O barulho da cidade era constante, mesmo com as janelas blindadas do meu apartamento no alto do Itaim Bibi fechadas. Lá embaixo, São Paulo nunca dormia. Carros, buzinas, vozes que se misturavam em um zumbido que só me lembrava de onde vim. Cresci em bairros onde o barulho não parava, mas era de outro tipo: som de botecos, de brigas, de gente tentando sobreviver ao próximo dia.
Hoje, o som era de motores importados, restaurantes caros, helicópteros riscando o céu noturno. O contraste sempre me lembrava: eu subi. E subi rápido demais para alguns aceitarem.
Coloquei o copo de uísque sobre o balcão da cozinha integrada. Estava no terceiro gole, o suficiente para aquecer, mas não para embriagar. Nunca me permitia isso. Bebia para relaxar, não para perder o controle. O controle sempre foi minha maior arma.
O celular vibrou na bancada. Mensagem de Ricardo, meu braço direito nas empresas:
Ricardo: Fechamos com o grupo espanhol. O contrato vai ser assinado semana que vem. Precisa dar uma o