Clara Marinho é uma estrela das redes sociais. Milhões a seguem, elogiam e desejam a vida perfeita que ela compartilha todos os dias. Mas nos bastidores, sua realidade é bem diferente: um relacionamento vazio, uma rotina sufocante e uma identidade que escorre pelos dedos. Após flagrar seu namorado com outra mulher e enfrentar uma crise existencial ao vivo, Clara toma uma decisão radical — desaparecer do mapa por um mês, sem internet, sem seguidores, sem filtros. Refugiada em um vilarejo litorâneo esquecido pelo tempo, Clara encontra não a paz que esperava, mas paredes mofadas, olhares desconfiados e Rafael — um morador local avesso à vida digital e crítico feroz do mundo que ela representa. À medida que os dias passam, os choques entre os dois se intensificam, revelando verdades desconfortáveis e sentimentos inesperados. No entanto, há mais segredos no vilarejo do que Clara imagina… e a maior transformação não será no feed, mas dentro dela. Será que Clara conseguirá se reconectar com quem ela realmente é — ou o mundo real também será cruel demais para suportar?
Ler maisNo dia seguinte, quando finalmente criei coragem para sair de casa e explorar o vilarejo, o sol estava alto e o vento salgado trazia um frescor que ajudava a aliviar um pouco o peso daquela desconexão que eu sentia. Fui até um pequeno mercado na praça principal, que era basicamente uma casinha com uma varanda e algumas prateleiras repletas de itens locais. Assim que entrei, um homem alto, de cabelos castanhos um pouco desalinhados e olhar firme, me encarou do outro lado do balcão. Havia algo nele que me fez endireitar a postura.Ele não se mexeu; parecia mais curioso do que interessado."Oi," eu disse, tentando soar amigável. "Sabe onde posso encontrar café por aqui?"Ele arqueou uma sobrancelha, os olhos me estudando de cima a baixo. "Turista?" perguntou, como se fosse óbvio."Sim. Estou aqui por… um tempo," respondi, sem entrar em detalhes. Tentei sorrir. "E você? Trabalha aqui?"Ele soltou uma risada curta, sem humor. "Você acha que esse lugar é um cenário para seu próximo vídeo ou
Eu nunca imaginei que, um dia, estaria fugindo da minha própria vida. Que imagem, não? Clara Gonçalves, a mulher que parecia ter tudo, finalmente admitindo a verdade: eu não sei quem eu sou. Tudo desmoronou tão rápido que ainda parecia um sonho ruim, uma realidade que eu não queria encarar.Sentei no pequeno café ao lado do aeroporto, uma xícara de café forte nas mãos e o telefone desligado à minha frente. Eu não queria ver mais nada, nem mensagens, nem desculpas, nem justificativas. Pedro… traidor. Eu sabia que o relacionamento estava em ruínas, mas vê-lo com outra mulher foi o golpe final. Meus olhos estavam fixos na espuma do café, mas a imagem dele, tão casual e descontraído com outra, ainda queimava na minha mente. Era isso que eu representava para ele? Uma companhia conveniente para as fotos, nada mais?Eu precisava escapar, precisava de ar. Minhas mãos ainda tremiam quando mandei uma mensagem para Lia: *"Vou sumir. Não me procura por um mês."*Ela me ligou imediatamente, claro.
Há alguns anos, Clara era uma jovem recém-formada, cheia de sonhos, mas sem certeza sobre qual caminho seguir. Ela trabalhava em uma pequena agência de marketing, onde passava boa parte do tempo no celular. Foi ali que ela postou sua primeira foto "planejada" nas redes, um café com o pôr do sol ao fundo.No dia seguinte, ao checar o celular, Clara arregalou os olhos."Dez mil curtidas?" – ela disse, rindo sozinha enquanto lia os comentários entusiasmados: "Que vibe!", "Quero uma vida assim!"Semanas depois, ao comentar sobre o sucesso da foto com sua colega e amiga, Lia, ouviu pela primeira vez o que viria a ser seu mantra."Você é a cara do Instagram, Clara!" Lia riu. "Por que não começa a postar fotos assim? Olha a grana que essas influencers ganham... é quase surreal!"Clara balançou a cabeça. "Ah, nada a ver. Quem vai querer ver minha vida?"Lia sorriu, já vislumbrando algo. "Todo mundo, amiga. Você sabe fazer a vida parecer... linda."Assim, Clara mergulhou de vez no mundo das re
Clara olhou pela última vez para a tela do seu celular antes de desligá-lo definitivamente, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. O brilho da tela desapareceu, mas o peso da sua vida online ainda pairava sobre ela, como uma sombra invisível. A última mensagem de Lia, sua agente e melhor amiga, piscava na tela escura: "Você vai voltar logo, né? Essa 'desconexão' é só uma pausa para um novo conteúdo, certo?" Clara suspirou e olhou pela janela do avião, onde o céu se fundia com o azul profundo do mar. Ela sabia que a verdadeira desconexão não seria tão simples quanto desativar uma conta ou apagar um post. Não se tratava apenas de escapar das redes sociais. O verdadeiro desafio seria enfrentar a solidão que ela sentia ao olhar para a vida que construíra e perceber que não sabia mais quem era, sem as cortinas digitais que a protegiam do mundo real.Enquanto o avião descia, Clara viu o contorno da pequena cidade litorânea, uma fileira de casinhas brancas com telhados de terracota, de