Três anos após a morte do marido, Evelyn Carter finalmente encontra forças para esvaziar o armário que ele deixou para trás. Em meio a casacos, diários esquecidos e fotografias antigas, ela encontra um caderno escondido — com algo que não esperava: cartas escritas por Benjamin… mas endereçadas a outra pessoa. Confusa, Evelyn decide ir atrás do único homem que pode ajudá-la a entender o que realmente aconteceu: Lucas Hale, melhor amigo do marido e fotógrafo desaparecido desde o dia do funeral. O reencontro entre eles é tenso, carregado de silêncios que dizem mais do que as palavras — e de uma tensão que Evelyn não quer nomear. À medida que o mistério do passado de Benjamin se desenrola, Evelyn e Lucas são forçados a confrontar tudo que enterraram: o amor, a culpa, os segredos — e a verdade sobre o que os manteve separados por tanto tempo. “A Última Página que Escrevemos” é uma história sobre amor, luto, lealdade e a coragem de escrever novos finais — mesmo quando o começo foi destruído. Porque às vezes, o verdadeiro amor não é aquele que você perde... mas o que você quase teve coragem de viver. A última página que escrevemos é um romance arrebatador sobre perdas, segredos e recomeços. Quando Evelyn descobre cartas escondidas escritas por seu falecido marido, tudo o que ela acreditava se desfaz. Entre o passado que machuca e um futuro inesperado, ela precisará decidir qual história merece ser vivida.
Ler maisA casa ainda cheirava a ele.
Era um detalhe sutil — quase invisível — mas estava ali, impregnado nas paredes, nos tecidos, nos cantos empoeirados da estante. Um traço da colônia que Benjamin usava, misturado ao perfume adocicado da vela de baunilha, ainda intacta no aparador da sala. Evelyn nunca mais teve coragem de acendê-la desde a noite em que tudo desmoronou.
Três anos.
Três invernos, três primaveras, incontáveis noites em claro.
Milhares de horas convivendo com a ausência.
E mesmo assim, bastava abrir o armário para que tudo se partisse de novo.
Ela ficou parada, os dedos trêmulos na maçaneta. A porta escancarada deixava exposto não só os casacos pendurados, mas também o espaço invisível onde ele costumava estar. Tudo ali era presença e ausência ao mesmo tempo.
Desde o funeral, Evelyn evitava aquele armário.
Evitava o som seco das gavetas, o toque dos tecidos familiares, o risco de reviver o último beijo na porta, a última promessa comum de “volto logo”.
Todos disseram que ela precisava “virar a página”. Mas ninguém explicou como se faz isso com alguém que era o seu próprio livro inteiro.
Ela nunca gritou.
Não rasgou as roupas.
Não vendeu a casa.
Não foi embora.
Ela escreveu.
Como se as palavras fossem seu único fôlego. Como se, ao registrá-las, pudesse manter Benjamin vivo de alguma forma. Como se a dor, transformada em letra, a protegesse da loucura silenciosa que ameaçava todos os dias. Ela escreveu como quem sangra — sem glamour, sem alívio, apenas sobrevivência.
Mas agora… estava na hora.
De seguir.
De abrir o armário.
De olhar de frente.
Evelyn inspirou fundo e começou.
Retirou os casacos com calma, dobrando um a um, como se cada dobra carregasse uma despedida silenciosa. A lã cinza que ele usava para trabalhar. A camisa azul-marinho do primeiro encontro. A jaqueta de couro que ele amava e ela detestava. Um moletom antigo com o nome da universidade, tão gasto que mal se lia.
Peça por peça, ela criava espaço.
Foi quando um som seco interrompeu a quietude.
Algo caiu da prateleira superior.
Ela recuou, assustada. Abaixou-se devagar.
Um caderno. Preto. Capa rígida. Sem nome.
Parecia deslocado entre as roupas — um intruso no tempo.
Evelyn o pegou com cuidado, sentindo a textura áspera do couro envelhecido. A capa estava empoeirada, mas firme.
Sentou-se no chão, as pernas cruzadas, o coração acelerado.
Abriu.
A primeira página estava em branco.
Na segunda, uma frase solta, escrita com a caligrafia de Benjamin. Aquela mesma que ela reconheceria até de olhos fechados:
“Se você está lendo isso, é porque eu não tive coragem de dizer tudo.”
O mundo parou.
A garganta fechou.
Ela virou a página, e outra, e outra.
Eram cartas. Páginas e mais páginas preenchidas com palavras de despedida, de memórias, de sentimentos não ditos.
Mas… não eram para ela.
O nome no alto da primeira carta congelou sua respiração.
“Lucas.”
Seu estômago revirou.
Ela fechou o caderno com força, como se ele queimasse em suas mãos.
Lucas Hale.
O melhor amigo de Benjamin.
O mesmo que sumiu após o enterro sem sequer um adeus.
O mesmo que nunca respondeu suas mensagens.
O mesmo que — contra toda lógica — ainda habitava seus sonhos de forma inquietante.
Evelyn ficou ali, no chão frio do quarto, abraçada ao caderno como se aquilo fosse uma bomba prestes a detonar tudo o que ainda restava de intacto dentro dela.
O que Benjamin precisava dizer?
Por que não disse?
Por que Lucas?
As perguntas se atropelavam, mas nenhuma resposta vinha.
A única certeza que ela tinha era que precisava ler tudo.
Precisava entender.
Talvez fosse tarde demais.
Ou talvez não.
Talvez aquelas páginas ainda pudessem mudar tudo.
Asheville, Primavera.O sol da manhã atravessava as folhas verdes com uma suavidade quase irreal, desenhando pontos de luz pelo jardim dos fundos. Evelyn estava sentada na mesa de madeira sob a pérgola florida, com uma caneca de chá entre as mãos e o caderno aberto à sua frente. Rabiscava frases soltas — algumas ideias, trechos de diálogo, observações sobre a vida que acontecia ali, lenta e bonita, diante de seus olhos.Lucas aparecia pela porta com um copo d’água e o violão pendurado no ombro, os pés descalços e o cabelo desgrenhado pelo vento. Ele se aproximou com aquele sorriso que, mesmo depois de meses e certezas, ainda causava um leve tropeço no coração dela.— Nova história? — ele perguntou, beijando o topo de sua cabeça.— Talvez — ela respondeu. — Ou só lembranças que ainda não querem se transformar em passado.Ele sentou ao lado dela e apoiou o violão no colo.— Eu gosto disso. De saber que algumas coisas nunca viram passado de verdade. Elas só se tornam parte de quem a gent
A tarde caiu com uma delicadeza quase cinematográfica. A luz dourada do fim do dia invadia a varanda da casa em Asheville, desenhando sombras nas páginas do caderno de Evelyn, que permanecia aberto, mas esquecido ao seu lado.Ela e Lucas estavam sentados ali há algum tempo, em silêncio. Não aquele silêncio desconfortável de quem não sabe o que dizer, mas o silêncio bom, cheio de significado, onde as presenças falam por si.Lucas tocava violão baixinho, os dedos deslizando pelas cordas com familiaridade. De vez em quando, experimentava uma melodia, murmurava alguma letra, e depois soltava um riso leve quando algo saía errado. Evelyn observava tudo com um sorriso discreto, abraçando os joelhos contra o peito, os olhos tranquilos, mas atentos.— Você já percebeu que nossos dias juntos são quase sempre assim? — ela perguntou, num tom quase preguiçoso, como quem não queria quebrar a magia do momento.— Como? — ele ergueu o olhar.— Simples. Leves. Sem grandes acontecimentos, mas ainda assi
O domingo amanheceu devagar, como se até o tempo tivesse entendido que não havia pressa. Evelyn acordou com a luz dourada atravessando a janela e os braços de Lucas ainda ao redor dela. O mundo lá fora parecia distante, e por um instante, ela quis congelar aquele momento — a respiração dele tão próxima, o calor da pele, a tranquilidade no peito. Tudo ali fazia sentido.Ela deslizou da cama com cuidado e foi até a cozinha, onde começou a preparar o café. Havia algo de mágico naquela rotina simples. Nenhuma grande declaração, nenhum evento extraordinário. Só dois corações aprendendo a pulsar juntos, no mesmo ritmo.Lucas apareceu minutos depois, com os cabelos bagunçados e aquele sorriso preguiçoso que ela já conhecia bem.— Você acordou antes de mim de novo — ele murmurou, se aproximando para beijar seu ombro. — Está querendo me impressionar com café todo dia agora?— Pode ser — ela disse, rindo. — Mas, na verdade, estou tentando manter os pés no chão. Esses dias têm sido… intensos.—
A noite avançava devagar, como se soubesse que havia algo precioso demais acontecendo ali dentro daquela casa. Evelyn, ainda descalça, havia deixado o caderno sobre a mesa da sala e agora estava sentada ao lado de Lucas no sofá, as pernas encolhidas e os pés encostando nos dele, num gesto tão natural que parecia antigo.A janela entreaberta deixava entrar o som abafado da cidade e a brisa suave que mexia de leve as cortinas. Lucas segurava uma caneca com chá, mas já fazia minutos que não tomava nenhum gole. Ele estava apenas ali, presente, olhando para Evelyn como se ela fosse a coisa mais bonita que já tinha visto — e era.— Sabe o que eu pensei hoje, enquanto você falava no palco? — ele disse, a voz baixa, quase hesitante.Evelyn virou o rosto em sua direção, atenta.— Que você encontrou a sua voz. Não só como escritora, mas como mulher. Como pessoa. — Ele parou por um momento, e depois sorriu, daquele jeito meio torto, que ela já sabia que vinha acompanhado de algo verdadeiro. — E
Os dias que antecederam o lançamento do livro foram envoltos numa mistura de expectativa e serenidade. Evelyn surpreendia a si mesma com a calma que sentia. Talvez porque, no fundo, ela soubesse que o mais importante já havia acontecido: ela tinha se encontrado. O livro era consequência — bonita, sim, mas não mais essencial do que a mulher que ela havia se tornado ao escrevê-lo.Lucas estava mais presente do que nunca. Era quem a lembrava de comer nas tardes mais agitadas, quem filtrava os e-mails urgentes, quem a levava para caminhar ao fim do dia quando percebia que ela estava sobrecarregada. Às vezes, Evelyn o olhava e se perguntava se era mesmo possível alguém ser tão inteiro ao lado de outro. Mas Lucas não era inteiro apesar dela. Era inteiro com ela. E isso fazia toda a diferença.Na noite anterior ao lançamento, estavam sentados no sofá, cada um com uma taça de vinho. O silêncio entre eles era pontuado por olhares cúmplices e pequenos sorrisos.— Nervosa? — Lucas perguntou, aje
O lançamento do livro foi marcado para dali a algumas semanas, e, surpreendentemente, Evelyn não sentia pânico. Era como se algo dentro dela tivesse finalmente encontrado um ritmo próprio — não o da perfeição ou do controle, mas o da aceitação. Ela sabia que seu livro não era apenas uma história: era um pedaço dela mesma, e estava tudo bem que ele carregasse falhas, dúvidas, hesitações. Estava tudo bem, porque ela também carregava.Lucas foi seu maior aliado nos preparativos. Ajudou a escolher o vestido para a noite do lançamento — um azul profundo que ele descreveu como “a cor da sua coragem”. Ele também sugeriu trechos para ela ler em voz alta, planejou surpresas com a editora e até ensaiou com ela o que dizer no microfone.Mas o que mais tocava Evelyn não era a presença prática dele. Era a maneira como Lucas observava tudo, como se estivesse contemplando uma vitória que também era dele, mas que ele fazia questão de deixar brilhar apenas para ela.— Você nunca se escondeu — ele diss
Último capítulo