O canto escuro da sala parecia meu único refúgio, mas eu sabia que não estava sozinha. Outras duas garotas se aproximaram, sorrindo falsamente, como bonecas treinadas para agradar. Eram presas fáceis, dispostas a arrancar gorjetas e fingir risadas, reflexos automáticos de um ambiente que transformava mulheres em espetáculo.
Já eu… sabia exatamente para quem aquele show era destinado. As luzes se acenderam devagar, lançando um brilho prateado sobre o pole. O burburinho das conversas diminuiu, o tilintar dos copos ficou mais espaçado, e alguns homens voltaram seus olhares famintos para mim. Reconheci aquele tipo de olhar de longe: lascívia barata, fome por carne, desprezo mascarado de desejo. Mas havia um olhar diferente. O dele. Seus olhos me percorriam com uma intensidade desconcertante, não como um predador que devora, mas como alguém que desmonta cada camada de proteção que tentei erguer. Aquilo me deixou em chamas por dentro — metade excitação, metade raiva. Meu corpo reagia antes da minha mente, mas eu me obriguei a manter o controle. Engoli em seco, ergui o queixo e comecei a dançar. Meus movimentos se alongaram pelo pole: corpo deslizando, girando, ondulando em espirais precisas. Cada curva do quadril, cada arqueada das costas era calculada, dominada. Eu sabia que tinha a atenção deles, mas ainda que odiasse seduzir a mando do chefe, era algo que eu fazia bem demais para negar. Se era para encantar, eu encantaria. Desci do pole devagar, sentindo a madeira fria do chão contra os pés. Caminhei em direção ao círculo onde os homens estavam reunidos, mas meus olhos não se desviaram um segundo sequer dos dele. Se o chefe queria show, Gabriel teria o melhor. Cheguei à frente dele. Com um movimento provocativo, virei de costas, mantendo as pernas afastadas. Inclinei o corpo, ficando com a ninfa empinada para ele, passei as mãos dos tornozelos até a metade das coxas, deslizando lentamente até ficar ereta de novo. A sala parecia respirar comigo; o ar denso mudou, pesado, carregado de tensão. Girei sobre os calcanhares e me posicionei entre suas pernas, uma de cada lado, sem sentar. O ritmo da música guiava meus movimentos, e o quadril ondulava como se o mundo tivesse desacelerado, concentrado apenas naquele instante. Seus olhos desceram pelo meu corpo com precisão cirúrgica. E percebi claramente o efeito que causava, excitação crescendo, controlada, mas impossível de ignorar. Foi então que ele falou. — Quero você rebolando assim… mas sem esse pedaço de pano ridículo cobrindo o que realmente importa. — A voz baixa e grave carregava uma promessa indecente. — Diga o preço. Eu pago quanto quiser. O arrepio percorreu minha espinha, mas mantive a postura. Inclinei o rosto perto dele, quase sentindo sua respiração quente contra minha boca. — Sem tocar. — falei provocativa, segurando o punho dele antes que suas mãos alcançassem minha cintura. Por um instante, o olhar dele faiscou, e um sorriso lento curvou seus lábios. — Mandona, hein? — murmurou, quase desafiador. — Isso só me deixa com mais vontade. A música ainda pulsava, e eu continuei os movimentos, roçando minhas coxas próximas às dele sem nunca encostar de fato. Era um jogo. Um jogo perigoso, mas que eu dominava. Me ergui, afastando-me de repente, deixando a promessa no ar. Dei alguns passos de costas, o quadril ainda balançando de forma calculada, o olhar preso ao dele. Gabriel me seguiu com os olhos como se fosse dono de cada gesto, cada curva, cada respiração. Voltei ao pole, segurando-o firme, sentindo o aço frio contrastar com a pele quente, o corpo ardendo de tensão. Do alto, vi o chefe observando, charuto entre os dedos, olhos semicerrados. Ele não ria como os outros homens, mas estava atento, muito atento, ao modo como Gabriel me olhava. Subi novamente, deslizando em espiral. Cada movimento era pensado, cada gesto carregado de intenção. O pole não era apenas um objeto; era uma extensão do meu corpo, da minha força e do meu controle. Cada giro, cada queda suave, cada arqueada de costas era um aviso: eu ditava as regras do jogo, mesmo que o risco fosse alto. Terminei a última volta e desci lentamente, coração disparado, corpo quente, mistura de excitação e dever cumprido. Fiz uma última reverência implícita, mantendo o queixo erguido, e caminhei para fora da sala, ignorando os olhares famintos que ainda me perseguiam. Mas dentro de mim, eu sabia: não era por eles que eu tinha dançado. Era por ele. E, ao fechar a porta atrás de mim, um pensamento atravessou como um raio: se esse jogo continuasse, não haveria como sair sem me queimar e, de algum modo, isso só tornava tudo mais perigoso e mais irresistível.