📓 Narrado por Clara
O tempo passou, e com ele veio o nono mês o mais longo e o mais bonito da minha vida.
A casa estava pronta, o quarto pintado de um lilás suave que Miguel dizia lembrar “céu depois da chuva”.
Eu já não dormia direito, andava devagar, e parecia carregar o mundo dentro da barriga e talvez carregasse mesmo.
Nas últimas semanas, o corpo começou a dar sinais.
As contrações vinham tímidas, depois firmes.
A pele, antes frágil, agora parecia escudo.
E o medo… o medo tinha virado respeito.
Miguel não desgrudava de mim.
Ele falava pouco, mas olhava muito.
A cada movimento da bebê, a cada respiração mais forte, o olhar dele vinha cheio de um amor que doía de tão real.
Naquela madrugada, eu acordei diferente.
Não era dor era certeza.
A bolsa tinha rompido.
O quarto ficou pequeno demais pro que eu sentia.
— “Miguel...” — chamei, com a voz trêmula.
Ele pulou da cama, meio perdido, meio rindo, meio desesperado.
— “Agora?”
— “Agora.”
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