Capítulo 3

A escada estava quase vazia, apenas a vibração abafada da música escapando pelas portas fechadas. Meus pés doíam dentro dos saltos, e tudo o que eu queria era chegar ao camarim, tirar a maquiagem, trocar de roupa e desaparecer dali.

Respirei fundo, tentando ignorar a sensação familiar de alerta que sempre surgia nesses momentos. Mas então eu o vi.

Encostado em um dos pilares, como se tivesse todo o tempo do mundo, estava ele: Gabriel, o sócio sobre quem todas as meninas falavam. Um homem que parecia alheio ao ambiente, mas impossível de ignorar.

O terno escuro moldava seus ombros largos, a gravata estava perfeitamente alinhada, e o relógio caro refletia a pouca luz do corredor. Mas o que realmente prendia meu olhar eram os olhos dele, fixos em mim com uma intensidade quase predatória.

Meu corpo travou por um instante.

— Nora — disse, a voz grave deslizando pelo meu corpo como uma carícia indesejada.

Arqueei a sobrancelha, surpresa.

— Como você sabe meu nome?

— Não costumo me interessar por alguém sem saber o mínimo a respeito. — Ele deu um passo lento à frente, suficiente para que a luz atingisse seu rosto. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios.

— Interessar? — repeti, tentando manter firmeza, mas minha voz saiu baixa demais.

— Você me entende. — O olhar dele percorreu meu rosto, descendo sem pressa até os ombros. — O que vi lá na sala VIP não foi só uma dança. Foi… algo raro.

— Eu estava apenas fazendo meu trabalho. — Apertei a alça da bolsa contra o ombro, tentando criar uma barreira invisível.

— É isso que você chama de trabalho? Fascinar, hipnotizar? — Ele riu baixo, quase irônico. Aproximou-se mais, diminuindo a distância entre nós. — Confesso que nunca vi alguém executar tão bem.

Desviei o olhar, tentando ignorar o calor que subia pelo meu pescoço.

— Se for elogio, já ouvi muitos iguais.

— Não. — Ele balançou a cabeça, firme. — Nunca ouviu nada igual, porque nunca causou isso em alguém como eu.

A ousadia da resposta me deixou muda por alguns segundos. Respirei fundo, tentando recompor-me.

— Escute, não sei o que você acha que está acontecendo, mas eu não… — hesitei, procurando as palavras certas. — Eu não atendo fora da boate, se é isso que está insinuando.

— Não foi uma insinuação. — Um sorriso lento surgiu nos lábios dele. — Foi uma pergunta direta.

— A resposta continua sendo não. — Cruzei os braços, tentando proteger-me da tensão que ele trazia.

— Dinheiro não seria problema. — A voz dele era calma, mas havia uma firmeza que me deixou desconfortável. — Pagaria bem.

Meu estômago revirou.

— Você é muito presunçoso! — falei cada sílaba com clareza, tentando manter a indignação acima do nervosismo.

— Então, se eu reservasse outra sala privada… você dormiria comigo de graça? — Ele arqueou a sobrancelha, com um ar divertido.

— Não sou prostituta! — A firmeza da minha resposta era mais por mim mesma do que por ele.

Ele não negou, apenas manteve aquele olhar fixo, penetrante, atravessando qualquer máscara que eu tentasse usar.

— Só estou acostumado a conseguir o que quero. — Respondeu simples, quase como se falasse sobre o tempo.

O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Eu podia ouvir minha própria respiração acelerada, o coração batendo forte. E ele continuava ali, imóvel, apenas me observando, como se tivesse todo o controle da situação.

— Pois comigo vai ser diferente. — Murmurei, tentando recuperar a firmeza. — Eu não estou à venda.

Gabriel inclinou a cabeça, avaliando minha expressão como se quisesse gravar cada detalhe. O sorriso dele transformou-se em algo mais sério, quase enigmático.

— É exatamente isso que te torna interessante.

Aquelas palavras me atingiram como um soco silencioso. Parte de mim quis responder, parte quis simplesmente fugir. Escolhi a segunda opção. Desviei o olhar e continuei descendo a escada.

Atrás de mim, ouvi a voz dele, baixa, clara o suficiente para alcançar meus ouvidos.

— Ainda vamos nos ver de novo, Nora. E quando isso acontecer, quero ver se ainda vai resistir desse jeito.

Meu corpo inteiro estremeceu.

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