📓 Narrado por Miguel Satamini
A maré subia devagar, cobrindo os nossos pés.
O som das ondas era o único que se atrevia a existir entre nós.
Ela não se moveu. Eu também não.
Mas o mundo inteiro parecia inclinar naquela direção pra onde ela estava.
Dei mais um passo.
A distância que nos separava já não era física. Era o resto do que sobrou.
O medo. A mágoa. O amor que ficou preso entre as palavras erradas que eu disse.
— Clara... — chamei, e o nome saiu como confissão. — Eu venho tentando ensaiar o que dizer desde o dia que você foi embora. Mas não tem ensaio pra arrependimento.
Ela respirou fundo, os ombros tremendo de leve.
O cabelo grudava na pele molhada, e a lua iluminava as gotinhas que desciam pelo rosto dela não dava pra saber se era lágrima ou mar.
— Eu errei. — continuei. — E não foi por covardia. Foi por medo. Medo de não te amar do jeito que você merecia. Medo de te olhar e ver tudo que eu nunca fui.
Ela desviou o olhar pro mar, os olhos brilhando.
O vento b