Mundo ficciónIniciar sesiónEla nunca planejou ser mãe. Ele nunca planejou amar. Lívia sempre lutou para sobreviver em um mundo que parecia exigir dela mais do que podia oferecer. Trabalhando duro, carregando frustrações e tentando apagar as marcas de um passado doloroso, tudo o que desejava era estabilidade e um pouco de paz. Daniel, por outro lado, construiu um império com frieza, disciplina e controle absoluto. Para ele, sentimentos eram fraquezas — e laços, riscos desnecessários. Uma noite inesperada une dois destinos opostos. O que começa como um encontro sem promessas se transforma em uma revelação capaz de mudar tudo: uma gravidez fora dos planos. Rejeitada, julgada e forçada a tomar decisões que nunca imaginou enfrentar, Lívia precisará encontrar forças para proteger não apenas o filho que cresce dentro dela, mas também a si mesma. Daniel, confrontado com consequências que não podem ser resolvidas com dinheiro ou contratos, será obrigado a encarar seus próprios fantasmas. Entre segredos, conflitos familiares, orgulho e sentimentos que insistem em nascer, "A Gravidez que Mudou Meu Destino" é uma história intensa de dor, superação e amor, onde o acaso pode destruir ou salvar — dependendo da coragem de quem o enfrenta.
Leer másO silêncio do banheiro era pesado, quase sufocante. Lívia segurava o teste de gravidez com tanta força que seus dedos começaram a doer, mas ela não conseguia soltar. Seus olhos estavam fixos naquele pequeno objeto de plástico como se, ao encará-lo por tempo suficiente, pudesse mudar o resultado. Seu coração batia acelerado, ecoando nos ouvidos, enquanto uma sensação gelada percorria sua espinha. Duas linhas. Ela piscou várias vezes, respirou fundo, aproximou o teste do rosto e depois o afastou novamente. Não havia dúvida. As duas linhas continuavam ali, firmes, inegáveis.
— Não… — murmurou, com a voz trêmula.
Suas pernas falharam, e ela se deixou escorregar até sentar no chão frio do banheiro. Encostou as costas na parede, abraçando os próprios joelhos, como se aquele gesto pudesse protegê-la da avalanche de pensamentos que invadia sua mente. Não podia ser verdade. Lívia tinha feito as contas. Ou pelo menos achava que tinha feito. Sempre foi cuidadosa, sempre teve medo de errar, de dar um passo maior do que podia. E agora, ali estava ela, com vinte e quatro anos, um salário que mal cobria as despesas do mês e uma notícia que mudaria sua vida para sempre. A lembrança daquela noite veio como um soco no estômago. O bar estava cheio, a música alta, e ela tinha ido apenas para tentar esquecer. Esquecer o chefe que a humilhara mais cedo, o aluguel atrasado, a sensação constante de estar sozinha no mundo. Não planejava beber tanto. Não planejava conversar com um desconhecido de olhar intenso e voz firme. Muito menos planejava ir embora com ele. Mas foi exatamente o que aconteceu. Daniel. O nome surgiu em sua mente acompanhado de imagens fragmentadas: o perfume amadeirado, as mãos seguras em sua cintura, o jeito sério misturado a uma confiança quase arrogante. Ele não fizera promessas, não trocara juras, nem perguntara sobre o futuro. Foi apenas uma noite. Uma noite sem expectativas. E agora, aquela noite tinha consequências.
— Meu Deus… — sussurrou, sentindo os olhos arderem. Ela se levantou devagar, apoiando-se na pia. O espelho refletia uma jovem de cabelos castanhos presos de qualquer jeito, olhos grandes cheios de medo e um rosto pálido demais para alguém que, minutos antes, ainda acreditava que tudo estava sob controle.
— O que eu vou fazer? — perguntou ao próprio reflexo. A resposta não veio. O celular vibrou sobre a pia, fazendo-a se assustar. Lívia encarou o aparelho como se ele fosse explodir a qualquer momento. Número desconhecido. Ela hesitou. Atender poderia significar mais problemas. Ignorar parecia impossível. Com a mão trêmula, deslizou o dedo pela tela.
— Alô? — disse, tentando manter a voz firme. Do outro lado da linha, um breve silêncio, seguido por uma respiração controlada.
— Lívia? — a voz masculina soou grave, segura. O mundo pareceu girar.
— Quem está falando? — perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
— Daniel. Seu coração quase saiu pela boca.
— Como você conseguiu meu número?
— ela perguntou rapidamente, sentindo o nervosismo crescer.
— Eu tenho meus meios — respondeu ele, de forma simples.
— Precisamos conversar. Lívia fechou os olhos por um instante. Aquilo só podia ser uma brincadeira cruel do destino.
— Sobre o quê? — questionou, mesmo sabendo que aquela conversa não seria nada boa.
— Sobre aquela noite — disse ele, sem rodeios.
— E sobre as consequências. O ar pareceu faltar em seus pulmões.
— Eu não sei do que você está falando — mentiu, quase automaticamente.
— Sabe sim — a voz dele continuava calma demais.
— E prefiro tratar disso pessoalmente. Ela mordeu o lábio inferior, sentindo o desespero crescer.
— Eu não posso — respondeu.
— Estou ocupada.
— Isso não é um pedido, Lívia — disse ele, com firmeza.
— É uma necessidade. O tom autoritário despertou algo dentro dela: medo misturado com indignação.
— Você não manda em mim — rebateu, tentando recuperar o controle.
— Não estou tentando mandar — respondeu Daniel.
— Estou tentando evitar problemas maiores. Problemas maiores. Ela olhou novamente para o teste de gravidez sobre a pia. Se ele soubesse.
— Me diga onde você está — continuou ele.
— Eu vou até você. — Não — respondeu imediatamente.
— Não venha. — Então me diga onde posso encontrá-la. Lívia respirou fundo. Fugir não resolveria. Ignorar não faria aquilo desaparecer. Pela primeira vez, percebeu que sua vida estava saindo do eixo de forma irreversível.
— Amanhã — disse, por fim. — Podemos conversar amanhã. Houve uma breve pausa do outro lado da linha.
— Tudo bem — respondeu Daniel.
— Amanhã, às dez horas. Meu escritório.
— Seu escritório? — ela repetiu, confusa.
— Sim. Vou te enviar o endereço. Antes que ela pudesse responder, a ligação foi encerrada. O celular escorregou de sua mão e caiu na pia. Lívia voltou a sentar no chão do banheiro, abraçando a si mesma enquanto as lágrimas finalmente escapavam. Ela não sabia como, nem quando, mas uma coisa era certa: Aquelas duas linhas tinham acabado de mudar seu destino para sempre.
Lívia percebeu que nada muda de forma brusca.As grandes transformações não chegam como tempestades anunciadas, mas como pequenas infiltrações silenciosas, ocupando espaço aos poucos. Foi assim nos dias que se seguiram ao acordo com Daniel. Nada parecia diferente à primeira vista — o apartamento continuava pequeno, as contas continuavam sobre a mesa, o enjoo matinal ainda a despertava antes do despertador. Ainda assim, tudo havia mudado.Daniel agora fazia parte da sua rotina.Não fisicamente, ao menos não ainda. Mas estava presente em mensagens, ligações rápidas, consultas médicas agendadas, planilhas de gastos que ele insistia em enviar “apenas para organização”.— Não sou uma empresa — murmurou ela certa manhã, olhando a tela do celular.Mesmo assim, respondeu.Recebi. Depois vejo.A resposta veio quase imediata.Não é cobrança. Só transparência.Ela revirou os olhos.Transparência. Outra palavra bonita, pesada de significados.Naquela manhã, Lívia tinha consulta marcada. A primeir
Daniel chegou ao apartamento de Lívia antes do horário combinado.Não por ansiedade — dizia a si mesmo —, mas por estratégia. Gostava de chegar antes, observar o ambiente, antecipar possíveis riscos. Ainda assim, enquanto esperava no carro, estacionado do outro lado da rua, sentiu algo diferente apertar o peito. Não era controle. Era expectativa.Quando ela apareceu na porta do prédio, ele saiu do carro.Lívia vestia um vestido simples e largo, os cabelos presos de qualquer jeito. Nada de maquiagem. Nada de esforço para impressionar. Ainda assim, havia nela uma dignidade silenciosa que o fez endireitar a postura.— Obrigada por vir — disse ela, mantendo certa distância.— Obrigado por me receber — respondeu ele.Ela indicou o pequeno apartamento com um gesto curto.— Vamos conversar aqui. É melhor.Daniel entrou e observou tudo com atenção: os móveis antigos, o espaço apertado, as contas sobre a mesa, a janela que dava para a rua movimentada. Aquilo não era apenas um lugar. Era a real
Lívia não conseguiu voltar direto para casa.Saiu da cafeteria caminhando sem rumo, como se o corpo precisasse se mover para acompanhar a confusão dentro da cabeça. O vento frio da tarde tocava seu rosto, mas não era suficiente para afastar o calor que subia pelo peito, resultado de tudo o que fora dito — e, principalmente, do que ficara subentendido.Proteção.A palavra parecia bonita quando dita por Daniel, mas carregava um peso difícil de ignorar. Proteção podia facilmente se transformar em controle. Em dependência. Em silêncio imposto.Ela atravessou a rua distraída, quase não percebendo o semáforo abrir. Só se deu conta quando um carro buzinou e o motorista gritou algo que ela não ouviu. O coração disparou, e ela levou a mão ao ventre instintivamente.— Calma… — murmurou. — Está tudo bem.Mas não estava.Chegou ao pequeno apartamento quando o céu já começava a escurecer. Assim que fechou a porta, encostou-se nela e deixou o corpo escorregar até o chão. As lágrimas vieram silencio
Daniel estava de pé diante da janela quando recebeu a mensagem da mãe.Ela recusou.Aquelas duas palavras bastaram para tensionar ainda mais algo que já estava à beira do rompimento dentro dele.Ele fechou os olhos por um instante, respirando fundo, como fazia antes de decisões importantes. Negócios arriscados. Fusões delicadas. Aquisições que poderiam custar milhões. Sempre soubera lidar com pressão.Mas aquilo era diferente.Não envolvia números. Envolvia pessoas.E, pela primeira vez em muito tempo, Daniel não tinha certeza de qual era a jogada certa.— Teimosia — murmurou.Mas, no fundo, sabia que não era só isso.Havia algo em Lívia que não se dobrava facilmente.Pegou o celular e digitou uma mensagem curta.Precisamos conversar. Hoje.A resposta não veio de imediato.Do outro lado da cidade, Lívia estava sentada na cama, abraçando os próprios joelhos, ainda sentindo o peso da conversa com Helena. Cada palavra ecoava em sua mente como uma ameaça velada.O mundo pode ser cruel com
Daniel não conseguiu dormir.Virava de um lado para o outro na cama ampla, cercado por lençóis caros que, naquela madrugada, pareciam apenas mais um lembrete vazio de tudo o que ele sempre acreditara ser suficiente. O relógio digital marcava três e quarenta e sete da manhã quando ele desistiu.Levantou-se, caminhou até a janela do apartamento e encarou a cidade iluminada lá embaixo. Prédios, carros, pessoas vivendo suas vidas sem imaginar o turbilhão que se formava dentro dele.Grávida.A palavra ecoava em sua mente como uma sentença.Daniel sempre fora o tipo de homem que antecipava riscos, que calculava cenários, que não deixava brechas. Sua vida fora construída com disciplina, decisões frias e distanciamento emocional. Não por arrogância, mas por sobrevivência. Crescera vendo sentimentos destruírem pessoas. Jurara que isso nunca aconteceria com ele.E agora havia uma mulher que ele mal conhecia carregando um filho que, muito provavelmente, era seu.Ele passou a mão pelo rosto e res
O quarto parecia menor naquela noite.Lívia sentou-se na beira da cama, encarando as paredes descascadas do pequeno apartamento alugado. O silêncio era quebrado apenas pelo barulho distante de carros na rua e pelo tic-tac insistente do relógio pendurado acima da porta. Tudo ali era simples demais para um momento tão grande.Ela levou a mão ao ventre ainda plano.— Somos só nós agora — sussurrou.Não era a vida que havia imaginado. Nunca sonhara em criar um filho sozinha, muito menos começando daquele jeito: com medo, incertezas e um futuro nebuloso. Mas, mesmo assim, algo dentro dela se fortalecia a cada dia. Um instinto novo, feroz, que não admitia recuo.Na manhã seguinte, o enjoo veio mais forte.Lívia correu até o banheiro e se ajoelhou diante do vaso sanitário. O corpo tremia, o estômago se revirava, e a garganta ardia. Quando finalmente conseguiu se levantar, apoiou-se na pia, respirando com dificuldade.— Calma… — disse para si mesma. — Vai passar.Mas não passou.No trabalho,





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