Os seguranças abriram caminho assim que me viram. Não precisaram checar meu nome na lista, nem pedir documento. Bastou um aceno de cabeça, rápido, respeitoso. Era sempre assim. O dinheiro e os contatos faziam mais do que abrir portas — eles as escancaravam.
O ar da boate me atingiu como um soco. O grave da música fazia o chão vibrar sob meus sapatos de couro, e a mistura de cigarros, álcool e perfume doce se agarrava ao ar como uma camada invisível. Luzes vermelhas e azuis cortavam o espaço, iluminando rostos sorridentes e corpos em movimento. Aquele não era um lugar de inocência. Ali, homens buscavam esquecer, mulheres vendiam ilusões, e o dono enchia os bolsos. Eu não estava ali por distração. Pelo menos, não só por isso. — Senhor Gabriel. — A voz do gerente, André, soou firme, mesmo que o suor em sua testa denunciasse nervosismo. — O chefe está esperando o senhor. Ajustei a manga do terno e o segui. O corredor estreito nos engoliu, longe do barulho. Lâmpadas vermelhas iluminavam o caminho, refletindo nas paredes escuras. O som da pista se transformou em murmúrio abafado. André não olhou para trás; apenas abriu a porta pesada no fim do corredor. A sala privada parecia outro mundo. O ar era mais denso, carregado de fumaça de charuto e uísque caro. Abajures dourados espalhavam luz quente, refletida no vidro da mesa baixa cercada de sofás de couro. Garrafas abertas, copos meio cheios, risadas abafadas. — Gabriel! — A voz grave de Marcos, o chefe, ecoou. Ele se levantou, abrindo os braços como se fosse um velho amigo. — Estávamos justamente falando de você. Apertei sua mão, firme, sem me deixar enganar pelo entusiasmo encenado. Ele só sorria assim quando queria algo. — Boa noite, senhores. — Cumprimentei os outros três homens, todos de terno impecável, relógios caros no pulso. Sócios menores, investidores, figurantes de um teatro que Marcos dominava. Sentei-me ao lado dele. Um copo de uísque já me esperava sobre a mesa, âmbar e convidativo. Peguei-o, girando o líquido antes de levar aos lábios. O gosto queimava na medida certa, como eu gostava. — Estamos discutindo expansão — disse Marcos, acendendo outro charuto. — A casa enche todas as noites, mas quero mais. Mais camarotes privados, mais exclusividade. — Exclusividade vende. — Assenti. — O segredo é dar aos homens a sensação de que estão comprando algo que nem todo mundo pode ter. — Exatamente. — Um dos sócios bateu palmas baixas, animado. — Quem paga, não olha preço. Marcos sorriu satisfeito, mas, antes que pudesse falar mais, algo no ambiente mudou. As luzes no canto da sala se acenderam lentamente, revelando o palco discreto com um poledance prateado. Até então, estava mergulhado na escuridão. Agora, um foco suave iluminava o metal. E junto com a luz, veio ela. Uma mulher. O tempo pareceu parar. A máscara delicada cobria parte de seu rosto, escondendo o suficiente para instigar. Um top preto e uma calcinha mínima abraçavam um corpo escultural, pele iluminada pela claridade artificial. Curvas moldadas para prender atenção. A música começou a vibrar, e ela se moveu. Não era apenas dança. Era arte. Seus músculos se flexionavam com precisão, força e sensualidade misturadas em cada giro no pole. Ela arqueava o corpo, descia lentamente, e cada movimento parecia calculado para incendiar a imaginação dos homens ali dentro. A conversa continuava ao meu redor — cifras, contratos, investimentos. Mas, para mim, as vozes se dissolveram em ruído. Havia apenas ela. E então, aconteceu. Ela olhou para mim. Direto. Firme. Como se tivesse escolhido um alvo e eu fosse o único homem naquela sala. Um arrepio percorreu minha espinha. Não desviei o olhar. Não consegui. Seus quadris marcaram o ritmo da música enquanto caminhava em minha direção. Cada passo lento, confiante. Quando parou diante de mim, inclinou-se o suficiente para que seu perfume me atingisse. Floral, adocicado, perigoso. Então, deslizou a mão pelo meu peito. Suave. Deliberada. Meu maxilar travou. Uma faísca elétrica percorreu meu corpo. — Interessante. — As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse contê-las. Ela não respondeu. Apenas se afastou com a mesma graça, os olhos ainda presos aos meus enquanto voltava ao pole. Girou o corpo, subiu na barra e, no auge do movimento, as luzes se apagaram. O silêncio que ficou foi ensurdecedor. Pisquei, como se voltasse ao presente. Os homens riam, brindavam, voltavam a falar de negócios. Mas eu não conseguia. Ainda sentia o calor do toque dela queimando meu peito. Apertei o copo na mão, firme. Eu não sabia o nome dela. Mas uma coisa era certa: não descansaria até ter aquela mulher na minha cama. E, pelo jeito como ela me olhou… eu tinha certeza de que seria inevitável.