Mundo ficciónIniciar sesiónClara é a secretária impecável que vive um amor proibido com Miguel Satamini, o CEO de vidro e aço. No escuro, eles se pertencem; na luz, ela é só mais um crachá. Mas Clara carrega feridas que não podem ser escondidas para sempre. Quando sua verdade vem à tona, Miguel terá de escolher: enfrentar a luz ao lado dela ou perder a única mulher capaz de atravessar sua escuridão. ✨ Uma história de paixão, dor e coragem para amar sem máscaras.
Leer más**NOTA DA AUTORA**
Este livro é resultado da vivência de pessoas reais. Aqueles que enfrentam o pênfigo foliáceo, conhecido como “fogo selvagem”, me deram coragem, dor e cicatrizes que o olhar apressado ignora. Embora a história seja de ficção, a sensação da ardência na pele, o peso da vergonha e a força de seguir em frente sob a luz pertencem àqueles que enfrentam isso diariamente. --- **PRÓLOGO** Não acenda a luz. Falei antes do clique. O dedo de Miguel parou no abajur. Ele levantou uma sobrancelha, o curioso rei do vidro intrigado com meu não. Prefere no escuro?, indagou, buscando entender. Assenti, e ele aceitou. Quem se considera no controle estranha quando precisa se submeter, mas calou-se. Talvez tenha pensado em jogo, timidez ou fetiche. Que assim seja. A escuridão se espalhou como uma cúmplice. Através das frestas, a cidade se pintava de um azul metálico: faróis se movendo, buzinas ao longe. A sombra destacava seus ombros, o aço se aproximando. Mãos que costumavam lidar com contratos tocaram minha pele com a delicadeza de um cristal. Quase não respirei. Era agradável, bom o bastante para me fazer esquecer. Mas meu corpo sussurrava em silêncio: não agora, não inflama, não arde. Ele me beijou devagar, sem plateia. Eu deixei que fizesse. Miguel pensa que controla tudo, mas naquele momento eu ditava as regras: onde, como, quanto. Na escuridão, existo sem diagnósticos. Sem rótulos. Sem o nome da doença colado na testa. Apenas Clara. A sombra não é capricho. É um escudo. Carrego um inimigo dentro de mim. Pênfigo foliáceo. Um nome longo para uma batalha íntima. Meu sistema imunológico ataca a ligação que une as células da pele, a desmogleína-1. Sem ela, a pele se solta, se abre, forma bolhas que estouram por conta própria. Vermelho vivo. Ardência. Febre. Cansaço. Até o vento pode ferir. De fora, quase ninguém percebe. No início, parece apenas uma alergia, cansaço. Depois, o peso das coisas simples se torna evidente: vestir-se, tomar banho, deitar. E há os sussurros ignorantes: Você está doente?. Não. Que pena, tão bonita... Não sou uma pena. Sou teimosia. Apenas não suporto holofotes. Aprendi a montar meu kit de batalha: maquiagem resistente, roupas largas, soro, pomada, gaze na bolsa. E um sorriso. O sorriso é uma armadura. Miguel não sabe. Acredita que eu gosto do quarto escuro. Ignora que luz demais revela mais do que desejo, revela uma trincheira. Naquela noite, deitada em seu peito, ouvi a respiração pesada de quem comanda andares e, por horas, se desarma. Ele adormeceu. Eu permaneci ali, entre ardência e coragem. Chegará o dia em que a lâmpada estará acesa. Não por ele. Por mim. Quando esse dia chegar, não haverá mais fuga. Ou Miguel me ama inteira, com feridas e cicatrizes, ou perderá a mulher que mostrou que até o vidro pode quebrar. ... O céu ainda não clareou e eu já estava de pé. Ele dormia tranquilamente, dominando o espaço. Lençol emaranhado, rosto sereno. O homem que poderia assustar um andar inteiro parecia um garoto perdido em seu próprio sonho. Afastei-me aos poucos. Vesti a camisa, negociando com a dor para não acordá-la. Revisei a bolsa: soro, pomada, gaze. A sobrevivência em forma portátil. No espelho do corredor, metade do batom borrado, metade resistência. O cheiro dele ainda permanecia em mim. E um lembrete discreto em meu ombro: nenhuma noite sai de graça. Desci em silêncio, com os saltos na mão. O corredor elegante tinha apenas o zumbido do elevador. Na rua, o frio de quase manhã cortou meu rosto. A cidade não dorme, apenas troca de turno. O asfalto molhado refletia a luz como um espelho rachado. Encolhi-me dentro do casaco. A pele agradeceu. Chamei um táxi. O motorista me avaliou pelo retrovisor. Roupa demais para a hora de menos. Não fez perguntas. Melhor assim. Informei o endereço e encostei a testa no vidro. As ruas desertas comprimiram meus pensamentos. O segredo pesava mais que a doença. Amar no escuro tem um gosto agridoce: com ele, sou desejo; sozinha, lembro o preço. Cocei o punho, um reflexo antigo. Aguenta. Sempre aguenta. Nunca é à toa. Cheguei ao meu prédio, o elevador rangendo. No espelho desgastado, a mulher que eu via era metade cansaço, metade teimosia. No banheiro, tirei a roupa devagar. Duas novas bolhas na lateral. Nada que eu não soubesse tratar. Soro, gaze, pomada. Uma coreografia já memorizada. Banho morno. Pedi que não ardesse. Algumas áreas chiavam. Toalha leve no corpo. Algodão largo. Respirei. Na cama, antes de dormir, fiz um pacto: no dia da luz acesa, não pedirei desculpas. Vou existir por completo. E então veremos se o rei do vidro sabe amar sem sombra e sem fuga. Adormeci quando a cidade começava a despertar. .... O despertador soou às sete horas. Meu corpo clamava por mais alguns minutos na cama, mas a vida exigia o contrário. Coloquei minha 'armadura' de rotina: um banho morno, um pouco de pomada, uma maquiagem feita com calma, uma camisa impecável e um salto que disfarça o cansaço. O espelho refletia um sorriso que transmitia controle. A dor não se manifestava. O controle, sim. E naquele andar de vidro, manter o controle era fundamental. No elevador da Satamini Corp, a pressa se fazia presente: assistentes, advogados, analistas. Eu era apenas uma engrenagem nessa grande máquina. A recepcionista me cumprimentou de maneira automática. Subi para o 42º andar, onde não havia espaço para erros. Miguel já estava lá. Com uma gravata firmemente ajustada, a cidade se refletia atrás dele. Não era mais o homem que havia sentido a respiração pesada em meu pescoço; agora, ele era o CEO. Clara, o relatório de fusões, disse ele, sem sequer me olhar. Sua voz soou incisiva. Entreguei o documento, mantendo a postura exata e o rosto neutro. Era um papel que eu havia ensaiado para interpretar. E marque a reunião com os investidores para a sexta-feira. Sem atrasos. Sim, senhor. “Senhor.” A distância estava claramente estabelecida. Ele separava os papéis: amante nas sombras, funcionária sob a luz fria. A arrogância como defesa, a frieza como seu uniforme. A equipe entrou. Todos mostraram curvaturas invisíveis diante do homem que personificava o vidro e o aço. Eu permaneci ali, carregando comigo uma luta que ninguém conseguia ver. Ele prefere evitar a luz. Aprecia o silêncio e o escuro. Entretanto, a luz é inevitável. Quando se acende, o espetáculo chega ao fim. O prólogo se encerra aqui, com a máscara ainda firme. E o que vem a seguir? É o que a luz nos revela. --- O QUE ESTE LIVRO TRAZ Não se trata apenas de um romance oculto entre um CEO frio e uma secretária que aprendeu a viver à sombra. É também uma imersão em uma doença rara, pouco compreendida e frequentemente julgada. Pênfigo foliáceo, conhecido como fogo selvagem. O que é: uma doença autoimune em que o corpo, por engano, ataca a desmogleína-1, a cola que une as células da pele. Sem ela, surgem bolhas delicadas que estouram, deixando feridas abertas. Como se sente: arde. Vestir machuca, o banho queima, o vento fere. Pode vir acompanhado de febre e fadiga. É viver sob constante alerta. O que o mundo percebe: quase nada, pois quem vive com isso aprende a camuflar. Maquiagem, roupas largas, desculpas. E há o estigma: É contagioso? Não. Que pena... Não buscamos pena. Almejamos respeito. Há tratamento? Sim, com corticosteroides, imunossupressores e biológicos, cada um com seu custo. Efeitos colaterais, exames e acompanhamento médico. Não se trata apenas de cicatrizar feridas; é enfrentar tanto a medicação quanto o preconceito. Por que contar essa história? Porque existem Claras além das páginas. Pessoas que trabalham intensamente, que amam nas sombras, que sorriem por trás de armaduras. A doença tenta roubar a pele; se permitirmos, também pode roubar o nome e a voz. Este livro busca restituir. Aqui encontramos paixão, quedas, resistência e coragem. Não é um livro sobre a enfermidade, mas sobre viver apesar dela. --- CARTA DA AUTORA PARA MINHAS LEITORAS No dia 12 de setembro, compartilho esta história com o mundo. Sim, há romance. Um homem feito de vidro e contratos, e uma mulher que apaga a luz não por estratégia, mas por necessidade de sobrevivência. Contudo, o verdadeiro foco do livro é outra coisa: a vida com aquilo que o mundo prefere ignorar, o pênfigo foliáceo. O fogo imprescindível é o que arde dentro do coração. Clara é tanto personagem quanto reflexo. Ela representa mulheres que escondem suas feridas sob a maquiagem, que trabalham mesmo com febre, que carregam gaze junto com o batom. Escrevi para elas e para todas que já se moldaram às expectativas alheias. A doença não define a identidade. A dor não extingue o desejo. A dignidade não é negociável. Escrevi também para aqueles que se tornaram sussurros, rótulos, objetos de pena. Para quem já se escondeu da luz. O amor que realmente importa é aquele que sustenta a verdade, e antes dele vem o amor-primeiro: o amor por si mesma, inteira, com cicatrizes e tudo. O que esperar? Lágrimas e suor. Silêncios que pesam como correntes. Pequenas descobertas, discretas vitórias que iluminam o dia. Mesmo na noite mais densa, sempre há uma fresta de luz. Talvez você não conheça a doença, mas certamente compreende o fardo invisível de carregar algo sozinha. Cada mulher enfrenta sua própria batalha. Desejo que, a cada página, sua carga se torne mais leve. Este livro não é sobre ser vítima. É sobre resistir. Não se trata de se esconder. É sobre existir sem pedir desculpas. Não é sobre fraqueza. É sobre se erguer quando o corpo clama por descanso. No final, não escrevi sobre feridas. Escrevi sobre vida. Sobre um coração que persiste. Sobre uma mulher que se recusa a apagar sua luz para se encaixar na escuridão de alguém. Se ao terminar a leitura sobrar uma certeza, que seja esta: somos maiores que nossas cicatrizes. Por que agora? Porque eu vi. Porque eu ouvi. Porque eu senti o silêncio que grita. Não pude permanecer em silêncio. Transformei em palavras, carne e páginas. Clara nasceu do que testemunhei e do que carrego dentro de mim. É ficção entrelaçada com realidade. Respira fora das páginas porque representa muitas que vivem entre nós. Enquanto escrevia, chorei, me irritei e me lembrei do que o mundo prefere ocultar. E encontrei coragem. Histórias como essa precisam existir. Este livro é um grito e um abraço. É um alerta de que ninguém precisa se esconder para merecer amor. É um convite para caminhar ao meu lado, às vezes desafiador, outras doloroso, mas sempre necessário. No dia 12 de setembro, a história é de vocês. Que cada página traga à memória: você não está sozinha e a luz também habita em quem persiste. ✨ Não somos nossas feridas. Somos a coragem de seguir em frente, mesmo com elas. ✨ Com sinceridade e dedicação, Val Veiga📓 Narrado por Clara O tempo passou, e com ele veio o nono mês o mais longo e o mais bonito da minha vida. A casa estava pronta, o quarto pintado de um lilás suave que Miguel dizia lembrar “céu depois da chuva”. Eu já não dormia direito, andava devagar, e parecia carregar o mundo dentro da barriga e talvez carregasse mesmo. Nas últimas semanas, o corpo começou a dar sinais. As contrações vinham tímidas, depois firmes. A pele, antes frágil, agora parecia escudo. E o medo… o medo tinha virado respeito. Miguel não desgrudava de mim. Ele falava pouco, mas olhava muito. A cada movimento da bebê, a cada respiração mais forte, o olhar dele vinha cheio de um amor que doía de tão real. Naquela madrugada, eu acordei diferente. Não era dor era certeza. A bolsa tinha rompido. O quarto ficou pequeno demais pro que eu sentia. — “Miguel...” — chamei, com a voz trêmula. Ele pulou da cama, meio perdido, meio rindo, meio desesperado. — “Agora?” — “Agora.” ---
📓 Narrado por Clara — Anos depois Dois anos. Dois anos desde aquele elevador, desde aquele “a partir de agora você é minha mulher”. E ele cumpriu. Cumpriu tudo até o que nunca prometeu. Ainda sou a secretária do Miguel Satamini. Secretária, assistente, esposa, cúmplice, tormento e calmaria, tudo junto no mesmo corpo. A gente se casou depois de muita insistência dele e umas boas noites de teimosia minha. No fim, percebi que não dava pra fugir de um homem que sabia exatamente onde eu me escondia, até quando o esconderijo era dentro de mim. Saímos do apartamento dele há pouco mais de um ano. Miguel quis uma casa maior, “com jardim e espaço pra gente brigar sem vizinho escutando”, ele disse. O apartamento antigo virou presente pros meus pais. Ele fez isso sem alarde, só me entregou as chaves e disse: > “Tua mãe merece um teto decente. E teu pai merece te ver feliz de perto.” Hoje, eles moram na mesma cidade que a gente. Minha mãe vive dizendo que nunca imag
📓 Narrado por Miguel Dias depois. Convenci Clara a voltar pra cidade comigo. Não foi fácil nada nela é. Mas, no fim, acho que foi a primeira vez que a teimosia dela e a minha jogaram pro mesmo lado. A gente ainda tá se ajustando. Dividir espaço, rotina, silêncio… Aprender o peso e o prazer de morar com alguém que te conhece por dentro. No começo, foi estranho. Ela acorda cedo, eu trabalho até tarde. Ela canta lavando a louça, eu odeio barulho na cozinha. Ela espalha os livros pela sala, e eu tento fingir que não ligo. Mas a verdade é que, de algum jeito, o caos dela encaixou no meu. E hoje depois de dias de calmaria e novas guerras eu resolvi levar ela no bar da Augusta. Aquele mesmo. Onde eu costumava ir pra tentar esquecer o que agora tá sentado do meu lado. — Certeza que é aqui? — ela perguntou, franzindo o nariz pro letreiro torto e pro cheiro de cerveja velha que escapava da porta. — Aqui mesmo. — respondi, com um meio sorriso. — Lugar simples,
📓 Narrado por Clara — Banheiro do Hotel A cama ainda nem tinha esfriado quando Miguel me pegou pela mão, sem perguntar, e me arrastou pro banheiro. O quarto ficou pra trás, mas o calor dele, não. O espelho denunciava o que eu era agora: mulher desfeita, viva, acesa, pronta pra tudo até pra queimar de novo. Ele ligou o chuveiro no máximo, e o barulho da água batendo no azulejo parecia o anúncio de que o jogo tinha mudado. Era outra rodada. Miguel me encostou de frente pra parede fria, e o choque só serviu pra acordar ainda mais o que já estava quente. Senti o corpo dele colar atrás do meu, firme, pesado, a respiração já descompassada no meu pescoço. A mão dele desceu, agressiva, apertando minha bunda sem cerimônia nenhuma. Meu peito grudou no azulejo, as pernas cederam, mas ele segurou meu quadril e não teve pedido de licença, nem promessa de delicadeza. Só o instinto cru, feroz, de quem sabe que agora não é mais sobre cura, é sobre possuir. — Gosta assim, Clara? — ele murmuro
📓 Narrado por Miguel Satamini — Noite de segunda-feira (continuação) A lua já estava alta, e o vento soprava forte, mas nenhum dos dois parecia sentir o frio. Ela ainda estava no meu colo, o rosto encostado no meu pescoço, o corpo inteiro tremendo não de medo, mas de emoção. Ficamos assim por longos segundos, respirando um no outro, tentando entender o que fazer com tudo o que ainda ardia entre nós. Eu passei a mão pelo cabelo dela, sentindo o sal e o cheiro de mar. Ela levantou o rosto devagar, e quando nossos olhares se encontraram de novo, não sobrou palavra. Só verdade. — Vem comigo. — pedi, com a voz baixa, rouca. Ela me olhou, hesitante. — Miguel... — Vem. — insisti, encostando a testa na dela. — Só dessa vez, me deixa te tirar do frio. Me deixa te amar… como se fosse a primeira vez. Ela respirou fundo, desceu do meu colo e a resposta veio num aceno quase imperceptível. Peguei a mão dela. As pontas dos dedos estavam geladas, mas o toque acendeu algo d
📓 Narrado por Miguel Satamini A maré subia devagar, cobrindo os nossos pés. O som das ondas era o único que se atrevia a existir entre nós. Ela não se moveu. Eu também não. Mas o mundo inteiro parecia inclinar naquela direção pra onde ela estava. Dei mais um passo. A distância que nos separava já não era física. Era o resto do que sobrou. O medo. A mágoa. O amor que ficou preso entre as palavras erradas que eu disse. — Clara... — chamei, e o nome saiu como confissão. — Eu venho tentando ensaiar o que dizer desde o dia que você foi embora. Mas não tem ensaio pra arrependimento. Ela respirou fundo, os ombros tremendo de leve. O cabelo grudava na pele molhada, e a lua iluminava as gotinhas que desciam pelo rosto dela não dava pra saber se era lágrima ou mar. — Eu errei. — continuei. — E não foi por covardia. Foi por medo. Medo de não te amar do jeito que você merecia. Medo de te olhar e ver tudo que eu nunca fui. Ela desviou o olhar pro mar, os olhos brilhando. O vento b
Último capítulo