Narrado por Clara
O silêncio que paira entre nós se arrasta, eternamente longo. É o tipo de silêncio que eu reconheço, aquele que é utilizado para desestabilizar quem está à frente. Já testemunhei chefes adotarem essa tática, vi diretores se vangloriarem por conseguirem pressionar seus subordinados. Mas Miguel não é como esses. O silêncio dele não é fruto de vaidade, mas sim uma estratégia calculada. Ele se mantém em silêncio porque não precisa articular mais palavras; seu silêncio é eloquente o suficiente para falar por ele.
Sinto meu braço pulsar sob o tecido da blusa. O desconforto aumenta, martelando em minha pele como se fosse um ferro em brasa. A vontade de movimentar o corpo, coçar ou até arrancar a manga que me aperta é intensa. No entanto, não me rendo. Aperto a caneta com firmeza, como se fosse um talismã, algo que me traria proteção.
Então, ele finalmente se mexe. Acomoda-se na cadeira, larga os braços que estavam cruzados e pronuncia, com um tom frio e calculado:
— Você pa