Clara olhou pela última vez para a tela do seu celular antes de desligá-lo definitivamente, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. O brilho da tela desapareceu, mas o peso da sua vida online ainda pairava sobre ela, como uma sombra invisível. A última mensagem de Lia, sua agente e melhor amiga, piscava na tela escura: "Você vai voltar logo, né? Essa 'desconexão' é só uma pausa para um novo conteúdo, certo?" Clara suspirou e olhou pela janela do avião, onde o céu se fundia com o azul profundo do mar. Ela sabia que a verdadeira desconexão não seria tão simples quanto desativar uma conta ou apagar um post. Não se tratava apenas de escapar das redes sociais. O verdadeiro desafio seria enfrentar a solidão que ela sentia ao olhar para a vida que construíra e perceber que não sabia mais quem era, sem as cortinas digitais que a protegiam do mundo real.
Enquanto o avião descia, Clara viu o contorno da pequena cidade litorânea, uma fileira de casinhas brancas com telhados de terracota, de frente para o mar. Era um lugar que parecia intocado pelo tempo e completamente fora do radar digital. Aqui, ninguém a reconheceria, e sua ausência de seguidores e câmeras tornava o ambiente quase intimidante. Quando o avião tocou o solo, Clara sentiu um frio no estômago, a incerteza sobre como se adaptar a uma rotina sem likes ou hashtags apertando seu peito. Com uma mochila nas costas e um caderno novo em mãos, Clara deu o primeiro passo para fora do avião, respirando o ar fresco e salgado do lugar. Ela se perguntava, pela primeira vez em muito tempo, se estava pronta para ser apenas Clara – sem filtros, sem audiência, sem roteiros.
Ao sair do pequeno aeroporto, Clara foi recebida pelo calor do sol, mas sua visão do cenário encantador logo se dissipou. O motorista local que havia contratado não estava à espera com uma plaquinha ou um sorriso simpático, como esperava. Em vez disso, uma van velha parou diante dela, e o motorista – um senhor de olhar desconfiado e sotaque forte – lançou-lhe apenas um aceno, enquanto seu rosto se mantinha sem expressão. Clara tentou puxar uma conversa animada sobre a cidade, mas ele respondeu com um monossílabo seco, sem sequer olhar para ela. Acostumada ao fascínio que causava nas pessoas e aos comentários entusiásticos que recebia online, Clara sentiu uma pontada desconfortável: ali, ela era apenas mais uma pessoa.
Quando chegaram à casa que ela alugara, a decepção foi ainda maior. Em vez do aconchego minimalista que imaginara, encontrou um chalé rústico, com móveis velhos e o cheiro levemente salgado do tempo passado perto do mar. O sinal de internet, que prometera ser "instável", não funcionava de forma alguma. Sozinha na sala de estar abafada, Clara sentiu uma onda de pânico ao perceber que, pela primeira vez em anos, estava desconectada de verdade. Sem ninguém para acompanhar cada movimento seu ou validá-la com curtidas, ela se sentiu vazia e vulnerável, questionando silenciosamente se aguentaria um mês assim.!