alarme na minha cabeça. Eu não podia deixá-la entrar em nenhuma daquelas salas.Acelerei o passo, ignorando olhares curiosos. Quando a alcancei, percebi de imediato: ela não estava sóbria. Os olhos marejados, o cheiro forte de champanhe, o desequilíbrio do corpo. E, pior, lágrimas escorriam silenciosas pelo rosto dela.— Nora.










Último capítulo