O carro de Gabriel parou diante da minha rua. O contraste era quase cômico: aquele conversível brilhante, estacionado entre carros velhos e enferrujados dos vizinhos.
— Obrigada pela carona. — murmurei, evitando o olhar dele.
— Não precisa agradecer. — a voz dele saiu firme, como se fosse uma ordem, não um gesto.
Desci rápido, sem coragem de olhar para trás. Segui até o portão da casa, sentindo os olhares curiosos dos vizinhos por trás das cortinas. O ronco do motor ficou para trás, mas a sensação de que o mundo inteiro tinha visto minha vida exposta continuava grudada na pele.
Meu pai estava no sofá, lata de cerveja na mão, a televisão ligada sem som. Quando me viu, ergueu a cabeça com esforço.
— Que carro era aquele? — perguntou, a voz rouca. — De quem é?
— Não é da sua conta. — larguei a bolsa em cima da mesa.
— Não é da minha conta? — ele bateu a lata no braço do sofá. — Os vizinhos todos viram. Vão começar a falar!
Revirei os olhos, a paciência se esgotando.
— Ah, claro. Isso é u