— Nora.
Meu corpo inteiro congelou. A voz grave reverberou pelo corredor estreito, firme e segura, impossível de ignorar. Eu conhecia aquele tom. Devagar, virei a cabeça, e lá estava ele: Gabriel.
Encostado à meia-luz, uma mão casualmente no bolso, a outra segurando um copo de uísque quase vazio, o corpo levemente inclinado contra a parede. Parecia confortável demais naquele ambiente que me sufocava. Mas o olhar dele… direto, afiado, carregado de algo que eu não conseguia nomear.
— Você está brincando com fogo. — disse, sem rodeios.
Minha respiração travou por um instante. Forcei a postura, ergui o queixo, tentando manter a compostura.
— Eu só estava fazendo o meu trabalho. — respondi firme, mas dentro de mim uma vibração estranha, um nervosismo que queimava.
Ele riu, um som baixo e rouco, carregado de ironia e confiança.
— Trabalho, é? — repetiu, arqueando uma sobrancelha. — Acha que eu não percebi? Foi o chefe que mandou você se exibir daquele jeito pra mim.
Senti um arrepio subir p